NECESSIDADE DE
SEGURANÇA
“Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o
socorro?”- Salmo 121.1
Será que nunca nos
sentimos inseguros? Será que nunca nos sentimos sozinhos diante das ameaças de
perigo desta vida? E hoje em dia, em plena luz do sol ou da lua, assim como das
luzes da cidade, será que podemos usufruir desta garantia constitucional – o
direito de ir e vir – sem nenhum temor?
Será que os homens,
seja como cidadão comum, seja como representante do poder público constituído,
podem garantir-nos alguma segurança?
É certo que podemos passar por momentos de incerteza. Então, a quem recorrermos nessas horas? Quem é que
pode assegurar-nos segurança plena capaz de deitarmos e levantarmos em paz
todos os dias, inclusive poupando a nossa alma do mal?
O Salmo 121 pode
ensinar-nos algumas lições sobre esses momentos tão importantes de nossa vida. Mas,
antes, convém lembrarmos que este texto faz parte de uma coleção de salmos que
constitui um grupo distinto que, segundo os especialistas, por si só, já é um
saltério em miniatura, dada a variedade de temas, autores e prováveis datas de
origem.[1]
Esta coleção é composta de 15 cânticos que vão do Salmo 120 ao Salmo 134, e é intitulada de Cânticos de Romagem ou de Peregrinação, ou ainda Cânticos dos Degraus.
Esta coleção é composta de 15 cânticos que vão do Salmo 120 ao Salmo 134, e é intitulada de Cânticos de Romagem ou de Peregrinação, ou ainda Cânticos dos Degraus.
Mesmo sem condições
de poderem explicar satisfatoriamente a razão desses títulos, a verdade é que
esses cânticos eram frequentemente entoados, depois do retorno do exílio,
pelos adoradores que subiam a Sião para as festividades do ano judaico.[2]
Ao fazer parte desta
coleção, o Salmo 121 proclama uma
expressão de confiança individual em Deus, e implica numa situação de incerteza
onde qualquer possibilidade de perigo é contrabalançada pela segurança
ilimitada e indubitável no poder e na vigilância do Senhor.[3]
Em resumo, expressa uma expectativa confiante na intervenção divina.
De uma suposta
incerteza a uma manifestação de confiança total em Deus, o Salmo 121 ensina que
nesta confiança, Deus nos abraça com Sua graça e nos guarda e nos protege e nos
salva física e espiritualmente em total segurança. Mas será que cremos nisso? Será
que temos essa confiança em Deus, mesmo diante de tantos desafios em nosso dia
a dia?
Vamos refletir
sobre alguns passos dessa segurança que tanto necessitamos em nossa vida.
1. Necessitamos de segurança, e essa segurança vem
somente de Deus que nos socorre prontamente.
“Elevo os
olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR,
que fez o céu e a terra.” – Salmo
121.1,2
À primeira vista, parece
que o salmista está sozinho, inquirindo em seu íntimo, como um sentinela que
está vigiando por causa de um possível perigo: De onde me virá o socorro? Então,
vem-lhe a resposta, confiante: O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a
terra. A vista do salmista estava firmemente fixada no alvo final – Jerusalém;
e em Sião – o monte de Deus.
Isso significa que a expressão para os montes (verso 1) demonstra que Jerusalém
ficava na região montanhosa da Judeia, e que o templo também foi edificado sobre
uma colina – Sião. Como obras de seu Criador, os montes diante da vista do salmista - que, por sua vez, igualmente, é outra obra do seu Criador - inspiravam-no a refletir sobre Deus.
É a natureza inspirando o salmista a refletir sobre o seu Criador – as criaturas diante da obra de seu Criador confrontando a obra com o seu Criador (cf. Romanos 1.19,20), identificando-se mutuamente, assim como tão bem podemos identificar uma obra de Picasso, de Monet, de Becheret ou de Villa-Lobos, dentre tantas outras obras e seus autores, cujos estilos, traços e demais características tão pessoais estão ali em suas criações muito bem detalhados, indubitavelmente.
É a natureza inspirando o salmista a refletir sobre o seu Criador – as criaturas diante da obra de seu Criador confrontando a obra com o seu Criador (cf. Romanos 1.19,20), identificando-se mutuamente, assim como tão bem podemos identificar uma obra de Picasso, de Monet, de Becheret ou de Villa-Lobos, dentre tantas outras obras e seus autores, cujos estilos, traços e demais características tão pessoais estão ali em suas criações muito bem detalhados, indubitavelmente.
Como criaturas de
Deus, será que servimos como inspiração para que outros possam ver em nós esse
nosso Criador? Será que as pessoas podem acreditar nEle através de nós? Será que servimos de exemplo
para que outros possam crer em Deus por intermédio de nossos atos, de nossa postura? Será que realmente refletimos em nós a imagem de nosso Criador?
Diante dessa
grandeza da criação (Salmo 19), representada por estes montes, o salmista sente-se
tão confiante, mas tão frágil, que se preocupa com a sua segurança quando tiver
que apelar por um socorro urgente. Porém, de imediato, ele mira em Deus, na
certeza de onde virá seu socorro.
Em quem mirarmos hoje
quando necessitarmos de segurança? Nos políticos e suas políticas públicas? E o
cidadão comum como é que fica em meio a tudo isso?
Assim como nas áreas
de saúde, transporte, habitação, a segurança tem sido um tema recorrente que
nunca satisfez as reais necessidades desses cidadãos.
Mas os políticos e suas políticas públicas, ou seus programas de governo, sempre trazem à tona essas questões entra e sai campanha eleitoral, até vencerem as eleições. Aí esquecem suas promessas, e tudo continua como dantes no castelo de Abrantes. Nunca atacaram o cerne do problema. Nunca passaram da retórica. Assim, os problemas agravam-se a cada dia, assustadoramente, e o povo que se dane.
Mas os políticos e suas políticas públicas, ou seus programas de governo, sempre trazem à tona essas questões entra e sai campanha eleitoral, até vencerem as eleições. Aí esquecem suas promessas, e tudo continua como dantes no castelo de Abrantes. Nunca atacaram o cerne do problema. Nunca passaram da retórica. Assim, os problemas agravam-se a cada dia, assustadoramente, e o povo que se dane.
O cidadão comum fica
no meio desse fogo cruzado das retóricas, das balas perdidas e de tanta violência, como os alvos dos jogos
virtuais, sem a sua verdadeira identidade, mesmo pagando seus impostos, mas que ainda vive refém
do medo, da insegurança. De mãos atadas, lamenta sem saber para quem, e esta insegurança continua
a todo vapor. Assim, vivemos numa verdadeira guerra em busca de paz, mas sem o
temor de Deus.
Tudo isso sem citar
outros tipos de insegurança, como as crises econômicas mundiais, as guerras, e
a nossa própria insegurança física e moral em meio à tanta corrupção, e a
banalização da vida. À parte tanto pessimismo, mas, na verdade, essa é a segurança
dos homens.
É isso que temos a
oferecer para o bem do Reino e para o nosso próprio bem? Em quem realmente
estamos fixando os nossos olhos? Nas nossas próprias forças ou nas mãos de um Deus
que realmente nos protege e nos liberta?
Em vez de estarmos
fixando nossos olhos nas forças do nosso ódio, da nossa vingança, da nossa
ganância, sem nos importarmos com os estragos que isso pode causar-nos – respingando
até mesmo em quem não tem nada a ver com isso –, por que não voltarmos nossos
olhos, pelo menos por um só segundo, para
quem realmente tem poder para cuidar
de nós? Será que já não está na hora de despertarmos desse pesadelo?
O Salmo 124.8 diz
que o nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra. Deus é o
nosso socorro sempre presente. Por que não praticarmos isso realmente? Deus é a
nossa segurança. Por que não investirmos nEle antes de qualquer outro plano?
2. Necessitamos da segurança de Deus porque somente Deus
nos vigia incessantemente.
“Ele não
permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. É certo
que não dormita, nem dorme o guarda de Israel.” – Salmo 121.3,4
Vejamos alguns
exemplos de que Deus nos vigia e nos guarda constantemente e que estamos
seguros nEle, lembrando-nos de que esta é a primeira vez que aparece o verbo “guardar”
neste contexto.
Em 1Samuel 2.9
destaca-se que o SENHOR guarda os pés dos Seus santos, porém, os perversos
emudecem nas trevas da morte; porque o homem não prevalece pela força. A vigilante
e cuidadosa proteção de Deus é que nos garante a confiança nEle, “Porque o
SENHOR será a tua segurança e guardará os teus pés de serem presos.” – Provérbios
3.26.
Além disso, não é
possível que Deus permita que a insegurança nos afete, “O SENHOR olha dos céus;
vê todos os filhos dos homens; do lugar de Sua morada, observa todos os
moradores da terra, Ele, que forma o coração de todos eles, que contempla todas
as suas obras.” – Salmo 33.13-15. Ainda em Provérbios 15.3 diz que os olhos do
SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons.
A expressão Ele não permitirá que os teus pés vacilem (verso 3), entende-se
melhor: que Ele não permita que os teus
pés vacilem, pois significa um desejo, uma oração, onde “vacilar” quer
dizer “escorregar”, que, por sua vez, é uma figura de linguagem que indica a
proteção cuidadosa de Deus. Isso porque Israel é bem conhecida por seus
terrenos rochosos e escorregadios.[4]
Já a expressão É certo que não dormita (verso 4) é a certificação,
confirmando o texto do desejo ou da oração do verso 3, conforme exposto acima,
já que não dormita, nem dorme o guarda de
Israel, repete, nesta beleza poética, que, realmente, Deus nunca dorme, não
havendo o perigo de que o salmista seja esquecido.
Diferentemente de 1Reis
18.27, quando Elias ridicularizou sarcasticamente os profetas de Baal,
sugerindo que o deus deles estava dormindo, quando tanto precisavam dele.[5]
Por causa de nossa
postura cristã, alguém já disse que Deus está morto. Será que não estamos mesmo
matando esse Deus dentro de nós? Será que não estamos procurando subterfúgios,
na amarga ilusão da busca de uma falsa segurança?
Veja o mundo em
nosso derredor, as notícias nas mais diversas mídias, as ações dos homens, as
barbáries que se praticam... Será que Deus está nesse negócio? Será que Deus
realmente está vivo em nossos corações?
3. Necessitamos da segurança de Deus porque somente Deus
é quem nos guarda de todo mal.
“O SENHOR é
quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o
sol, nem de noite, a lua. O SENHOR te guardará de todo mal; guardará a tua
alma. O SENHOR guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para
sempre.” – Salmo 121.5-8
Neste texto, nota-se
que algumas promessas de proteção divina se avançam, sólida e surpreendentemente,
a cada versículo. Primeiramente, a insistência da citação do verbo “guardar”,
que, aqui, significa “proteger”, “blindar”, além de ratificar que o SENHOR é o
nosso protetor como uma sombra que nunca desiste.
Metaforicamente,
assim como a sombra projetada por uma pessoa acompanha essa pessoa
ininterruptamente, assim também é Deus com o Seu povo.[6]
Em resumo, somente o SENHOR é quem nos protege amplamente, constantemente, pessoalmente,
temporalmente, moralmente, espiritualmente, eficazmente, eternamente.[7]
O Salmo 127.1
alerta-nos que se o SENHOR não edificar a nossa casa, em vão trabalham os que a
edificam, e se o SENHOR não guardar a cidade, igualmente, em vão, vigia a
sentinela.
Já o Salmo 23.4a dá-nos
a garantia de que ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, não devemos
temer mal nenhum, porque o SENHOR está conosco. Isso não quer dizer que o mal
não existe. Nós não estamos livres dele. Mas Deus nos dá força, e protege-nos
contra ele, não nos deixando cair em tentação, livrando-nos dele.
Também não é que
devemos abandonar tudo, já que Deus vai fazer tudo por nós. Não, nós também temos
que fazer a nossa parte, e colocar Deus em primeiro plano; colocar Deus na
nossa frente, antes de tudo
Como quaisquer cidadãos
ou como homens públicos, e até mesmo como cristãos, devemos perguntar a nós mesmos como é que estamos
colocando Deus em nossa vida particular e em nossos projetos. Numa escala de
prioridades, onde temos colocado esse Deus como nosso guarda fiel?
Por que será que muitas
vezes nossa vida não vai bem? Não será porque vivemos procurando investir em
segurança equivocadamente, esquecendo que é o Senhor somente que nos livra do
mal e não os homens?
O Salmo 33.12 diz que
feliz é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para Sua herança. Seja como cidadão
comum, seja como pessoa pública, seja como cristão, que possamos descobrir as
maravilhas dessa segurança que Deus reserva a cada um de nós, e podermos viver em
verdadeira paz em todos os sentidos de
nossa vida.
_________________________
Notas
[1]
M’Caw, Leslie S. Introdução geral aos salmos 120-134: Os “cânticos dos degraus”.
In: O novo comentário da Bíblia. v. 1. Prof. F. Davidson (editor). São Paulo:
Vida Nova. p. 607
[2]
Idem
[3]
Idem
[4]
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica
do Brasil, 1999. notas. p. 707
[5]
Idem
[6] Idem.
p. 708
[7]
M’Caw, Leslie S. op. cit. p. 608