domingo, 18 de outubro de 2009

SEM DESCULPAS EVASIVAS

“Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-Me” – Marcos 10:21b

NOSSA VIDA é feita de escolhas. Pode até ser que terceiros venham nos influenciar, mas, no final, na hora de bater o martelo, somos nós mesmos que temos que escolher qual caminho seguir, seja em termos de ideais ou definição de toda uma vida que vale, em geral, para sempre. E isso nos trará sérias repercussões que podem deixar rastros dos mais variados possíveis para o resto da nossa vida. Amargos ou não, são rastros que absorvem as marcas de uma decisão definitiva que somente a nós pertence, já que temos que fazer a nossa parte por mais difícil que seja tomar tão extremada iniciativa. Muitas vezes isso se torna em grande e complicado dilema, uma incógnita que nos perguntamos se realmente vai valer a pena. Porém, a resposta só a teremos quando mergulharmos de cabeça, e irmos até o fundo, às vezes à custa de muitas lágrimas, posto que nada daquilo que seja sério nesta nossa vida seja adquirido, assim, como se diz, de mão beijada, subitamente. Ou seja, com facilidades. Sem contar que certas tomadas de decisão ainda podem respingar sequelas em quem estiver por perto ou ligado a nós, ou de um jeito ou de outro, interferindo em suas decisões e destino. É como se fôssemos postos à prova a todo instante num teste de resistência para podermos contar mais tarde, não se sabe para quem ou como se fosse um ótimo ensejo para uma reflexão, depois, que sirva talvez para nossos filhos ou para os outros de uma possível e futura consangüinidade ou mesmo para contarmos numa roda de amigos como experiência de vida. Ou ainda que sirva de pauta na mídia como um belo exemplo a ser especulado diante dos infortúnios do nosso tão atribulado dia a dia em que vivemos até mesmo atordoados diante de tantos conflitos e contrassensos. Só que muitas vezes muitas águas vão rolar, muitos corações vão sangrar, vão verter nossas seivas corpos adentro, e ardentes, dilacerando uma vida inteira que só continua graças ao incomensurável amor dAquele que sabe todas as coisas, como sempre, o SENHOR nosso Deus, depois de um rio que foi passando aos trancos e barrancos rasgando e deixando feridas neste desafio constante de querer seguir em frente. De querer seguir até o fim. De querer ser gente, não qualquer coisa à toa fincada na proa desta embarcação que voa de vento em popa sem pedir passagem nem medir esforços até aquele inevitável dia. Ou seja, a nossa vida tem que continuar, já que todos temos as nossas responsabilidades, posto que também vivemos de propósitos e de propostas que nos incumbiu o divino Criador antes mesmo da fundação do mundo. Antes mesmo de sermos criados, tendo em vista a onipresença e a onipotência deste nosso poderoso Deus que nos sonda e nos conhece desde os nossos próprios pensamentos, assim como todos os nossos próprios caminhos. Daí, a importância de sabermos discernir as vias e vielas, portas e janelas, assim como as veredas e entranhas destas nossas escolhas, por onde elas vão seguir, em que vão dar e nos levar depois, aonde e quando elas vão chegar, e se elas vêm mesmo de Quem no-las outorgou.

É certo que no roteiro desta nossa viagem muitas coisas nos chamam atenção e nos atraem. Muitas não passam de lisonjeiras tentações. É certo também que não conseguimos alcançar todas elas, nem tudo o que queremos, nesta vida, mas escolher uma significa renunciar à outra ou a muitas outras. Veja a história de Salomão. Ele não pediu os desejos comuns de um monarca qualquer, ou seja, vida longa, riquezas ou a morte de seus inimigos, mas, preferiu a sabedoria e o conhecimento a todos os outros bens deste mundo. A escolha de Salomão foi tão considerada por Deus e marcante no seu reinado que lhe foram dados tantas riquezas, bens e honra os quais não teve nenhum outro rei antes dele, e nem depois dele haverá, ratifica a Bíblia, cujos especialistas identificam este esplendor e poder do reinado de Salomão como o resultado da sabedoria divinamente conferida a ele. No decorrer de toda a nossa vida temos que fazer, desfazer ou refazer as nossas próprias escolhas, todos os dias, e sobrevivermos a todos estes procedimentos, superando obstáculos, dimensionando o tamanho dos nossos sonhos, das nossas metas e de como encararmos o nosso porvir, individualmente ou em nossa comunidade, seja como instituição pública ou privada, laica ou religiosa, ou como liderança em cada uma delas, e mesmo como pais dentro da nossa própria família, tendo em vista um projeto de vida criativo, que produza resultados positivos, que sirva de lenitivo e preencha possíveis deficiências ou quaisquer outras lacunas, e que contribua para o bem-estar e qualidade da nossa própria sobrevivência, e também dos outros, o que nos leva a refletir sobre qual o formato deste projeto que idealizamos para hoje e para os próximos anos de toda a nossa vida. Como andam as nossas escolhas para alcançarmos tais objetivos? Quais as personagens deste plano? Temos colocado estas escolhas diante de Deus? Qual é o plano de Deus na dimensão destes nossos planos e escolhas ou vice-versa?

Dizem os especialistas que, em sua sabedoria, Salomão prefigurou a nosso Senhor Jesus Cristo, que, por meio do Seu Reino próspero e pacífico, representa uma nova liderança da dinastia de Davi por ser também a sabedoria e o poder do Deus encarnado e em Quem estão ocultos todos os tesouros desta sabedoria e desta ciência. Consideram ainda que esta sabedoria e poder de Deus não são forças abstratas, mas, sim, qualidades pessoais que se manifestam plenamente na vida, nos ensinos, na morte e na ressurreição do Senhor Jesus. Como Filho de Deus, este mesmo Senhor, em Cristo, foi escolhido pelo Pai para resgatar um povo que este mesmo Deus escolheu para ser Seu. Moisés também foi escolhido por Deus para livrar o povo hebreu da escravidão egípcia, e levá-lo a uma terra fértil, boa e larga que mana leite e mel. Moisés e Cristo são comparados quanto à fidelidade e contrastados quanto à honra. Mediador humano do antigo pacto, Moisés foi chamado apenas para ser servo, embora um servo especial, e sem paralelo, do SENHOR. Tinha o privilégio de falar face a face com Deus e ver a Sua forma. Os israelitas traçavam até ele seu senso de posição e chamada como povo consagrado de Deus. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar”, diz a Bíblia. Porém, como agente da criação, Cristo merece a honra como o construtor divino de todas as coisas e, “como Filho, sobre a Sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim”, confirmam os estudiosos, assim como as próprias Escrituras, concluindo que, semelhantemente aos israelitas, os crentes são dedicados e chamados por intermédio do Senhor Jesus, o Mediador do novo pacto, “porque, assim, o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos.” Moisés e Cristo, ambos escolhidos e, obedientes a um chamado, também tiveram o privilégio de escolher, abraçando um mandado do SENHOR nosso Deus e Pai quanto à realidade da esperança e a confiança de um mundo melhor; de um povo regenerado, assim como a herança da vida eterna, longe das armadilhas do pecado. Herança esta que ainda hoje nos leva a refletir sobre as influências das nossas próprias escolhas em nossa vida presente e futura. A Palavra de Deus, segundo os Evangelhos sinóticos, narra o episódio de um jovem rico a quem o Senhor Jesus propõe uma decisiva escolha, quando este jovem Lhe pergunta o que faria para herdar a vida eterna, a que Jesus respondeu: ou segui-Lo, renunciando a todos os bens que possuía, vendendo-os todos, ou dando-os aos pobres por conta de um tesouro no céu; ou ficar com tudo, e não segui-Lo. Diante desta resposta do Senhor, a Bíblia diz que o jovem “pesaroso desta Palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades”. Então, Jesus disse a Seus discípulos: “Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus!”, enquanto Seus discípulos admiravam-nO ainda mais, e perguntavam entre si: “Quem poderá, pois, salvar-se?” Jesus, porém, olhando para eles, disse: “Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis”. É certo que a Palavra de Deus não está de brincadeira para com nenhum de nós, posto que ela trata da nossa própria salvação, de uma situação que, em especial, consta nos planos e propostas de Deus para cada um de nós. Deus nos deu a liberdade de escolha, sim, porque Ele não é nenhum impostor, nenhum déspota, mas também nos deu a responsabilidade para podermos fazer tais escolhas e arcarmos com as consequências das nossas decisões, conforme aquilo que Ele tem traçado para o bem de cada um de nós desde os mais remotos tempos, posto que Ele é pura benignidade. O Senhor não nos quer para o mal, e nem nos faz mal algum, nós é que nos entrincheiramos por caminhos estranhos e adversos, iludidos por falsos poderes, afastando-nos daquilo que Ele tem para nos oferecer. O salmista diz que a lei de Deus é uma delícia para ele, e ainda: “As Tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me inteligência para entender os Teus mandamentos”. Por piores que possamos estar em qualquer situação, por mais que as consideremos intransponíveis diante das dificuldades, devemos sempre ter fé e encarar tudo de frente porque aquilo que pensamos ser impossível para nós, para Deus tudo é possível, já que é o Deus da nossa salvação. O SENHOR é a nossa luz, a nossa salvação, a força da nossa vida. A quem temeremos? De quem nos recearemos? A Palavra de Deus é exigente, sim, porque ela é poderosa para nos salvar de qualquer caminho errado em que nos infiltremos ou por ignorância ou por arrogância nossa ou soberba própria dos homens. Nós só temos é que obedecer. Por tudo isso é que temos que tomar decisões radicais em nossa vida, pois se nos é dada a chance de escolher, também temos o privilégio de sermos escolhidos, e quando Deus nos escolhe, não há outro jeito, é segui-Lo, sem desculpas evasivas, e ponto final. Dos céus, o SENHOR nos chama, convocando-nos a sermos perseverantes na fé, a irmos em frente, se as nossas escolhas são realmente verdadeiras, ou seja, do agrado dEle. Ele também nos chama para os céus, uma pátria superior e eterna herança daqueles que são chamados, já que esta é uma herança e, se assim o é, não se ganha, não se conquista como prêmio, como recompensa por nossas boas obras, mas é dada gratuitamente, é dom de Deus, porque pela graça somos salvos, por meio da fé; não vem de nós nem das nossas obras, para que ninguém se glorie. A nossa salvação vem apenas do SENHOR nosso Deus por meio da soberana iniciativa divina, e não por esforços humanos. Nós só temos é que cumprir as nossas obrigações, fazer a nossa lição de casa; o resto é com o nosso Salvador, pelo Seu imenso amor intermediado pelos méritos do Senhor Jesus, não pelos nossos, pois não temos mérito nenhum que possa nos levar a sermos salvos por nós mesmos. Que o Espírito de Deus nos oriente neste sentido, hoje e sempre, diante de todas as nossas escolhas.

REFLEXÃO DE HOJE
“Então Jesus, olhando em redor, disse aos Seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas Suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus. E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.” – Marcos 10:23-27

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:73-80; Amós 5:6-8
Hebreus 3:1-6; Marcos 10:17-31

NOTAS
[1] Salmo 119:73; 139:1-24
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 432-438
[2] 1Reis 3:3-15; 2Crônicas 1:7-12; 1Reis 10:14-29
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 394, 395, 499
ELLISON, H. L. 1 e 2Crônicas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.417. Reimpressão
ELLISON, H. L. 1 e 2Reis: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.354. Reimpressão
[3] Isaías 11:1,2; Mateus 1:1; Colossenses 2:3; 1Coríntios 1:24,30; Romanos 1:4,16; Jeremias 2:7; Êxodo 3:8; Hebreus 1:2,10; 3:1-6; Números 12:5-8; Hebreus 2:11; Mateus 19:16-30; Marcos 10:17-31; Lucas 18:18-30; Salmo 119:73,77; 27:1-3; Hebreus 9:15; 11:16; 12:25; Salmo 3:8; 68:19,20; Efésios 2:8,9
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 804, 1466
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1353, 1354. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1009, 1010. Reimpressão