sábado, 9 de abril de 2011

DEUS É AMOR, E ESSA É A NOSSA VITÓRIA

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”- João 3:16


ASSIM como no passado, ainda hoje, nós também nos defrontamos com grandes catástrofes, dentro e fora de nossas casas; dentro e fora de nós mesmos. Catástrofes materiais, financeiras, ecológicas, ambientais, pessoais. Mas a pior de todas as catástrofes é a catástrofe espiritual, a apostasia - quando não acreditamos mais em nada, a não ser em nossos bens materiais. Muitos destes flagelos são frutos de nossas próprias mãos por causa do nosso pecado.

São atitudes, em geral, inconsequentes tomadas por conta própria, sem pensarmos nas suas dimensões, ou mesmo em quem e de que maneira elas possam repercutir. Muitas vezes somos egoístas, irresponsáveis, arrogantes e rebeldes sem causa - se é que existe alguma causa para a rebeldia. Assim, sobrevivemos. E, guiados pelas nossas próprias deficiências, tornamo-nos vulneráveis e não vivemos plenamente.

Falamos, murmuramos, reclamamos, isso quando não tomamos atitudes ainda mais drásticas, que ceifam vidas, deixando sequelas que jamais se apagam, que, quando nos despertamos é que detectamos o tamanho do estrago. E tudo acontece como se fosse parte de um pesadelo, como se estivéssemos fora de nosso controle, dos nossos padrões normais - se é que ainda existem normalidades neste mundo tão cruel, pleno de incredulidade e incertezas, mesmo no meio daqueles que se dizem cristãos.

Sem querer ser pessimista, intolerante ou desalentador, mas, abra as páginas dos jornais, veja a televisão, acesse a internet, ouça o rádio, saia às ruas, escute as pessoas... Só ouvimos conversa fiada, balelas, violências, decepções, lamentações, sofrimento, confrontos e contendas, de um jeito ou de outro, e por qualquer motivo, mesmo perante tudo aquilo que o Supremo Criador colocou diante de nós, de uma maneira geral, para o nosso próprio bem, para o nosso conforto e comum união entre Ele e todos em nosso derredor. Só que não temos olhos para ver as maravilhas deste Criador que tudo faz e fará por nós, há muito e fielmente prometido. Nem temos ouvidos para ouvir a Sua voz, muito menos para perscrutar os Seus juízos.

Será que perdemos a razão, nossos valores, nossas referências? E, se eles ainda existem, quais são e onde estão? Ou somos os mesmos de sempre, crentes em nós mesmos, apegados aos nossos próprios afazeres e confiantes em nossas próprias audácias apenas e tão somente? No que realmente cremos? - se é que ainda cremos em alguma coisa, além do nosso próprio umbigo. Ou será que estamos mesmo loucos? Será que ainda temos jeito? E quem pode dar esse jeito? Ou será que já estamos mortos e nem sabemos?

Obviamente que estamos falando aqui de morte espiritual. Mas, quem crê nisso? Quem vai dar ouvido a isso? Quem vai perder tempo com isso nesta vida agitada destes nossos tempos?

O texto citado (João 3:16), tem como pano de fundo o conhecido diálogo entre Jesus e Nicodemos, que trata do novo nascimento. “Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”, diz Jesus a Nicodemos, que se maravilhou pelo fato de alguém poder experimentar todo o processo de desenvolvimento desta vida e poder, depois, renascer (João 3:3,4). Mas isso não é nada fácil, pois requer e exige de nós um total desprendimento daquilo que somos ou do que éramos antes. Exige de nós uma mudança radical vinda de dentro de nós que por nós mesmos é impossível praticá-la, a não ser que esta mudança venha do alto.

Somente a nossa renovação interior permite-nos a nossa participação no Reino de Deus. A isso chamamos de regeneração. Isso também não vem de nós. É ação exclusiva de Deus, que nos faz reviver depois de estarmos mortos. É dom da graça de Deus, obra imediata, sobrenatural, do Seu imenso amor, realizada em nós por meio do Espírito Santo. Seu efeito é fazer com que nós, da morte espiritual, passemos à vida espiritual. A regeneração muda a disposição de nossa alma, inclinando nosso coração para Deus. Seu fruto é a fé.

Portanto, a regeneração antecede a fé “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:15). E esta não é uma fé cega, traiçoeira, aleatória. Também não é nenhum “show da fé”, posto que não é fácil praticar esta fé por ser coisa séria. Ela é oriunda [1] de uma referência que nos identifica; [2] de um objetivo, uma finalidade, que é o nosso alvo, que nos preserva contra a morte eterna; e [3] de uma razão de ser, que, antes de nos preservar naquele nosso objetivo, também nos privilegia graciosa e imerecidamente.

1.Nossa referência é Cristo

Para melhor identificarmos o texto (João 3:16) no seu contexto ainda mais restrito, vejamos os seus dois versos anteriores: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”- João 3:14-16.

Mas, antes de prosseguirmos, devemos perceber que o texto do verso 15 tem uma correlação, não somente com o texto que lhe é imediatamente anterior (verso 14), mas também com o texto remoto, imediatamente posterior, o texto logo abaixo (verso 16) como se dependessem um do outro. Um é consequência do outro, como elos de uma corrente que se interligam, uma condicional, citando situações históricas do passado do povo de Deus, e, comparativamente, sugerindo, em situação diferente, que o mesmo deva acontecer com Jesus Cristo para que o plano de redenção divino seja consumado.

“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado.” (verso 14). O fato aqui mencionado está registrado em Números 21:4-9, quando os israelitas rebeldes murmuravam e queixavam-se contra Deus e Moisés. Então, Deus enviou serpentes abrasadoras para o meio deles, para puni-los. Mas Deus disse a Moisés para colocar uma serpente de bronze numa haste com a promessa de que os que olhassem para ela vivessem.

Devemos atentar ainda para os verbos “levantou”, “importa” e “seja levantado”, que enfatizam o imperativo, como uma necessidade, resultado, causa de que Jesus teria que ser sacrificado, e pendurado num madeiro por nossa causa, como o Cordeiro perfeito, sem qualquer defeito que morreu pelos nossos pecados (1Pedro 1:19; João 1:29; Romanos 5:8). Promessa esta já anunciada por Deus desde Gênesis 3:15, assim que Adão e Eva caíram em desobediência por astúcia de Satanás.

2.Nosso alvo é Cristo, que nos preserva contra a morte eterna

“Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (verso 15). Eis a causa, o resultado, a necessidade, e a consequência de que fala o verso 14. Se crermos, não pereceremos. Não morreremos. Se olharmos para a cruz de Cristo, e o propósito divino, viveremos. Se crermos, teremos a vida eterna. Cristo foi levantado na cruz, e ressuscitado depois, para a glória dAquele que Lhe enviou para que crêssemos nEle, e tenhamos a vida, não a morte, pois Ele morreu em nosso lugar para que vivêssemos. Por causa da morte de Cristo é que vivemos. “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.”(1João 5:12).

Mais uma vez, a correlação, aqui, é entre os termos “crer”, “não pereça” e “vida eterna”, que estão interligados, e voltados para o crente por meio da Pessoa e missão de Cristo como Salvador, conforme o texto anterior (verso 14), mas se restringe somente a “todo aquele que crê”. Não a todos, indistintamente, ressaltado em João 6:47: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.”

Se aquele que crê tem a vida eterna, podemos concluir que aquele que não crê não tem a vida eterna, permanece na morte, e a ira de Deus permanece sobre ele (cf. 5:25-29), destacado ainda em João 3:36: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.” Assim como Cristo tem poder para salvar, também tem poder para exercer juízo, conforme João 5:29 - “E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.”

3.Nossa razão de ser é que Deus nos ama graciosamente, por meio de Cristo

Tudo o que até aqui foi exposto só pôde acontecer “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (verso 16). Tudo o que até aqui foi exposto está interligado numa correlação, não apenas entre os versos citados, mas também entre alguns termos acima já mencionados (ver João 3:14-16).

Tudo isso para demonstrar que o incomensurável amor de Deus é a razão da nossa existência. Ele é a nossa razão de ser, e Deus ainda nos privilegia com o dom da fé para que vençamos o mundo (1João 5:4) que está no maligno (1João 5:18,19; Gálatas 1:4), e creiamos nEle por meio de Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé (Hebreus 12:2). Deus é amor, e esta é a vitória do crente. Ou melhor, esta é a segurança do cristão, porque crente todo mundo é, mas, cristão!... nem todos são. Nem mesmo em meio àqueles que dizem que são, que pensam que são, mas, na verdade, não são.

Mas que amor é esse? Deus amou o mundo, e daí? E se Ele apenas nos amasse, e nada exigisse de nossa parte? Mas Ele nos amou, doando-Se a nós por meio de Seu Filho para que vivêssemos em comunhão com Ele - mesmo que nenhum de nós merecesse tamanho privilégio. Mesmo assim, Ele nos ama, e nós temos que fazer a nossa parte. Sem a nossa fé esse amor não faria sentido. Deus nos ama e coloca em nós a fé para que creiamos nesse Seu amor. Para que creiamos nEle, e tenhamos vida com Ele.

Mas que amor é esse? É como o amor dos homens? Certamente que não! As experiências deste mundo dizem que não. As nossas experiências pessoais, as experiências com as quais defrontamos a cada dia pela mídia, pelos nossos vizinhos, entre os povos e nações... São tantas as experiências danosas, as violências, as promiscuidades, que se praticam em nome do “amor”. São tantos os que se matam ou matam os outros por “amor”! O amor dos homens mata. Mas o amor de Deus vivifica, dá vida, ressuscita, transforma os homens. Veja o diálogo de Jesus com Nicodemos (João 3:1ss). Necessário nos é nascer de novo (João 3:7).

O amor de Deus nos constrange, no sentido de embaralhar as nossas mentes por este amor estar muito além do nosso entendimento, principalmente para o ímpio. Aqueles que não creem não entendem esse amor. O amor de Deus faz-nos ver quanto somos pequenos, mesquinhos e frágeis diante da Sua magnificência, e transcendência, mas, ao mesmo tempo, de um Deus tão imanente. Esse amor é a nossa única esperança. A única certeza de uma vida duradoura e perseverante para aqueles que creem.

Tal como amou a Seu Filho, o Pai também nos ama. Este amor de Deus em Cristo é a certeza da nossa vitória. Tanto é que Ele sempre providencia um escape para todo aquele que nEle crê para que não pereça diante das provações deste mundo, mas que tenha a vida eterna (1Coríntios 10:13). Mas sem fé é impossível agradar a Deus “porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe” (Hebreus 11:6). Além de que o justo viverá por fé (Romanos 1:17; Habacuque 2:4).

Assim, se chega ao ápice da compreensão do plano de Deus, do Seu propósito, e da percepção da Sua mensagem redentora. É como um final feliz! Uma apoteose muitas vezes incompreendida, dada a abrangência que engloba os termos “porque Deus amou o mundo de tal maneira...”, que se aplica a todos os eleitos de todas as partes do mundo ainda hoje.

Deste modo, através da beleza de um estilo discursivo, literário e teológico muito bem estruturado, o discípulo amado disseca esse amor de Deus, interligando-o com a nossa fé, sem a qual não entraremos no Reino de Deus, ou seja, não teremos direito à vida eterna. Não seremos justificados. Não teremos salvação (Efésios 2:8). É o Evangelho da fé, do confronto ou do conflito entre a fé e a incredulidade em que a Pessoa de Jesus como o Filho de Deus, o Cristo, o Messias, o Salvador, o Verbo que Se fez carne é a figura central, e que, por meio dEle, a salvação está acessível a todos que corretamente reconheçam isso, “para que, crendo, tenham vida em Seu nome” (João 1:1-18; 4:25,26,29,42; 20:31).

Assim como os israelitas rebeldes, murmuradores e pecadores tiveram que olhar para a serpente de bronze levantada por Moisés no deserto para que vivessem, nós também, pecadores que somos, temos que mirar em Cristo, que foi levantado na cruz; morto, crucificado, porém, exaltado, cuja ressurreição e glorificação revelam, juntas, a glória de Deus (João 8:28; 12:32,34).Temos que voltar nosso olhar, de corpo e alma, com todo o nosso ser e por toda a nossa vida, para este Cristo que foi levantado no madeiro, e sacrificado por nossa causa.

Esta é a chave do eterno plano de Deus para salvar o Seu povo (Atos 4:27,28). O propósito soberano de Deus, a Sua vontade, mesmo tendo que sacrificar injustamente o Seu Filho unigênito “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (v. 15,16b). Se crermos nesta obra de Cristo não pereceremos jamais. Teremos a vida eterna. Mas isso só acontece pela obra da graça de Deus. Pelo Seu amor em resgatar os Seus eleitos, aqueles que creem nEle. O SENHOR Deus enviou Seu Filho para morrer pelo Seu povo. Não por todos (João 6:37-40; 10:14-18; 17:19). Aquele que o Pai envia a Seu Filho de modo nenhum o lançará fora. E a certeza desta obra salvífica de Cristo não se restringe a tempo e lugar, aplica-se aos eleitos de todas as partes do mundo em todos os tempos.

Somente Jesus Cristo tem poder para salvar. Aquele que não mirar em Cristo, e não receber o remédio que Deus providenciou por meio deste mesmo Cristo - como Moisés fez com aqueles que foram picados pela serpente no deserto -, perecerá. Cristo é o antídoto para os nossos pecados. E de fé em fé aquele que é justificado também é restaurado a um estado de retidão por e perante Deus, não pelos seus próprios méritos, porque isso só acontece pela crença na ação de Cristo em sua vida.

Assim, aquele que crê não morrerá. Não será separado de Deus, mas vive na Sua presença, ou seja, tem a vida eterna. Assim, Deus demonstra o Seu amor sem par pelos pecadores, para que o Seu povo possa ter comunhão com Ele, mesmo à custa da morte injusta do Seu único Filho. Esta é a maior, e inigualável prova de amor que existe. Assim, semelhantemente, a nossa maior prova de amor é dar a nossa vida a nosso próximo, seja ele quem for, esteja ele onde estiver, e de onde vier - mesmo se este próximo for nosso pior inimigo, como fez Jesus Cristo pelos pecadores (Mateus 5:43-48; 22:37-40; Romanos 13:9; 1Coríntios 13; Levítico 19:18).

Assim, possamos transformar o mundo, e viver num ambiente bem melhor, longe de tantas catástrofes e flagelos, principalmente em níveis espirituais - frutos de tanta ignorância,irresponsabilidade, desobediência e apostasia. Que as manifestações e a comunhão deste Espírito transformador do SENHOR nosso Deus possa nos impactar para que experimentemos esse amor de Deus por meio de Cristo, nosso Salvador, agora e sempre. Amém!

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Bibliografia

Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1233-1234

MACLEOD, A. J. O Evangelho Segundo São João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia. v. 2. Edição em português: Rev. Dr. Russell P. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1963, 1972, 1976, 1979, 1980, 1983, 1985, 1987, 1990. p. 1068-1069. Reimpressão

PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. O Argumento de João. In: Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 149-177