O material revela que muitos evangélicos americanos
têm opiniões “heterodoxas” sobre a Trindade, a salvação, e outras doutrinas.
Segundo os padrões dos conselhos mais importantes da Igreja primitiva, essas
posturas seriam consideradas heréticas.A mais recente pesquisa realizada pelo
Instituto de Pesquisas LifeWay é intitulada “Americanos acreditam no céu, inferno e em algumas
heresias”. Encomendada pela Ligonier Ministries e
publicada ontem (28), recebeu destaque em vários sites de conteúdo
evangélico.
Os pesquisadores fizeram 43 perguntas sobre fé,
abordando temas como pecado, salvação, Bíblia e vida após a morte. A pesquisa
feita com 3 mil pessoas tem uma margem de erro de 1,8% e seu nível de confiança
é de 95%. As principais conclusões do estudo são que embora a imensa
maioria – 90% dos evangélicos e 75% dos católicos – acredite que o céu é um
lugar real, cerca de 19% dos evangélicos (67% dos católicos) acreditam que
existem outros caminhos para chegar lá que não seja através da fé em Jesus.
Por outro lado, 55% dos evangélicos dizem que o
inferno é um lugar real, contra 66% dos católicos. Na média, os americanos não
parecem muito preocupados com o pecado ou em irem para o inferno depois de
morrer. Dois terços (67%) dizem que a maioria das pessoas são basicamente boas,
apesar de todos os seus pecados. Apenas 18% acredita que até mesmo pequenos
pecados podem resultar em condenação eterna, enquanto pouco mais da metade
(55%) dizem que Deus tem “um lado irado”.
A importância desse tipo de levantamento é a grande
influência que a igreja americana tem sobre a maioria das igrejas do mundo
ocidental. Segundo Stephen Nichols, diretor acadêmico da Ligonier, os dados
mostram “um nível significativo de confusão teológica”. Muitos evangélicos não
têm visões em harmonia com a Bíblia sobre Deus ou os seres humanos,
especialmente em questões de salvação e do Espírito Santo, acrescentou.
Alguns pontos têm variação expressiva dependendo da
tradição teológica a que a pessoa entrevistada pertence. Porém, em algumas
questões os resultados surpreendem. Em alguns casos, o problema parece ser mais
a falta de informação. Menos da metade (48%) acredita que a Bíblia é a
Palavra de Deus, sendo que 50% dos evangélicos e 49% dos católicos dizem que
ela é “útil, mas não uma verdade literal”.
Ao mesmo tempo, por exemplo, apenas 6% dos
evangélicos acham que o “Livro de Mórmon” é uma revelação de Deus, enquanto outros
18% “não tem certeza e acham que pode ser”. Possivelmente desconhecem que os
mórmons são uma seita e que, para eles, Jesus e o Diabo são irmãos, filhos do
Deus-pai, que vive em outro planeta.
Perguntados sobre a natureza de Jesus, um
terço (31%) disse que Deus, o Pai é mais divino do que Jesus, enquanto 9%
não tinham certeza. Além disso, 27% dizem que Jesus foi a primeira criação de
Deus, e outros 11% não tinham certeza.
No segundo e terceiro século, proeminentes teólogos
e líderes da igreja debateram por muito tempo sobre a natureza. O concílio
ecumênico da Igreja em Nicéia, no ano 325, e o concílio ecumênico de
Constantinopla, em 381 declararam sua rejeição a qualquer ensinamento que
defendia que Jesus não era um com o pai, da mesma substância. Logo, tratar
Jesus como um ser criado e menor que Deus-Pai não é um ensinamento cristão,
embora permaneça sendo ensinado por seitas como os mórmons e os Testemunhas de
Jeová.
Na mesma época, concílios ecumêmicos também
esclareceram que a Trindade era composta por Pai, Filho e Espírito Santo, sem
diferença de essência ou hierarquia entre eles. Quando questionados sobre a
pessoa do Espírito Santo, os evangélicos de 2014 revelam posturas ainda
problemáticas. Mais da metade (58%) disse que o Espírito Santo é uma força, não
uma pessoa. Enquando 7% disse não ter certeza. Sobre o Espírito Santo ser menos
divino do que Deus Pai e Jesus, 18% concordaram e o mesmo percentual respondeu
“não sei”. Já dois terços dos católicos (75%) responderam acreditar que o
Espírito Santo é apenas uma “força divina”.
A natureza humana e a salvação são outras áreas que
mostram confusão nas respostas. Dois em cada três evangélicos (71%) dizem que
uma pessoa será salva se buscar a Deus primeiro, e depois Deus responde com sua
graça. Uma percentagem semelhante (67%) disse que as pessoas têm a capacidade
de se converter a Deus apenas por sua própria iniciativa. Ao mesmo tempo, mais
da metade (56%) disse que as pessoas têm de contribuir para a sua própria
salvação.
Essa parece ser a questão que ainda suscita mais
debate. A tradição mais comum entre católicos romanos, ortodoxos e aguns ramos
protestantes defende que os seres humanos cooperam com a graça de Deus na
salvação. O ensinamento cristão histórico em todos os ramos é que qualquer ação
por parte do homem será apenas uma resposta à obra do Espírito de Deus.
Ao serem perguntados sobre a igreja local, 52%
acreditam que não há necessidade de pertenceram a uma igreja, pois buscar a
Deus sozinho tem o mesmo valor que a adoração comunitária. Ao mesmo tempo, 56%
disseram crer que o sermão do pastor não tem “qualquer autoridade” sobre eles.
Quarenta e cinco por cento dos entrevistados acredita que tem o direito de
interpretar as Escrituras como quiserem.
Teólogos comentam
A revista Christianity Today consultou
teólogos sobre os resultados da pesquisa. Para Nichols, a Ligonier apenas
está verificando o que muitos pastores já sabem: as pessoas não conhecem sua fé
a fundo.
Timothy Larsen, professor do pensamento cristão no
Wheaton College, afirma que isso só poderá ser revertido com mais discipulado
bíblico. John Stackhouse, professor de teologia no Regent College, em
Vancouver, é enfático: “Um sermão no domingo e um estudo bíblico simples
durante a semana não é suficiente para informar e transformar a mente das
pessoas para seguirem a teologia cristã ortodoxa.”
Ele acredita que é preciso mais empenho dos que
pregam para deixar claro o que a Bíblia ensina sobre essas questões-chaves.
Opinião parecida tem Beth Felker Jones, professora de Teologia no Wheaton
College: “Os líderes da Igreja precisam ser capazes de ensinar a verdade da fé
com clareza e precisão, e nós precisamos ser capazes de mostrar às pessoas por
que isso é importante para as nossas vidas.”
Howard Snyder, ex-professor de em vários seminários
conhecidos, enfatiza que a doutrina da Trindade não é um “conceito teológico
abstrato, mas uma verdade cristã fundamental que nos informa sobre o Deus que
adoramos, que somos como seres humanos, e toda a criação”.
Na análise do diretor da LifeWay, Ed Stetzer, o
evangélico médio “gosta de acreditar em um tipo de Deus quase cristão, com
doutrinas incompletas”.
Disponível em: http://renatovargens.blogspot.com.br/2014/11/heresias-que-os-evangelicos-acreditam-e.htmlAcesso
em: 05/11/2014