quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MATIZES E SEQUELAS

“Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” – Gênesis 2:24

TALVEZ seja mesmo por conta deste relativismo ético que somos impossibilitados de refletir com mais afinco a respeito dos fundamentais valores que sustentam a sociedade em geral e, de maneira especial, as instituições que governam os cidadãos, notadamente naquilo que diz respeito à promoção do catalisador vital da nossa sociedade, que é a família. Relativismo este que alguns especialistas concordam que parece permear a hodierna sociedade consumista destes nossos dias tão egoisticamente envolvida consigo mesma, sem nem mesmo distender um olhar a seu derredor, a não ser a seu próprio umbigo. Em meio a esta inversão destes valores éticos e morais vivemos chafurdados numa violência generalizada, não somente a violência física propriamente dita esparramada pelos campos e cidade, e até dentro da nossa própria casa, que é uma lástima, cuja convivência alcança um nível insuportável atingindo a todas as classes sociais sem distinção de idade, mas também um outro tipo de violência que nos agride em nosso íntimo, em nossa conduta espiritual, em que a fé que professamos parece estar desvirtuada e que, se não nos cuidarmos, cairemos na lábia desta pós-modernidade avassaladora e tão bem difundida, inclusive pela própria mídia, e sermos até tachados de caretas, de fora de moda ou de conceitos outros mirando no sentido de que somos muito ortodoxos, muito apegados a certos costumes e padrões tradicionais, e que isto não cabe mais no mundo de hoje, como se fôssemos pregoeiros do anacronismo, dos mais bárbaros procedimentos humanos, só porque optamos por seguir intransigentemente, mas sem fanatismo, aquilo que acreditamos ser nossa regra de vida e prática em nosso cotidiano; aquilo que aprendemos desde criancinha. Ou seja, aquilo que nossos pais e nossos antigos professores nos ensinaram desde aqueles longínquos tempos com tanto esmero em volta da mesa da cozinha de nossa casa ou nas aulas de estudos bíblicos, respectivamente. Talvez por conta deste relativismo ético é que estes valores morais caíram em descrédito e desuso, e nada mais nos escandaliza, já que tudo é possível neste mundo de ninguém, ou melhor, dos homens. Será que perdemos a noção das coisas? Por onde anda a seriedade no trato destes valores? O que nos dá o direito de jogarmos tudo na lata de lixo e vivermos de cabeça para baixo, andando para trás, e pensando que tudo isso seja o máximo? Será que perdemos a nossa autoestima, o nosso amor próprio, o nosso amor pelos outros, por conta de certos modernismos que só nos fragilizam naquilo que possa nos edificar em nossa dimensão individual quanto em nossa dimensão comunitária? Vivermos por quê? Vivermos para quê? Crermos no quê? Crermos em quem? Assim, o que se ouve são declarações sobre a falência das instituições, e dos seus representantes legais, inclusive daquelas constituídas pelo próprio Deus, como é o caso da família cristã – a mais antiga e a mais básica das instituições humanas. E agora? Como convivermos em meio a tudo isso?

Talvez de toda esta paisagem social pincelada com seus valores éticos e morais, dentre outros, a moldura deste quadro seja a própria família com todos os seus matizes e sequelas que tem como pano de fundo a figura essencial dos pais, homem e mulher, tal qual o SENHOR os criou como a excelência de Suas criaturas antes da entrada do pecado no mundo, destacando aí o papel do homem como o chefe deste cenário ao lado de sua companheira e ajudadora, além dos filhos gerados por eles. Os especialistas nos lembram que a Bíblia acentua a importância da família como uma unidade espiritual e base do treinamento para um caráter adulto e maduro, assim como também a Palavra de Deus descreve uma clara estrutura da autoridade dentro deste contexto, pela qual o marido conduz sua mulher e os pais conduzem os filhos. Acentuam, porém, que, como toda liderança deve ser exercida como uma forma de ministério, em vez de uma tirania, assim esses papéis de liderança doméstica devem ser cumpridos em amor. E é esse amor que deve entremear toda a estrutura familiar, já que o amor cristão tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta e supera, e nunca falha, diferentemente do que se ouve por aí em alto e bom som com todas as letras, versos e emoções nos ritmos de sucesso musical. Não que não seja bom sermos românticos, cantarmos ou fazermos poesias para o nosso ser amado ou elogiá-lo, reconhecendo suas qualidades, seus valores. Não que não devamos instruir nossos filhos sobre estes valores de convivência social, sobre ética e cidadania, tendo como base muita sabedoria e a lei do amor. Quem é que não gosta de carinho; de ser amado? Entretanto, além de tudo isso, também devemos estar atentos a outros deveres domésticos, posto que são mandamentos do SENHOR nosso Deus. E mandamentos se cumprem; são leis. O quarto mandamento exige que o chefe de família conduza toda a sua família para que consagre a Deus os tempos determinados em Sua Palavra, particularmente um dia inteiro em cada sete, para ser um dia de santo descanso a Ele dedicado. Já o quinto mandamento exige que os filhos respeitem os seus pais e se submetam a eles, e mais longe ainda: que se observem a conservação da honra e o desempenho dos deveres pertencentes a cada um em suas diferentes condições e relações, como superiores, inferiores, ou iguais. O apóstolo Paulo já aconselhava a Igreja de Colossos com relação a atitude cristã para com suas afinidades dentro da família, seguindo a mesma trilha de outros escritores bíblicos no que diz respeito a este mesmo assunto. “Vós, mulheres, estai sujeitas a vossos próprios maridos, como convém no Senhor. Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não vos irriteis contra elas. Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.” Nada mais atual para nossos dias. É a Palavra viva no decorrer da história nos alertando para que a família deve ser uma comunidade de ensino e aprendizado a respeito de Deus e da piedade. É a Palavra viva nos lembrando que as crianças devem ser instruídas e encorajadas a usar essas instruções como base para sua vida prática, e que a disciplina deve ser usada como forma de treinamento corretivo para conduzir estas crianças para além de tolices pueris, à sabedoria do domínio próprio; para além dos desvios de conduta. Só que nunca podemos esquecer que tudo isso deve ser instruído com base no amor, conforme insistem os especialistas que afirmam que desenvolver uma vida familiar forte é sempre uma prioridade no serviço de Deus.

De um jeito ou de outro, somos o reflexo da nossa própria família. Um dia ou outro vamos perceber, como diz uma canção popular, que somos como os nossos pais. A nossa base está na nossa própria família, a célula-mãe de toda a nossa vida, e o casamento sela esta relação exclusiva na qual um homem e uma mulher se entregam mutuamente um ao outro numa aliança vitalícia e, com base nesse voto solene, eles se tornam “uma só carne”. Não somente para a nossa comunidade, mas, e principalmente, para Deus, esta é uma aliança que nos compromete na qualidade de nos completarmos um ao outro, como homem e mulher, e podermos participar da obra criativa de fazer um novo povo. Assim, é importante estarmos unidos numa mesma fé com vistas a um mesmo fim, ou seja, o privilégio de participarmos da criação juntamente com Aquele que nos outorgou o dom da vida para o bem e consolidação da nossa espécie. Tudo isso só pode vir de um grande ato de amor. Não é brincadeira nem pura emoção ou medo de viver, e algo que o valha. É plano do divino Criador numa chance de podermos participar da Sua própria criação. Não é nenhum experimento para ficarmos até quando der certo, e, se não der, joga-se fora. É uma aliança constituída por Deus para proteger a Sua mais excelente criatura com base num amor recíproco entre o homem e a mulher, assim como também num compartilhamento de conquistas da felicidade, já que ninguém consegue viver feliz sozinho, precisa de alguém a seu lado igual a ele. É uma aliança, primeiramente, com Deus, depois, para o que der e vier num tempo de crescimento e novas descobertas recíprocos, de busca de um projeto comum, de um crescimento também espiritual, de preparação para partilhar alegrias, e até mesmo tristezas, e responsabilidades. Não são dois indivíduos separados, mas uma só pessoa, com projetos comuns. Por isso é que “deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne”, evidenciando, assim, a sua íntima interdependência. Não adianta um estar indo por um lado e o outro por outro. Têm que estarem ligados na mesma direção, na mesma sintonia, posto que se um cair, o outro também cairá. É sério isso! Tanto é que nem todos têm condições de encarar este ministério. Nem todos estão capacitados para o casamento. Dizem estes que esta é uma instituição falida. Balela! O SENHOR nosso Deus não institui algo tão importante para deixar quebrar depois. Esta não é uma instituição criada por homens. Queremos é fazer as coisas a nosso modo, isto sim. Mas Deus só permite do jeito dEle, pois, segundo a Sua soberana sabedoria, já pressentia os estragos que faríamos se fosse à nossa maneira. Paulo já dizia para aqueles que não têm dom para o casamento que é melhor não casarem. “Cada um ande como o Senhor o chamou. Cada um fique na vocação em que foi chamado”. Por isso o Senhor preserva aqueles que fazem a escolha certa. Diante de tantas tentações, de tantas exposições e divulgações contrárias, é certo que não é fácil entender que a indissolubilidade do casamento, a monogamia, a castidade não são imposições duras e contrárias à razão para os dias de hoje. O que temos que entender é que elas foram estabelecidas para a defesa da dignidade do homem e da mulher. Diante da banalização dos princípios éticos e morais, assim como da nossa própria cidadania, não só no seio da nossa comunidade, mas, e principalmente, perante Deus, seria oportuno repensarmos os nossos conceitos porque qualquer escolha contrária ao projeto de Deus em qualquer instância de nossa vida poderá causar prazer, mas não trará a felicidade. Talvez tenhamos que voltar a sermos crianças para entendermos tudo isso. O Senhor Jesus, que está acima de todas as criaturas, humilhando-Se, chegou até o nosso nível; mesmo sendo grande Ele é um de nós. Viveu os nossos sentimentos, as nossas emoções. Passou por todas as nossas experiências, até o sofrimento e a morte. Só não pecou. Portanto, somente Ele tem autoridade e condições de nos entender, principalmente quando erramos Somente Ele pode nos resgatar dos nossos erros, dos nossos pecados. Devemos também nos espelhar na figura de Jesus, perdoando aqueles que provavelmente também machucamos em nossas relações erradas, talvez por nossa própria ignorância. O Senhor sabe todas as coisas. Somente ele pode nos perdoar. Uma bela imagem que deve ficar em nossas mentes, assim como também deve permanecer gravada em nossos corações, é aquela descrita pelo salmista quando fala que aquele que teme a Deus será abençoado na sua família. Primeiramente, este será abençoado em seu trabalho e no seu lar, depois, na prosperidade nacional e da sua família. É imprescindível o temor e a vontade de Deus quando fazemos qualquer escolha, principalmente quando sabemos que estas nossas opções serão para sempre. Que Ele nos oriente nestas horas, muitas vezes tão difíceis, por estarmos apenas enxergando pelos olhos da nossa carne, por uma visão passageira e humana de nossa parte. Que o Espírito de Deus não nos abandone nestas horas, tendo em vista o infinito amor de Deus; e por meio do Senhor Jesus, que intercede pelos nossos pecados.

REFLEXÃO DE HOJE
“Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos Seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao SENHOR. O SENHOR te abençoará desde Sião, e tu verás o bem de Jerusalém em todos os dias da tua vida. E verás os filhos de teus filhos, e a paz sobre Israel.”– Salmo 128:1-6

LEITURAS DE HOJE
Salmo 128; Gênesis 2:18-24
Hebreus 2:9-11; Marcos 10:2-16

NOTAS
[1] 1Coríntios 10:12; Provérbios 22:6
SCAVOLINI, F. Toffoli, STF, família e aborto. In: Folha de S.Paulo,
6 out 2009, Opinião, seção Tendências/Debates. p. A3
[2] Gênesis 1:26-31; 2:18,20-22; 1Coríntios 11:3,8; Efésios 5:22-6:4; Colossenses 3:18-21; 1Pedro 3:1-7; 1Coríntios 13:1-8a,13; Êxodo 20:8-12; Levítico 19:30; Efésios 6:1-4; Romanos 12:10; 13:1,2; Gênesis 18:18,19; Deuteronômio 4:9; 6:6-8; 11:18-21; Provérbios 22:6; Efésios 6:4; Provérbios 1:8; 6:20; 13:24; 19:18; 22:15; 23:13,14; 29:15,17; 3:11,12; Hebreus 12:5-11
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas teológicas. p. 1408
KEVAN, E. F. Gênesis: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.85. Reimpressão
ITHEL JONES, J. A Epístola aos Colossenses: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.1294. Reimpressão
O Breve Catecismo de Westminster. 2.ª ed. Trad. por Igreja Presbiteriana do Brasil. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 51-56. Reimpressão
[3] Gênesis 2:18-24; Malaquias 2:14; Mateus 19:1-12; Marcos 10:1-12; 1Coríntios 7:1-40; Hebreus 2:9-11; Salmo 128:1-6
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas teológicas. p. 1090
KEVAN, E. F. Gênesis: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.85. Reimpressão
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 421-429
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.1353. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.1008. Reimpressão
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.611. Reimpressão