terça-feira, 17 de novembro de 2009

QUE NOS AMEMOS UNS AOS OUTROS

“(...) o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” – Marcos 12:30,31

AH, O AMOR!... quem é que já não provou ou provará deste fruto e suas experiências, de um jeito ou de outro? Quem é que já não se expôs por conta destes seus próprios sentimentos? Quem é que já não se dispôs a tais provas? Ainda, e sempre, estas eternas e tão decantadas expressões manifestam-se em todos os tempos e lugares, mesmo que se nos pareçam muitas vezes esquisitas a nossos olhos, e, quem sabe, até aos olhos dAquele que traz em Si a própria essência de um amor sem par, sem fim, e sem fronteiras; de um amor sem exceção, e sem acepção de pessoas; de um amor que se nos parece loucura, e que nos foi ordenado que o praticássemos. Ou seja, que nos amássemos uns aos outros. Não que nos amassássemos uns aos outros, literalmente. Ninguém nos garante que, em busca do que priorizamos como de grande significância para nós mesmos, extasiados por um desejo intenso de domínio, pouco nos importando com os outros, não cometamos barbaridades. Trilhando pelos caminhos dos nossos próprios delírios, dominados por uma inexplicável e avassaladora insanidade, detonamos os outros, de qualquer jeito, desrespeitosamente, empurrando-os para bem longe de nós, do nosso convívio, pensando estarmos fazendo alguma coisa de bom, não se sabe para quem, hoje e sempre, e, acentuadamente, nestes tempos pós-modernos, por diversos ou sofisticados meios à nossa disposição, por mísseis ou por fuzis, carros-bomba, ou no corpo a corpo – na mão grande mesmo –, por socos e pontapés, facões ou facadas, porretadas e traições, pelo mais banal motivo ou até mesmo por uma certa limpeza étnica, por exemplo, e outras discriminações – e tudo mais que se possa imaginar. Arbitrariamente, tudo o que possa nos sobrepor aos outros. Este é o amor dos homens! Amor a quê? Amor a quem? A nós mesmos, apenas e tão somente? Às nossas próprias vaidades? Por vermos as coisas apenas sob a nossa própria ótica e cobiça, sob esta nossa deformação de conceitos e práticas, ou até mesmo de caráter, cometemos terríveis delitos – se é que existam delitos que não sejam terrivelmente abomináveis até para nós mesmos, quando portamos nossa sã consciência. Mas que espécie de amor é este que nós tanto celebramos ou exaltamos em prosas, cantos ou versos, e que, a despeito de tudo isso, nós ainda continuamos nos autodestruindo a nós mesmos, e também aos outros, até mesmo por razões fúteis? Que espécie de amor é este pelo qual, levados por ciúme, egoísmo, e poder, nós nos achamos no direito de oprimirmos as demais pessoas, como indivíduo ou como nação, como marido ou como mulher, como pais ou filhos, namorados ou vizinhos, ou mesmo como um transeunte qualquer, desconhecido, que passa ou é jogado pelas ruas, encharcadas por um sentimento anômalo de exploração como se tivéssemos o privilégio exclusivo sobre tudo e todos deste mundo ou sobre a intimidade alheia? Certamente, este é o nosso tipo de amor; o tipo de amor dos homens. Mas, será que, sinceramente, isto é mesmo amor? Para muitos de nós, isso pouco importa, desde que levemos vantagem em tudo. Desde que sejam satisfeitas as nossas vontades; as nossas atrocidades até então enrustidas. Apesar disso, desse tipo de amor, de tiranias, e, muita vez, de muita covardia – com raríssimas exceções, é claro –, é que são feitas as histórias dos homens, desde os mais pobres coitados das crônicas policiais aos ditos mais nobres, aos superpoderosos, ou aos que se acham donos de todo e de quaisquer poderes, aos que são protegidos por seus comparsas, ou àqueles conhecidos como os de colarinho branco, e que pululam as páginas dos jornais, ou os de cujos feitos estejam estampados nas mais afamadas enciclopédias mundiais.

Porém, diferentemente deste misto de amor e ódio, de guerra e de paz, neste jogo de poderes em que paradoxalmente nos chafurdamos, e, ao mesmo tempo em que somos o próprio alvo, quando não a própria vítima nestes eventos todos, confundindo-nos em tais conceitos num contexto de conflitos sem igual como numa novela que parece nunca ter fim, mas que arraigadamente fixamos tentáculos ao redor do mundo, ou de nós mesmos, a sabedoria divina nos ensina que o amor cobre todas as transgressões, ou melhor, uma multidão de pecados, enquanto que o ódio excita contendas, como se num alerta contra aqueles que rejeitam a mensagem de nos amarmos uns aos outros, ensinada desde o princípio. Por sua vez, o salmista diz que feliz é aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Ou seja, o amor não guarda registro de erros, mas perdoa em resposta ao perdão de Deus, segundo os especialistas, considerando que a história do mundo é a história do ódio, que teve início – e que serviu como padrão – desde o conflito entre Caim e Abel, posto que a maldade sempre odeia a bondade. Esta é a diferença que sempre existirá entre este mundo tão adverso e o povo de Deus, conforme enfatiza o apóstolo e evangelista João na sua primeira carta universal com base em toda a sua experiência de o único apóstolo sobrevivente, e já com sua idade avançada, quando escreveu esta epístola. Porém, como sempre, com todo o seu tom paternal, tanto no terreno da afeição, como no da autoridade que a caracteriza, e contrastando os filhos de Deus com os filhos de Satanás, ou o amor aos irmãos e o ódio ao mundo, o apóstolo destaca que Deus é luz, verdade e amor, e que este mesmo Deus foi revelado em Cristo para que pudesse comunicar a vida eterna àqueles que creem. Estes mesmos eruditos assinalam que o discípulo amado mostra aos leitores de sua carta que os ideais de pureza e amor são dons de Deus comunicados através da Sua autorrevelação, e que, ao mesmo tempo, eles só são reais quando estão em ação, assim como também esta realidade só é possível através do novo nascimento e do perdão dos nossos pecados. “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas. Meus irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que odeia a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.” Sábias palavras, e divinamente inspiradas, que, com seu estilo direto, provavelmente, sejam a última mensagem apostólica dirigida à Igreja inteira, sem nenhum endereço particular, e que resumem a beleza de uma carta universal. São palavras simples, práticas e claras. São pensamentos ricos e profundos que nos levam a uma atitude resoluta e responsável, a uma ação concreta, a uma tomada de posição sem nenhum vacilo, já que não devemos amar apenas da boca para fora, “de palavra nem de língua, mas por obra e em verdade”.

Ah, o amor!... sim, este amor de Deus... quão maravilhoso seria este mundo se todos o exercitássemos conforme exigem os Seus mandamentos! Quão seríamos muito mais felizes! Sim, porque este é um gesto que confere resultados, não unilateralmente, mas como numa via de mão dupla, dando e recebendo, plantando e colhendo, regando e frutificando, para a glória dAquele que um dia amou o Seu povo com amor eterno e com benignidade o atraiu a Si por meio de um projeto de restauração, de prosperidade e de paz. Este é o sonho que Deus tem reservado para cada um de nós. Sim, ainda hoje este projeto também está à nossa disposição para podermos empregar os dons de Deus em benefício dos outros – eis o resumo de todo o nosso dever e obrigação no exercício deste amor, posto que Cristo deu Sua vida por nós, por meio deste grande e gracioso gesto. Assim, também, ao alcançarmos algo da grandeza deste amor de Deus, a nós é imposto, igualmente, estarmos prontos a dar nossa vida pelos outros, assim, de pronto auxílio, por meio de nossas obras, tendo em vista a nossa fé. Como crentes cristãos, somos este povo que também navega nesta estrada da esperança, nesta via de duas mãos, na certeza desta nossa salvação, se temermos a este único SENHOR, não por medo, posto que Ele não é um deus de terror nem um deus enganador, que nos promete bem-estares, tranquilidades e paz, e não cumpre, ou que toma de volta, depois, traindo-nos com a Sua própria Palavra; escravizando-nos, humilhando-nos e destruindo todos os nossos sonhos, mesmo nós depositando nele toda a nossa confiança. Nada disso. O SENHOR nosso Deus não é um deus de balelas nem de oba-oba à moda dos homens e dos seus ídolos. Tampouco o Seu projeto de amor se assemelhe à cantilena dos homens, permeada de um sentimento fugaz, de segundas intenções, de emoções baratas, e efêmeras, chamuscada por declarações de afeto superficiais manifestadas apenas com os lábios, mas bem longe do coração. Sem nenhuma sinceridade. Também este amor não pode ser reduzido a meras expressões externas, ensaiadas, cheias de vãs e enfadonhas repetições, esboroando num vazio sem fim e sem nenhum efeito que possa nos edificar ou nos tonificar contra as hostes do inimigo. Só pode mesmo agradar o coração dAquele que nos chamou a aderirmos a um projeto de salvação que nos foi revelado na Pessoa do Seu único Filho, e nosso Senhor Jesus Cristo, com vistas à nossa plena felicidade, posto que prova de amor não há se não doarmos nossa vida à nosso irmão. E este amor é combinado com a nossa fé na unidade de Deus, que nos cobra obediência a Suas leis, não por medo, mas por amor, como diz o salmista. “Amo os Teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino. Por isso, estimo todos os Teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda falsa vereda.” E mais ainda: “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos, e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos”. É isso, este amor de Deus nos faz andar por veredas retas e verdadeiras, longe das hipocrisias deste mundo, como um tesouro que devemos guardar lá dentro do fundo do nosso coração e comprometermo-nos com ele com toda a nossa alma e com todas as nossas forças, assim como também devemos fazer com que as nossas gerações futuras, nossos filhos, e os filhos dos nossos filhos possam igualmente amar a este mesmo Deus como o seu único Senhor, amando-O, obedecendo-Lhe, e dedicando-se inteiramente a Ele como seu único Salvador. Não é a toa que este amor mútuo, que pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente a comunicar-Se, posto que Ele é absolutamente bom, também aparece como a relação humana ideal, longe de ser uma utopia sentimental, posto que deve produzir ajuda prática a quem dela necessitar. Assim, o Senhor Jesus coloca-nos na dinâmica desta “lei régia”, deste grande mandamento, unindo duas escrituras para resumir o nosso dever como homens, nunca dantes interligadas desta maneira. Primeiro, o nosso amor para com Deus, depois, para com o próximo, amando este como a nós mesmos, num mundo onde muitos de nós dizemos que amamos a Deus, mas que desprezamos os demais, principalmente os mais necessitados, dentre tantos outros excluídos por outros quaisquer motivos. Também está escrito que se dissermos que amamos a Deus e odiarmos a nosso próximo, somos mentirosos, “pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a Quem não viu?” Por Sua vez, o Senhor Jesus também põe fim a qualquer discriminação ao declarar que o nosso próximo é qualquer pessoa, até mesmo o nosso inimigo; aquele que praticou o mal contra nós. Daí, só mesmo o amor consegue nos aproximar de Deus e dos homens. O amor cristão, fraternal, bem entendido, que tem sua nascente em Deus e se expande a todos os homens. Não as nossas enfadonhas cantilenas ou despropósitos.

REFLEXÃO DE HOJE
“Aproximando-se dEle [de Jesus] um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhes: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. E o escriba Lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dEle; e que amá-lO de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-Lhe mais nada.” – Marcos 12:28-34

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:121-128; Deuteronômio 6:1-9
2Tessalonicenses 2:13-3:5; Marcos 12:28-34

NOTAS
[1] João 3:16; 15:12,13,17; 16:27; Romanos 5:8; 1João 3:1; Salmo 36:5-10; 145:9,15,
16; 104:21; Mateus 5:44,45; 6:26; 1Coríntios 1:18,25; Atos 10:34; Romanos 2:11; Efésios 6:9; 1Pedro 1:17; Tiago 4:1,2
BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. 3.ª ed. revisada. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 68, 69
[2] Provérbios 10:12; 1Pedro 4:8; Salmo 32:1,2; Romanos 4:7,8; Mateus 18:21,22; Tiago 5:20; 1Coríntios 13:4-7; 1João 3:10-15,18,23; Romanos 13:8
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1500, 1509, 1512
[3] 1Coríntios 13:1-13; 1Pedro 4:7-11; Jeremias 31:3; Deuteronômio 6:1-9; Salmo 119:127,128; 19:7-10; Mateus 22:37; Tiago 2:8; Levítico 19:18; 1João 4:20; Mateus 5:43-48
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 456, 457, 459-465
DRUMMOND, R. J. e MORRIS, Leon. As Epístolas de João, 1João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1434, 1435. Reimpressão
MANLEY, G. T. Deuteronômio: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 235. Reimpressão
BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. 3.ª ed. revisada. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 68, 69
O Novo Dicionário da Bíblia. Trad. por João Bentes. Editor org. J. D. Douglas. (editor em português R. P. Shedd). vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 1963,1990. p. 71. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1015. Reimpressão