terça-feira, 13 de abril de 2010

ETERNOS APRENDIZES

“Persiste em ler, exortar e ensinar. Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos” – 1Timóteo 4:13,15

DEPOIS da chamada fase tatibitate, ao passar para a idade dos porquês, meu filho, como qualquer outra criança, sempre nos fazia, assim como ainda faz, perguntas que sempre nos surpreendem, não somente por nos depararmos com a sua perspicácia no seu jeito de inquirição e curiosidade diante das coisas que vem descobrindo no seu dia a dia, mas também por, muitas vezes, nos forçar a optar por uma melhor saída no sentido de darmos uma resposta coerente, de acordo com a sua pergunta, e que possa do mesmo modo alcançar o seu entendimento, tendo em vista ser ele ainda uma criança, e de pouca idade.

Por sua vez, quando ele, então, argumenta alguma coisa e a gente pergunta por que ele pensa desse jeito, ele simplesmente responde “porque sim”, e pronto, sem nem uma outra alternativa ou explicação mais acurada. E a gente fica, assim, sem muito entender, alertando-lhe para que ele especifique melhor cada um do seu detalhamento sobre aquele determinado assunto para que possamos apreendê-lo.

Assim também caminha a humanidade em meio a seus sonhos, reptos e jornadas diárias, metas e dúvidas, perguntas e respostas cujos resultados nem sempre estão de acordo com aquilo que deseja ou planeja. Porque todos queremos as coisas do nosso próprio jeito, porque é assim, e ponto. Surpreendentemente, muitas coisas ainda estão dando errado, talvez porque não procuramos a resposta corretamente ou porque quem a tem, se é que realmente tem, não nos quer dar, ou não sabe dar, sabe-se lá por quais razões, ou porque não queremos encontrá-la e nem queremos saber, sabe-se lá também por quê. Isso ocorre não somente no nosso ambiente como sociedade em geral ou mesmo como comunidade segmentada em nossos nichos sociais, mas também individualmente como ser inserido em nossos espaços culturais apreendidos com o passar dos nossos anos, espaços estes do mesmo modo nem sempre em equilíbrio com o nosso tempo de vida natural e o saber que deveríamos ter adquirido, não excluindo aqui até mesmo o nosso amadurecimento espiritual.

Ainda diante das tantas incógnitas destes nossos tempos em que impera um liberalismo avassalador, tudo nos parece tão confuso em meio a este relativismo destes nossos dias, já que às vezes nos sentimos literalmente abandonados no meio de tantos caminhos, de uma encruzilhada que nos deixa à deriva no sentido de qual deles deveríamos seguir na mais segura e perfeita paz, mas que, na verdade, só nos impossibilita de refletir com clareza sobre os tantos desafios deste nosso mundo, tanto espiritual e material.

Muita vez não entendemos e nem conseguimos responder a tantos porquês, mesmo que muitos deles, atuando dentro de nós, não nos deixam calar. Muita vez ainda agimos como meninos, imaturos e ignorantes para entender ou mesmo responder a todos os desafios ou a todas as provações que se nos arrostam. São indagações que nos cutucam sem parar, já que nem às tais inquietações estamos preparados para enfrentá-las satisfatoriamente. Desde os nossos próprios filhos, dentro da nossa própria casa ou dentro de nós mesmos, no seio da nossa própria família, e até mesmo no íntimo dos poderes públicos e privados, laicos ou não, enfim, na nossa comunidade, no nosso convívio espiritual, tudo isso só nos leva a questionar por onde é que anda aquele conhecimento que nos liberta, aquela Verdade. Por onde anda aquela resposta que nos satisfaça plenamente? Será que estamos prontos para encará-la de frente, e sem tergiversações, e partirmos para uma nova vida, segura, definitiva e sem falácias, conforme os desígnios de Deus? Ou será que vivemos como no vaivém de uma valsa, conforme a música toca, ou à mercê do vento, conforme ele sopra, neste oba-oba sem pé e sem cabeça, sem nenhum receio de alguma tempestade ou tsunami, e até mesmo de um descompasso, neste imenso e emblemático terreno arenoso e movediço desta nossa vida que se esvai como um líquido que flui entre os dedos? Até que ponto e até onde resistiremos firmes ante nossa arrogância longe das incógnitas ou desequilíbrios? Será que nos garantimos a nós mesmos nesta corda bamba? Até quando?

A Bíblia diz que se conhecermos a Verdade, ela nos libertará. Mas que Verdade é esta? Nós a conhecemos realmente? Nós cremos nela sinceramente? E que conhecimento é este? Noutra parte também está escrito que Jesus é o caminho, a Verdade e a vida, e que ninguém irá a Deus Pai, senão por Jesus, posto que a graça e a verdade vieram por meio deste mesmo Senhor Jesus que é o Verbo, ou seja, a Palavra de Deus, que Se fez carne, e habitou entre nós como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de Verdade. “E a glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse.” Pela graça de Deus, muitos testemunharam esta Sua glória, seja no deserto, no tabernáculo, no templo, e na transfiguração, e este termo deve ser aplicado somente a Ele, o Deus Supremo, Criador e Governador do universo diante de Quem todo joelho deve curvar-se, além de que este Verbo feito carne manifesta plenamente a realização graciosa da aliança e o caráter de Deus como guardador desta aliança.

Assim como nos tempos do exílio o SENHOR transmitia por meio de Seus profetas palavras de conforto, e de uma especial esperança, assim como também de uma inesgotável alegria ao Seu povo escolhido, do mesmo modo devemos encontrar uma razão maior e especial por meio de uma ação eficaz e também peculiar deste mesmo Espírito de Deus para proclamarmos esta Verdade ainda hoje, tendo em visto que esta Mensagem de conforto, de forma alguma depende de nossos esforços apenas e tão somente, mas provém, antes, da misericórdia soberana e divina, posto que “toda a carne é erva e toda a sua beleza, como a flor do campo”, cai e seca. Na verdade, somos como a erva, e vã é a nossa esperança, senão confiarmos no SENHOR Deus Todo-Poderoso cuja redenção perdura abundantemente. E em meio a tudo o que é perecível, mutável, a Sua Verdade permanece para sempre.

Embora a salvação não seja obtida por meio de conhecimentos intelectuais, como erroneamente pensavam os gnósticos, mas, sim, por meio de um relacionamento vital com o Senhor Jesus e do compromisso com a Verdade que Ele revelou,além de ser dom de Deus - porque somente pela graça é que somos salvos,por meio da fé-, em nosso dia a dia jamais devemos deixar de sustentar que o ensino de Cristo, que é a Verdade, é que nos torna livres da escravidão do pecado.Mas como sustentar seguramente, e de acordo com a Palavra, estas verdades divinas se não estivermos capacitados para um ensino adequado? Todos somos chamados? E, se assim o somos, todos estamos preparados?

Se “ministério” significa “serviço” prestado a Deus ou às pessoas, tendo como alvo a edificação de indivíduos com vistas à maturidade coletiva em Cristo, pelo mesmo e único Espírito, nós também devemos cumprir a nossa parte “para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”, neste contexto de tanta incredulidade e apostasia, heresias e falsas profecias em que os desafios nos afrontam a cada dia, provocando a razão da nossa fé.

Hoje, e mais do que nunca, exigem-se melhores formações ministeriais, não como se formam líderes naturalmente fortes que sabem como administrar um negócio ou empreendimento - as coisas de Deus não são um “negócio”, um toma-lá-dá-cá ou um tipo de franquia, com objetivos meramente pragmáticos não considerando o processo de um resultado a partir das perspectivas de Cristo, não terrenas, dos homens, não-bíblicas nem espirituais. Obviamente que não, mas devemos estar preparados, sim, estudando sempre, como diz um dos princípios dos reformadores, reformados, mas reformando sempre, já que a Palavra de Deus não é estática, extemporânea, mas viva, atual e atuante, “divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”, em todos os tempos e lugares.

Hoje, e mais do que nunca, devemos procurar apresentar-nos a Deus aprovados para o ministério a que formos chamados, mas como obreiro que não tem de que nos envergonhar, “que maneja bem a Palavra da Verdade”. O próprio Paulo exorta Timóteo à fidelidade e diligência no ministério, insistindo para que ele persista em ler, exortar e ensinar. “Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos”, aconselha a seu amado filho na fé e fiel colaborador no seu ministério, preocupado com a preservação e propagação da verdade do Evangelho, e a promoção e manutenção de uma salutar conduta cristã por parte dos que o pregavam, assim como dos que criam.

Entretanto, para que se ensine, também é necessário que se aprenda, que estude e muito, para que os ouvintes apreendam os tais ensinos. É necessário que seja um eterno aprendiz. Há quem critique a proliferação dos cursos de teologia, duvidando da sua qualidade e impingindo neles um péssimo desempenho desta massa de novos formandos, mas também há quem diga que devemos consumir-nos no estudo e na comunhão com Deus. É o que afirma MacArthur, Jr, confessando que ele tem um lado público que a congregação vê, mas que também tem um lado particular que só Deus conhece. “Embora eu só possa pregar três horas por semana, estudo trinta. Essas horas gastas todas as semanas na presença de Deus são um privilégio elevado e santo”, destaca.

A necessidade de estudar para a nossa formação ministerial é tão premente em nossos dias como para qualquer outra formação secular, só que de maior responsabilidade, posto ser das coisas do alto, e que Deus usa a pregação como principal meio humano para dispensar Sua graça pela qual Ele salva pessoas e transforma vidas, lidando com o homem como um todo, não com apenas um de seus detalhes particulares. E isso começa dentro da nossa própria casa com nossos próprios filhos, já que esta mesma Palavra de Deus alerta-nos para que eduquemos nossas crianças no caminho em que devem andar para que até quando envelhecerem não se desviarão dele. Também o profeta Oséias já alertava que o povo de Deus estava sendo destruído por falta de conhecimento - do conhecimento de Deus, que, segundo os eruditos, é inseparável da Lei de Deus.

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[1] João 8:32; 1:14,17; 14:6; Isaías 40:5; Romanos 6:14,18,22; Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 831; FITCH, W. Isaías: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 718, 1228. Reimpressão; Êxodo 16:1-10; 33:18-23; 40:34,35; 1Reis 8:1-11; Mateus 17:1-5; Gênesis 24:27; Salmo 25:10; Provérbios 16:6; Êxodo 34:6; Salmo 26:3
[2] Isaías 40:6-8; Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1244; João 18:37; Efésios 2:8
[3] Efésios 4:7-16; 1Coríntios 12:11;1Timóteo 2:4; 3:1-13; Tito 1:6-9;2Timóteo 2:15; 3:16; 4:1-5
[4] 2Timóteo 2:15; 4:13-16; 1:1ª; STIBBS, A. M. As Epístolas a Timóteo e a Tito: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1311, 1312. Reimpressão. Provérbios 22:6; Oséias 4:6; 6:6; 8:12; Adaptado de John MacArthur, Jr., “Wanted: A Few Good Shepherds”, Masterpiece (novembro-dezembro, 1989), 2-3, e MarcArthur, Then Reasons ! Am a Pastor”, Masterpiece (novembro-dezembro, 1990), 2-3.