sábado, 14 de janeiro de 2012

NA DÚVIDA, PARE; REFLITA! E NÃO CULPE OS OUTROS

“E João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” – Lucas 7.18b,19.
(Leia todo o contexto – Lucas 7.18-23)


Quem dentre nós nunca passou por um momento de dúvida, mesmo no auge da sua vida? Mesmo nos melhores momentos da sua vida, quem nunca passou por um momento de desalento, de desilusão? Quem nunca passou por um momento de desânimo, por um desencanto qualquer?

Esses momentos interferem ou não no nosso amadurecimento pessoal ou espiritual? Na nossa fé? O que devemos aprender em meio a tudo isso? Os filhos de Deus também passam por isso?

Elias foi um dos maiores profetas do Antigo Testamento. Suas orações sacudiam o mundo. Elias teve a ousadia de condenar o estilo de vida pecaminoso dos reis e rainhas do seu tempo.

Elias enfrentou uma multidão de falsos profetas no monte Carmelo, e chamou fogo do céu diante de todos eles.

Tiago 5.16-18 cita Elias como exemplo de eficácia da oração como o justo que orou para parar de chover por três anos, e durante três anos e seis meses não choveu; e que ele orou de novo para chover, e o céu deu a chuva que fez a terra germinar seus frutos.

Mas esta imagem de Elias seria incompleta se não incluíssemos nela o seu período de desilusão e desânimo, que culminou no momento em que ele se escondeu numa caverna solitária, orando para que Deus acabasse com sua vida miserável.

Este texto que nós lemos em Lucas fala de João Batista, mas começa com um quadro semelhante ao de um profeta desanimado. Este contexto tem seu início no verso 17 deste capítulo 7, e vai até o verso 35. Vamos tratar agora apenas dos versos 18 a 23.

Aliás, os especialistas dizem que o estilo de pregação de João parece muito com o de Elias. Um jeito duro de tratar os incrédulos, tamanha é a certeza da sua mensagem.

João foi um predestinado. Conforme Lucas 1.13-17,57-66,76,77, João foi gerado por Deus para ser o precursor do Messias há muito anunciado. Por meio do seu ministério, “muitos se regozijarão”, pois seria chamado “profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor, preparando-Lhe os caminhos, para dar ao Seu povo conhecimento e salvação”.

João teve um ministério proeminente. João teve seu auge ao proclamar que o Reino dos Céus estava próximo. As pessoas se reuniam para ouvi-lo pregar e serem batizadas por ele.

João apresentava Jesus como o Messias, o Cordeiro de Deus que veio para tirar os pecados do mundo, e que ele não seria digno nem de desatar as correias de Suas sandálias.

João também denunciou o estilo de vida pecaminoso do governante local, Herodes Antipas 1º, que, dentre as suas maldades, mandou prender João e, depois, decapitá-lo. No final, este foi o preço do ministério de João.

João agora estava na prisão. O ministério de João estava numa pior. Humanamente falando, a carreira ministerial de João terminou em desastre. Seus seguidores se foram. Apenas uma pequena parcela de seus primeiros discípulos permaneceu com ele. João não mais pregava sobre a vinda do Messias. Seu ministério chegou ao fim.

Enquanto isso, a notícia dos milagres e dos prodígios de Jesus corria por toda a Judeia e por toda a vizinhança. O ministério de Jesus crescia em popularidade. Jesus estava no auge. Mas João permanecia preso; sem saber ao certo o que estava acontecendo do lado de fora da sua cela.

Josefo diz que o cárcere de João ficava numa fortaleza localizada na costa oriental do mar Morto chamada Macaeros ou Maqueronte. Era um lugar solitário e desolado.

Imagine uma pessoa com o estilo de João, que pregava com tanta veemência a vinda de um novo Reino, e que esperava por isso, mas que agora estava preso, sem saber o que realmente estava acontecendo lá fora! E, na sua opinião, esse Reino não acontecia. Será que João estava enganado? O que deu errado com a sua pregação? E que Reino seria esse?

Assim, as perguntas, e também as dúvidas e o desânimo, brotavam daquele lado escuro da prisão, atormentando a mente de João. Dizem que, apesar de ser um profeta, João estava sendo apenas humano demais. Talvez esperasse um reino humano, como tantos da sua época também esperavam. Um reino que tirasse o povo do jugo dos romanos.

Mas Isaías não havia prometido que com a vinda do Messias os cativos seriam libertados? No entanto, João estava preso! Também não dizia que esse Messias traria juízo sobre este mundo incrédulo, que Ele estabeleceria o Seu Reino invencível sobre o Seu povo e que nunca mais haveria sofrimento? Mas João continuava preso!

Essas mesmas dúvidas também tiveram os discípulos de Jesus sobre o Seu reino, pensando que seria um reino físico, político, cuja capital seria Jerusalém. Até mesmo na hora de Jesus subir ao céu eles ainda perguntavam quando seria o tempo do reino vindouro.

Ainda hoje nós também temos esse tipo de problema; de dúvidas; de desânimo. Se Deus é tão bom, tão amoroso, como é que Ele nos permite tanto sofrimento, tanta dor, tantas dúvidas?

Talvez João tenha aprendido com esses momentos de crise. E nós também devemos aprender com ele.

1. Na dúvida, pare; pergunte; reflita

“Esta notícia a respeito dele divulgou-se por toda a Judeia e por toda a circunvizinhança. Todas estas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro?” – Lucas 7.18-20.

“O Esperado” também pode ser um título para “o Messias”. Todo o ministério de João tinha sido preparado para anunciar que Jesus era esse Messias, o esperado Rei de Israel.

Mas na prisão ele começa a ter suas dúvidas. Estava ele enganado? Tinha entendido mal a palavra profética? João já não estava tão certo daquilo que acreditava? Sua fé estava em dificuldades?

Muitos dizem que não. Mas suas perguntas eram inesperadas, pois vinham de quem foi preparado como testemunha de Jesus (Lucas 3.16,17).

João não entendia por que Jesus não punia os pecadores, e realizava constantemente obras de misericórdia. Viria outro para cumprir as ameaças de julgamento que ele tanto enfatizava em suas pregações?

Daí, de pronto, João envia alguns dos seus discípulos para perguntarem a Jesus se Ele era aquele que estava para vir ou teriam que esperar outro.

Convém lembrar que o próprio João também foi questionado por uma comitiva de sacerdotes e levitas enviada pelos judeus para perguntarem quem ele era, logo no início do seu ministério. E, de pronto, ele responde: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (João 1.23).

Você também tem dúvidas? Você tem medo de expô-las, pensando que vai assustar os outros ou ser rejeitado por eles? Não esqueça: Na dúvida, pare. Pergunte, informe-se, e refaça uma nova rota. Não empurre com a barriga, porque, depois, o desastre será bem maior, e pior. João apressou-se logo em esclarecer as suas dúvidas. Quem sabe, esse não seja o seu melhor momento para mudar a sua vida? Para melhor, é lógico!

2. Jesus é fiel. Ele continua o mesmo, e nos aceita, mesmo com as nossas dúvidas

“Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho.” – Lucas 7.21,22.

Veja como Jesus respondeu às dúvidas de João. Ele poderia dizer: Sim, eu sou o Messias que você tanto anunciou, razão esta para a qual você nasceu, para proclamar a minha vinda. O que está acontecendo com você? Por que duvida? Leia a Bíblia, ô, incrédulo!

Mas não. Jesus continuou operando as Suas obras. Diante dos discípulos de João, Jesus continuou cumprindo a Sua parte. Jesus respondeu a João com ações sobre Ele já anunciadas, e em que o próprio João também se baseava nas suas pregações para falar do Messias, “o Esperado”.
Jesus utilizou-Se da mesma linguagem profética utilizada pelos antigos profetas que prediziam a Sua vinda. Jesus respondeu a João com a linguagem de profeta que, certamente, João entendia, já que ele mesmo também era um profeta.

E, com todos os termos utilizados na época pelos profetas, Jesus deu provas da confirmação daquelas profecias, ali, com Suas obras, prodígios e milagres.

E mandou que os discípulos de João testificassem do que viram: “Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho.” (Isaías 35.3-6a; 61.1).

Muitas vezes nós só acreditamos quando nos apresentam provas. Jesus não se importou com as circunstâncias de João. Ele poderia enviar anjos para abrirem as celas, e libertarem a João, como em outras ocasiões fizera com Seus discípulos, e ver tudo o que Ele estava fazendo. Mas não o fez. Apenas deu provas de Quem Ele era por meio das Suas obras. Jesus não deixou pairar nenhuma dúvida sobre quem Ele era. Ele era Aquele que estava sendo esperado, sim.

Mesmo com todas as dúvidas, inquietações, desânimo e desalento de João, Jesus continuava sendo o mesmo, assim como também continua sendo hoje, e será para sempre, operando em nós as Suas maravilhas; os Seus prodígios.

Ele não muda por causa das nossas dúvidas. Das nossas circunstâncias, inconstâncias ou fraquezas. Jesus continua aceitando-nos, mesmo com as nossas dúvidas, porque somente as Suas obras é que podem dirimir as nossas dúvidas, sem retóricas.

E também porque Ele é fiel. Em 2Timóteo 2.13 diz que “Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-Se a Si mesmo.”

3. Felizes os que realmente creem! E não culpam os outros por seus fracassos

“E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço.” – Lucas 7.23.

Obviamente que todos nós somos passíveis de dúvidas, erros e desânimos, principalmente diante de um mundo tão conturbado, liberal e relativista quanto esta nossa época.

Lógico que somos fracos. Às vezes, podemos cair. Mas devemos cuidar-nos, e seguir em frente, não importa o que esteja tentando impedir-nos, e não culpar os outros pelos nossos erros e fracassos.

O SENHOR mandou que Josué seguisse em frente. Ordenou a Elias que saísse da caverna, pois tinha mais o que fazer para ele. E Jesus, como o Filho enviado pelo Pai para a nossa salvação, mostrou a João as ações das Suas obras porque Jesus também devia seguir em frente, praticando-as. Era a Sua missão.

Isso só nos mostra que temos que seguir em frente porque, se temos uma missão a cumprir - e se ela foi ordenada por Deus -, Jesus, como nosso Salvador, está conosco, provando-nos e aprovando-nos. Abrindo as portas.

Ele jamais vai impedir-nos de caminhar. Ele jamais vai servir-nos de tropeço. São as provas do Seu amor para conosco. São as provas para as quais Ele foi enviado. E Suas provas são-nos reveladas.

Suas obras são as provas da razão da nossa fé. E estas provas por meio de Seus milagres são as credenciais de que Jesus mostra quem Ele é, e que já vêm sendo prometidas desde o Antigo Testamento, sobre as quais Isaías já falava àqueles que também estavam desanimados, e começando a duvidar.

Querem prova maior do que as obras da cruz? Creia sem duvidar, e seja realmente bem-aventurado!

As obras de Jesus são o antídoto contra todas as nossas dúvidas, desânimo, frustrações, crises e medo. Não importam quais sejam as suas circunstâncias ou dificuldades, olhe para as obras de Jesus. Olhe para Jesus, e veja o que Ele já fez e pode muito mais fazer por você. Suas obras mostram quem Ele realmente é. Coloque suas dúvidas nas mãos dEle. Ele não nos desampara.

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Fontes: BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA, 1999, notas. p. 1192
Studies in the Gospel of Luke. Disponível em www.johnstevenson.net. Acesso:11/01/12