domingo, 24 de maio de 2009

UMA QUESTÃO DE AMOR

“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1João 4:20)

ESTA QUESTÃO de amor é algo que não tem fim nunca, pois, de um jeito ou de outro, ela faz parte da nossa vida. Se formos um pouco mais atentos, veremos que se quisermos ouvir uma história bem contada de amor, temos que passar primeiro pela história da nossa própria vida, a nossa própria história, já que somos criaturas projetadas apenas por um gesto de amor por parte do divino Criador que, por amor e graça, envolveu nossos próprios pais neste Seu projeto de vida. Por isso é que esta questão de amor é algo que não tem fim nunca. Veja o acervo das obras e descobertas científicas sobre a vida, e literárias sobre o amor, e também outras manifestações artísticas sobre o assunto como o cinema, e até mesmo o teatro, sem falar de outros tipos de arte, e sem fugir de certos gêneros musicais, muitos deles até mesmo de muito mau gosto, mas que ainda fazem muito sucesso; ou mesmo as histórias da vida real entre homens e mulheres ou vice-versa. Nas poesias, então, isso vem de longe, e ainda vai dar muitos versos para se tirar da manga, e cantar e decantar, declamar e apaixonar – e, por que não, “reclamar”, de um amor não correspondido, de um amor possessivo, dominador, com recheio de tantos outros ismos e adjetivos? Este é o amor que se encanta entre os humanos, amor este que, em nome dele, muitos praticam coisas absurdas, fatalidades contra até a própria vida, ou de outrem, diferentemente daquele amor que só pode gerar e gerir coisas boas para nós mesmos e para os outros, nosso próximo e irmão, assim como o bem-estar e a harmonia entre as partes envolvidas cujos acordes se encaixam e se expandem em seu derredor porque este tipo de amor é contagiante. Claro que estamos falando agora deste amor de Deus, sem adjetivos e nem outros ismos; deste amor fraterno e verdadeiro; deste amor cristão que só tem comparação com o amor de Jesus. Este, sim, realmente, é contagiante, e não tem limites, posto que vai além das nossas próprias conveniências e outros interesses pessoais. Falando aos crentes de Corinto – mas que atinge a todos nós que também passamos por aqueles mesmos problemas daquelas pessoas, problemas relacionados a contendas e divergências, a litígios, desmandos e hostilidades –, e enfatizando a inutilidade dos dons quando exercidos sem o concurso do amor, o apóstolo Paulo personaliza este amor como uma pessoa que age de modo a que os crentes deveriam agir que, segundo alguns comentadores, o quadro total sugere uma descrição do próprio Cristo e também uma reprimenda àquela comunidade que estava fracassando na conduta de si mesma com relação a este assunto. O apóstolo ainda considera que este amor é a base de tudo, já que sem amor nada mais vale, além de o amor ser um dos termos mais dinâmicos aplicados pelo apóstolo para referir-se a uma vida santa habilitada pela plenitude do Espírito e, por ser a característica do cristão maduro, nele também se incluem motivação e ação. “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha (...)” , destaca o apóstolo, avaliando que o amor é o dom supremo, “um caminho sobremodo excelente”.

Assim como Paulo indicou que o amor é a condição essencial para o exercício apropriado de qualquer outro dom – já que o amor é a essência da própria vida –, como o único apóstolo vivo, e já com a sua idade avançada, com tons paternais, tanto no terreno da afeição como no da autoridade paternal que caracteriza a sua pregação, e por meio de palavras simples e claras, assim como na sua riqueza e profundidade de pensamentos, o apóstolo João, também conhecido como “o discípulo amado”, exorta-nos a vivermos em comunhão com Deus e com nossos semelhantes, que também são nossos irmãos. Sabe como? Praticando este amor cristão, pois, segundo ele, a prática deste amor é a nossa medida de que amamos a Deus e a nosso próximo ou mesmo a nossa condição de vida com Deus. Este amor é o reflexo de que somos filhos de Deus, já que “o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” ou ainda: “Aquele que não ama não conhece a Deus porque Deus é amor”. São palavras inspiradas do apóstolo João em que cada frase é uma pérola que exige atitudes de nossa parte sem necessidade de qualquer especulação. São as maravilhas de Deus na boca de um homem de Deus, que conviveu diretamente com o Filho de Deus encarnado e experimentou pessoalmente este amor de Deus na sua própria pele, ou melhor, no seu íntimo. “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o Seu amor. Nisto conhecemos que estamos nEle, e Ele em nós, pois que nos deu do Seu Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou Seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” É isso. Falar deste amor de Deus que diuturnamente age em nós, e sem o qual nem existiríamos por sermos frutos deste amor, assim como comentar as palavras deste apóstolo do amor, faltaria espaço, tendo em vista a utilidade e a profundeza deste amor em nossa vida cotidianamente. Sem mais delongas, este amor de Deus é a razão do nosso viver, em todos os sentidos, espiritual e naturalmente. “Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou Seu Filho Unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” Precisa dizer mais alguma coisa sobre este amor tão sublime? Sobre o amor de Deus Pai por Seu Filho Unigênito? Esta é a fonte do amor que nos une. Sim, esta é a mais incorruptível das histórias de amor que existem porque foi Deus que nos amou primeiro. Cada um de nós como crentes traz em si esta marca de uma história que nos une como família; a família de Deus. Se a perdermos de vista, esta já é uma outra história. Até mesmo por gratidão devemos também amar a este Deus por este Seu amor gracioso para conosco, e termos este amor como modelo em nosso dia a dia. Até que ponto temos levado isto a sério? Até que ponto temos sido imitadores deste Deus como Seus filhos amados? Sim, Ele nos ama, a você e a mim, e a cada um de nós particularmente, e não deseja que nos percamos por aí em meio às mazelas deste mundo. Até que ponto cremos nEle sinceramente?

Sem subterfúgios nem outros adjetivos ou mais ismos que possam embaralhar os seus objetivos, o amor cristão é um mandamento de Deus, e se assim o é, tem que ser cumprido, para não sermos desobedientes e cairmos em pecado, posto que se Deus é amor, os Seus filhos devem ser semelhantes a Ele na prática deste amor fraternal – a nossa obrigação permanente, se somos cristãos realmente. Por isso é que os especialistas sustentam que, em amor por aqueles que não amavam, o Pai deu o Filho, e o Filho deu Sua vida, e o Pai e o Filho, juntos, enviaram o Espírito para salvar os pecadores da miséria e levá-los à glória. Segundo estes estudiosos, crer e desfrutar desta tremenda realidade deste amor divino sustenta o nosso amor por este Deus e pelo nosso próximo, já que este amor é a marca registrada e indispensável do cristão, que deve ter como característica dar a sua própria vida em favor dos outros, sejam eles quem forem, porque ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos outros. Veja que isso não é retórica. É a realidade de um amor sacrificial que envolve dar-se, gastar, e até empobrecer-se, pelo bem-estar do próximo. Quem está disposto a isso nestes nossos tempos do império do egoísmo, do cada um por si, e o resto que se esgane? Veja a situação deste mundo, tantas necessidades, guerras, misérias, intolerâncias; tanta ignorância; tanta sede e fome, principalmente espiritual, e aqueles que se dizem poderosos esnobando! Você está disposto a doar sua própria vida em favor do seu próximo, seja ele quem for, assim como fez aquele samaritano para com um dos seus tradicionais inimigos? Será que estamos dispostos a abraçar uma total ausência de interesses próprios diante de toda e qualquer situação que possa despontar em nossa frente e nos doarmos total e desinteressadamente a nosso próximo? Quem aceita estes desafios? Oremos, pois, para que este Deus de amor por meio de Seu Filho Jesus Cristo nos envie o Seu Espírito para nos encher desta Sua graça para podermos cumprir este primeiro e grande mandamento, exatamente como o próprio Jesus ensinou.

REFLEXÃO DE HOJE

“Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o Seu amor. Nisto conhecemos que estamos nEle, e Ele em nós, pois que nos deu do Seu Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou Seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dEle temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão” – 1João 4:11-16,19-21

LEITURAS DE HOJE

Salmo 98; Isaías 41:17-20
1João 4:11-21; João 17:6-19

NOTAS
[1] 1Coríntios 13:4-8a; Provérbios 10:12; Efésios 4:32; 1Coríntios 10:24; 2João 4; Gálatas 6:2
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1362, 1363, 1513
PROCTOR, W. C. G. As Epístolas aos Coríntios: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1210, 1211. Reimpressão
[2] 1João 4:7-10,12-16,19; Efésios 4:32-5:2; 1João 3:16; João 17:9,11,12,15,16; 10:14,15,27-29
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1513
DRUMMOND, R. J.; MORRIS, Leon. As Epístolas de João - 1João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1436. Reimpressão
[3] Levítico 19:18; Mateus 22:34-40; Romanos 13:8-10; 1Coríntios 13:1-13; João 14:15,21,23; 1João 5:3; Lucas 10:25-37; João 15:12,13
MACLEOD, A. J. O Evangelho Segundo São João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1094. Reimpressão