terça-feira, 8 de setembro de 2009

ABRE-TE!

“E, levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente” – Marcos 7:34,35

OU COMO PESSOA, individualmente falando, ou mesmo como nação ou como qualquer outra das nossas comunidades ou instituições de hoje, estamos sempre envolvidos com as nossas próprias linguagens como se estivéssemos sido encaixados em compartimentos muita vez adaptados a nossas próprias considerações, apreciações estas eivadas de julgamentos, manias e conflitos por nós mesmos inventados, talvez com medo de sermos atingidos por situações diferentes das que já estamos acostumados, desconstruindo, assim, antigos e vigentes conceitos. Situações estas que nós mesmos designamos por conta de uma pseudofelicidade, de acordo com o que cada um de nós pensa sobre o que vem a ser um genuíno e pleno conforto para nós mesmos e também, quem sabe, para os outros. Com receio de um mal-estar geral, talvez até mesmo por pura ignorância ou por ações do maligno, metemo-nos nas brenhas das tradições, costumes, segredos e tantos outros códigos gerados por nós mesmos com o intuito de garantirmos a nossa própria sobrevivência doa a quem doer neste mundo abarrotado de tantas ciladas. Em geral, fazemo-nos prisioneiros de nós mesmos sem condições de enxergar a realidade das coisas em nossa volta, tornando-nos reféns de quem jamais pensávamos que pudesse ser detentor de tal poder. Não vigiamos, deixando-nos seduzir pelos artifícios dos nossos opositores. Não tomamos as devidas precauções, e subestimamos os outros como se estivéssemos por cima de todas as coisas, desconsiderando até mesmo os possíveis falsos líderes. Não que não devamos lutar persuasiva e insistentemente por aquilo que cremos, se é que temos alguma fé pela qual valha a pena persistir. Como se fôssemos inatingíveis, referendamos o que pensávamos que jamais poderia nos alcançar ou, um dia, deteriorar-se. Assim, perdendo a nossa referência, caímos num mesmo saco de pancadas nesta guerra dos mundos que parece não ter fim. O grande dilema é se estamos prontos para encararmos sozinhos tantos infortúnios ou se estamos neste mundo como se cada um fosse e agisse apenas e tão somente para si mesmo ou como se fôssemos todos para cada um de nós ao mesmo tempo. E daí, como é que ficamos? Depende de cada um de nós? Mas, será que cada um de nós, acostumado com o seu contexto de cada dia, tem condições de se levantar contra toda a nossa inércia, natural e espiritual? Será?! Haja vista o cenário que estamos experimentando em nossos dias, até mesmo do lado de dentro da nossa própria porta, e as peripécias deste mundo para poder se autossustentar diante de tantos desafios e derrocadas provocados pelas posturas do próprio homem. E isto vem desde que o mundo é mundo, principalmente quando nele entraram os homens com suas histórias mirabolantes; com o seu histórico corrupto, e decaído, há muito tempo!... Eis o contraste entre os sábios e os insensatos. Enquanto aqueles percebem o lado positivo de uma mudança, de uma correção, não vivem na defensiva, não se ofendem facilmente, e, por meio da humildade, responsavelmente, se emendam, e crescem. Os outros, porém, por sua vez, resistem ou até mesmo odeiam mudanças ou admoestações; egoisticamente, persistem de olho no seu próprio umbigo. Mas por onde anda a nossa sabedoria?

A Bíblia diz que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, e, destacando o seu valor, compara esta sabedoria com os mais desejáveis símbolos da riqueza, porém, advertindo contra o materialismo, obviamente. “Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres o teu ouvido atento à sabedoria; e inclinares o teu coração ao entendimento; se clamares por conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o SENHOR dá a sabedoria; da Sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento” É Deus que nos provê as necessidades para a devida interpretação da nossa realidade. Até que ponto estamos sensíveis a isso ou será que somos tão surdos e mudos em relação a estes princípios tão básicos que não necessitamos de uma palavra amiga, de alguém que nos oriente, de alguém que nos conduza a algum conhecimento que nos edifique, ou até mesmo, e mais ainda, da própria Palavra de Deus? O salmista diz que a Palavra de Deus é lâmpada para seus pés e luz para seu caminho. Que tal fazermos nossas estas sábias palavras, já que a revelação de Deus, por meio de Sua Palavra, ou seja, do Seu próprio Evangelho, provê o discernimento que nos guia, fazendo com que não tropecemos nas trevas, assim como considerava o próprio salmista? Que tal abrirmos o nosso coração e deixarmos Deus trabalhar dentro de nós, partindo do mais íntimo do nosso ser, pela obra transformadora do Seu Espírito, e, daí, contagiarmos todo o nosso derredor? Que beleza, não?! Esta é a única obra que pode mudar o homem; mudar você, a mim, e a todos nós, e, portanto, mudar o mundo. Você crê nisso? Então, arregacemos as mangas, e mãos à obra!

Na epístola de Tiago – analisada pelos especialistas como uma pequena obra, mas rica em conselhos práticos do começo ao fim, posto que é considerada como literatura de sabedoria, uma diatribe e uma exortação moral – , ao ensinar uma cristologia elevada e destacar a importância de lidar com a aflição do ponto de vista da fé, logo no início, o autor nos convida à prática da Palavra de Deus, já que fomos gerados para uma nova vida pela Palavra da Verdade, ou seja, o Evangelho, segundo a vontade de Deus, para que fôssemos como primícias das Suas criaturas. E esta é uma dádiva que procede do Pai das luzes, em Quem não há mudanças nem sombra de variação, pois permanece para sempre, diferentemente dos luzeiros do firmamento que variam em magnitude e são sujeitos a fases, eclipses e sombras. Ou seja, em Deus, como autor da luz, não há variações de brilho ou claridade. Não existem flutuações em Seu caráter, concluem os estudiosos. Em Deus não há meias palavras, titubeações ou quaisquer outras oscilações tão bem conhecidas em nosso meio, ou seja, em toda a humanidade. Com Ele é sim, sim, não, não, e ai de quem não seguir as Suas ordens! Os Seus mandamentos só falam de amor, e de obediência. De um amor sem igual, e sincero, que deve partir de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, e de todo o nosso pensamento, ou seja, de todo o nosso ser, sem hipocrisias. Primeiro, devemos amar a Deus como nosso Senhor sobre todas as demais coisas, e, depois, a nosso próximo, ao qual devemos amar como amamos a nós mesmos, incluindo aí até os nossos inimigos. É o próprio SENHOR nosso Deus que manda fazer isso. “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem (...).” Difícil isso? Experimentemos as riquezas deste amor de Deus! Se assim o fizermos, faremos como os filhos dAquele que está nos céus, já que pela graça da regeneração fomos adotados na família de Deus, e os filhos de Deus não andam por aí, costumeiramente, pisando na bola, como dizem por aí quando se fazem coisas erradas. “E sede cumpridores da Palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos”, continua, alertando-nos em sua epístola, com toda a sua autoridade de apóstolo-líder da Igreja de Jerusalém e um dos pilares da Igreja de Cristo, juntamente com Pedro e João, e irmão do Senhor Jesus – o Seu discípulo e presbítero Tiago. Não é fácil tomarmos certas decisões em nossa vida, mas elas têm que ser tomadas quando devem ser tomadas, se não quisermos viver na cegueira, ou surdos e mudos para sempre, pagando pela nossa omissão, ou mesmo covardia, sem direito a provar as delícias dos novos céus e da nova terra reservadas a todo aquele que crê que o único Redentor dos escolhidos de Deus é o Senhor Jesus, exemplo da maior prova de amor que Deus nos deu. E por acreditar nisso, e para deleite dos incrédulos, o próprio Tiago – também conhecido como “Tiago, o Justo” – foi martirizado depois que lhe bateram até a morte com uma clava depois de ter sido atirado do parapeito do templo por testificar sua piedade, seu zelo pela obediência à lei de Deus e sua singular devoção à oração, e depois de cumprir a sua missão, seguindo os passos de seu Mestre que a todos maravilhavam ao fazer o bem, fazendo ouvir os surdos e falar os mudos, abrindo-nos uma nova visão para uma nova vida ao ouvirmos a Palavra de Deus, curando-nos com o milagre de abrir-nos os nossos ouvidos, a nossa boca e o nosso coração, fazendo-nos entender que o cristão, não importa qual o seu segmento, não é somente aquele que pode escutar o Evangelho do Senhor Jesus, mas é também aquele que anuncia a Sua mensagem salvadora em alto e bom tom por este mundo afora, sem nenhum segredo nem tergiversação; mas também sem ser nenhum agente secreto.

REFLEXÃO DE HOJE
“TODA A BOA dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em Quem não há mudanças nem sombra de variação. Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da Verdade, para que fôssemos como primícias das Suas criaturas. Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a Palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas. E sede cumpridores da Palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.” – Tiago 1:17-22

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:113-120; Provérbios 9:8-12
Tiago 1:17-22; Marcos 7:31-37

NOTAS
[1] Marcos 13:32-37; 14:38; Atos 20:30,31; Efésios 6:18-20; Colossenses 4:2-6; Apocalipse 16:15; Provérbios 9:7-9; 1Coríntios 1:17-25
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1427,1428
[2] Provérbios 9:10; 2:1-6; 3:14,15; 8:19-21; Jó 28:12,17; Salmo 119:105
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil,1999. notas. p. 705,728,736, 738
[3] Tiago 1:17-22; 1Pedro 1:23; Levítico 19:18; Deuteronômio 6:5; Tiago 5:12; Mateus 5:37; 22:36-40; Romanos 13:9; 1Coríntios 13:1-13; Mateus 5:43-48; Levítico 19:2; 1Pedro 1:15,16; Atos 15; Gálatas 1:19; 2:9; Mateus 13:55; Marcos 6:3; 1Coríntios 15:7;
João 3:16; Marcos 7:32,34-37
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1485
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 380, 391-395
ROSS, ALEXANDER. A Epístola Geral de Tiago: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.1390. Reimpressão
O Breve Catecismo de Westminster. 2.ª ed. Trad. por Igreja Presbiteriana do Brasil. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 26. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.1003. Reimpressão