quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SERVIR, E SER SERVIDO

“Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” – Marcos 10:45

QUANTAS VEZES já nos deparamos com pessoas aparentemente simples, mas com dons especiais, ou mesmo com lideranças das mais exemplares, personalidades de destaque na Igreja, pessoas das mais participativas, disponíveis para qualquer serviço, que se envolvem ativamente em quaisquer atividades entre os irmãos, e que se dispõem a fazer tudo, inclusive sozinhas, às vezes até dispensando ajudas, mas que, no final das contas, percebemos que muitas destas pessoas querem mesmo é aparecer dentre os demais, impondo-se sobre estes, apenas com o objetivo de solidificarem a sua própria supremacia e controle, além de outras estranhas intenções, causando mal-estares, descontentamentos, e prejudicando o grande bem que poderiam estar fazendo a quem realmente necessite destes seus préstimos que deveriam ser praticados espontaneamente! Quantas vezes já descobrimos, vimos, ouvimos ou lemos por meio das mais diversas mídias, ilícitos cometidos por personalidades das mais variadas graduações sociais, públicas ou privadas, e até mesmo religiosas, perpetrados apenas com um único intuito: angariar mais e mais poder, fama, riquezas, prazer, ou até encantos para si próprios, apenas e tão somente, e a qualquer preço! Lógico que, depois, estas práticas são costumeiramente negadas, contestadas e desmentidas pelas próprias fontes ou personagens envolvidas ou por aqueles que tomaram como base os próprios fatos para se defenderem ou pagarem seus defensores, recorrendo até aos famigerados recursos, de acordo com a dimensão da cara de pau de cada um dos possíveis arrolados, para não dizer do montante da sua conta bancária. E o que é pior ainda: em geral, posam de ilibados líderes absolutos ao longo da história, sempre vitoriosos, como se nunca tivessem cometido nada demais; como os reis da cocada, dos abacaxis e marmeladas. É a tal inversão de valores, e isso escorrega por todos os poros vivos dos escalões da nossa sociedade, em maior ou menor escala, conforme o perímetro de cada uma de suas células. E esta escalada até vira piada! Curioso hábito que temos de rirmos de nós mesmos, dos nossos próprios erros, da nossa própria desgraça, e que não leva a nada. Não é absurdo tudo isso? Mas quem se aventura a mexer ou remexer nestes contextos todos, nesta fedentina toda, e mudar tais conceitos e comportamentos arraigados há séculos? Ah, coitado, será eliminado da face da terra, literalmente! É a escalada dos tais, dos podres poderes. E os outros, os pobres coitados, os ditos bem intencionados? Que se danem! E os acordos ou conchavos de bastidores, e até mesmo a pressão ou influência dos lobistas? Tudo faz parte do jogo, justificam. E os que não podem arcar com seus próprios defensores, contratar seus próprios marqueteiros? Que se explodem! – lá, intimamente, na versão deles, que se acham os mais espertos deste mundo onde os outros são tidos como otários; que nos fazem viver de mentiras, na grande ilusão desta vida sem sentido, por conta de um desrespeito generalizado, da exclusão ou invisibilidade dos demais, dos mais humildes, dos mais fracos e oprimidos, dos que não têm acesso à informação ou à sua própria defesa; dos próprios excluídos, propriamente ditos. Mas, na verdade, quem é que é o próprio otário? Quem é que sempre insiste em posar isoladamente, e de corpo inteiro, como o tal neste mundo de loucuras mil? Quem é que vive no decorrer destes dias afetadamente em eterno êxtase? Quem não conhece a infeliz expressão: “Você sabe com quem está falando?” Ou, ainda: “Alto lá, eu sou amigo, compadre, apadrinhado – ou sabe-se lá o que mais nestas baboseiras todas – do Dr. Fulano, que é amigo do Dr. Sicrano ...” E por aí vai, diante de tamanha prepotência como se certas posições sociais lhes dessem poder de deuses. Como já dizia certo âncora de um antigo noticiário de televisão ante casos parecidos e veiculados por estas bandas: “Isso é uma vergonha!” É isso mesmo, é uma vergonha para quem preza a honestidade, a humildade, a ética, a sinceridade, a moral, o respeito e, principalmente, o temor a Deus. Ao Deus vivo e verdadeiro, bem entendido. Estes são até ironizados, achincalhados acintosamente, como animais em extinção, espécime rara de uma geração que tomou corpo depois que o pecado entrou no mundo.

Regra de fé e prática para os crentes cristãos e fonte inesgotável de ensinamento em que até os que não professam esta mesma fé dela se utilizam, seguindo outras e particulares intenções, a Bíblia, como a revelação da própria Palavra de Deus, e inspirada por Ele, nos alerta que o temor do SENHOR é o princípio do conhecimento e os loucos desprezam esta sabedoria e instrução. O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria porque é Ele Quem nos dá esta sabedoria; da Sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento. E mais: Deus reserva a verdadeira sabedoria para os retos. A sabedoria é o escudo para os que caminham na sinceridade. Mas, por ambição, e dominados pelo desejo de poder e autoridade deste mundo, extrapolamos e confundimo-nos, dada a nossa incapacidade de entendermos as coisas do alto, muitas vezes, colocando tudo a perder. No Evangelho de Marcos, a Bíblia narra a história de um ousado e ambicioso pedido dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, na frente de todos os outros discípulos, fizeram a Jesus uma proposta, no mínimo, indecente, se considerarmos as sérias reflexões anteriores que o Mestre lhes havia anunciado pela terceira vez a respeito de Sua morte e ressurreição, posto que seria insultado, condenado, flagelado e levado à morte. Por sua vez, o Evangelho de Mateus conta que foi a mãe de Tiago e João que tomou a iniciativa, formulando tal pedido com palavras mais amenas. O nome dela era Salomé, e parece que era irmã da mãe do Senhor Jesus. Neste caso, Tiago e João eram primos de Jesus. Considerada pelos especialistas como a primeira intriga eclesiástica para obter posições destacadas na Igreja, originada de uma maquinação da família Zebedeu contra Pedro – o terceiro membro do trio privilegiado –,estes primos do Senhor exigiram dEle os primeiros lugares na Sua glória, com um deles assentando-se à direita e outro à esquerda de Jesus, como se o Reino Messiânico fosse um reino deste mundo, onde se faz o que bem se entende ou por acordos entre as partes segundo as nossas benesses, desconsiderando, assim, o ensino de Jesus sobre grandeza, o que nos leva a crer que eles ainda tinham muito o que mudar em suas atitudes. O mesmo pode acontecer também com cada um de nós ainda hoje nestes nossos tempos tão atribulados pelas ambições de honrarias e privilégios dos primeiros lugares em tudo, e a quaisquer custos, ou pela nossa ignorância a respeito de Quem outorga o tão cobiçado lugar que não é agraciado por nenhum favoritismo pessoal de ninguém, mas “para aqueles a quem está reservado”, e até mesmo nestes nossos tempos de cegueira espiritual, mesmo que nós tenhamos ouvido e lido, discutido e interpretado corriqueiramente os textos que falam sobre o Servo Fiel, desde como Deus avalia a vida deste Servo, até Este próprio Servo Se apresentar, encarnando-Se feito homem, tomando sobre Si os nossos pecados, e nos dando uma tremenda chacoalhada deste nosso sono estranho como fez com os discípulos por meio de Seus reiterados ensinos, sendo Ele mesmo esta encarnação da Sua própria ética e prática desta Sua própria pregação. O Senhor Jesus não foi de nenhum modo condescendente com a postura dos filhos de Zebedeu e da mãe deles, convencendo-lhes que eles nem tinham noção do que estavam pedindo. E, usando de símbolos poéticos do cálice e do batismo tirados dos tempos passados para representar sofrimento e aflição que o Justo deve suportar para o resgate de muitos, o Senhor Jesus procura revelar-lhes o significado da Sua glória e a realização dos desejos deles. Ainda sem entender, eles preferem embalar-se na ilusão, nos dizeres dos especialistas, de que o cálice a ser participado com Jesus seja delicioso; esperam que seja um sinal de participação à Sua vitória e se declaram dispostos a sorvê-lo. O Senhor Jesus respeita a lentidão deles nesta compreensão dos desígnios de Deus, e anuncia-lhes que um dia eles também participarão com Ele destes Seus sofrimentos e morte, tomando do Seu mesmo cálice, e darão a própria vida em razão da fé deles. Somente muitos anos depois é que eles compreenderam e sentiram o significado de tudo isso em suas próprias peles. Até então, Jesus insistia na Sua severidade, sendo até duro com eles, contra qualquer tipo de ambição para que não se pusesse em risco os fundamentos da Sua doutrina. Ao dar-lhes uma ordem taxativa, o Senhor Jesus não quer deixar dúvidas, incertezas ou perplexidades, confirmam os estudiosos, sobre este assunto. “Sabeis que os que são considerados governadores das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas; mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; e qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos.”

Não parece um paradoxo para os nossos dias tais propostas? Até que ponto estamos preparados para levarmos tudo isso a sério na nossa comunidade, nas nossas lideranças, no nosso dia a dia, principalmente nós que sabemos, lemos, ouvimos e discutimos tais ensinos? Como é que consideramos isso dentro e fora da Igreja? Ou isso também não vale para a nossa prática secular? Devemos não esquecer que o que quebrou os corações de pedra dos discípulos de Jesus foi o exemplo que Ele mesmo dá como líder. Qual tem sido o nosso exemplo com relação a essa quebra de paradigmas em meio aos desafios destes nossos dias? Também devemos não esquecer que Aquele que é conhecido como o Filho do Homem, e que herdará domínio e glória, assim como também o Reino, veio humildemente como servo, conforme anunciado desde os mais remotos tempos, para cumprir o projeto de salvação do SENHOR nosso Deus, e nos dar o exemplo que, apesar das dificuldades deste mundo, nós também podemos vencer todas as tribulações e crescer conforme os exemplos do próprio Senhor. É pela fé que somos salvos, e pela fé seremos alcançados pela Palavra por meio deste mesmo Senhor que foi tentado pelo demônio, mas que Se livrou dele por esta mesma Palavra, ou seja, pela Palavra de Deus. Não podemos esmorecer nunca, se é que queremos nos libertar destas ansiedades e ganância por um poder passageiro, por um poder que já nasceu falido, o poder dos homens quando gerado pelo próprio homem. Este mesmo Jesus passou por todas as dificuldades que nós também temos que passar ou já passamos ou estamos passando. Ele conhece os nossos corações e todas estas nossas dificuldades. Ele sabe como é difícil seguir fielmente a Deus, mas que é possível, se nos apegarmos firmemente, e sem desanimar, a Ele, que não teve nenhum pecado, especialmente quando somos provados pelo sofrimento, já que Ele também passou por tudo isso, e venceu. Somente a Palavra de Deus nos liberta. Somente o Senhor Jesus tem autoridade para entender todas as nossas fraquezas. Sempre é tempo para recorrermos a Ele, e o nosso tempo é hoje, para revermos todos os nossos conceitos, posto que somente a Ele “foi-Lhe dado o domínio, e a honra, e o Reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem; o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o Seu Reino tal, que não será destruído”. Só que este Seu Reino não é deste mundo. Somente a este Senhor é que devemos servir, não a outro, já que os diversos dons e aptidões nos foram dados por Deus, não para provocarmos divisões entre os homens e nações, ou famílias, mas para a nossa melhor comunhão entre todos nós, juntamente com Ele na cabeça, com vistas à harmonia deste Seu Reino, desde já, e aqui neste mundo que, segundo os Seus planos, ser grande é ser servo, o servo de todos; é ser sempre o último, e não o primeiro, para a dignidade de todos, longe das guerras, das confusões todas que tão bem estamos vivenciando nestes nossos tempos em que as pessoas estão digladiando entre si por qualquer banalidade, e se autodestruindo, não somente a si mesmas ou as suas próprias famílias, mas também o seu próprio ambiente terrestre, o seu próprio meio de vida, ou seja, a própria natureza em que vivemos, assim como a sua própria natureza como ser humano filho de Deus, esquecendo que tudo isso nos foi presenteado pelo divino Criador para que possamos gozar com Ele na Sua glória, que não se restringe à glória somente deste mundo, mas também futura. A glória eterna. Que possamos ter esse ânimo e intenso esforço para continuarmos nesta caminhada, desfrutando a possessão desta bênção a nós reservada – que é atual e futura. Que tenhamos a grandeza daquela humildade tão reiteradamente exercida e ensinada pelo Servo Fiel, e que também possamos ser privilegiados por esta divina graça de fazermos parte deste rol daqueles que zelam pela fidelidade àquele Servo que veio, não para ser servido, mas para nos servir, doando-Se a Si mesmo como inenarrável prova de amor por nós em cumprimento à própria Palavra de Deus no tocante a Seu plano de redenção, dando a Sua própria vida em nosso lugar neste memorável resgate. A Ele, pois, todo o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

REFLEXÃO DE HOJE
“Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dEle; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com Quem temos de tratar. Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.” – Hebreus 4:12-16

LEITURAS DE HOJE
Salmo 91; Isaías 53:10-12
Hebreus 4:9-16; Marcos 10:35-45

NOTAS
[1] 1Coríntios 12:4-6; Efésios 4:7,8,11-16; Romanos 12:1-8; 1Pedro 4:8-13
[2] Provérbios 1:7; 2:6,7; 9:10; Marcos 1:19; 3:17; 10:35-45;15:40; Mateus 20:20-28; 27:56; João 19:25; Marcos 9:34,35; Isaías 53:2,3,10-12; Atos 12:2; Apocalipse 1:9; Marcos 10:42-45
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1010, 1011. Reimpressão
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 439-445
Bíblia Sagrada – Nova Versão Internacional. Trad. pela Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2000. p. 808
[3] Marcos 10:45; Isaías 53:11,12; 52:13-53-12; Lucas 22:27; João 13:13-15; Filipenses 2:6-8; 2Coríntios 8:9; Daniel 7:14; João 3:16,17; Mateus 6:13
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1166
FITCH, W. Isaías: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.732. Reimpressão
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1356. Reimpressão

domingo, 18 de outubro de 2009

SEM DESCULPAS EVASIVAS

“Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-Me” – Marcos 10:21b

NOSSA VIDA é feita de escolhas. Pode até ser que terceiros venham nos influenciar, mas, no final, na hora de bater o martelo, somos nós mesmos que temos que escolher qual caminho seguir, seja em termos de ideais ou definição de toda uma vida que vale, em geral, para sempre. E isso nos trará sérias repercussões que podem deixar rastros dos mais variados possíveis para o resto da nossa vida. Amargos ou não, são rastros que absorvem as marcas de uma decisão definitiva que somente a nós pertence, já que temos que fazer a nossa parte por mais difícil que seja tomar tão extremada iniciativa. Muitas vezes isso se torna em grande e complicado dilema, uma incógnita que nos perguntamos se realmente vai valer a pena. Porém, a resposta só a teremos quando mergulharmos de cabeça, e irmos até o fundo, às vezes à custa de muitas lágrimas, posto que nada daquilo que seja sério nesta nossa vida seja adquirido, assim, como se diz, de mão beijada, subitamente. Ou seja, com facilidades. Sem contar que certas tomadas de decisão ainda podem respingar sequelas em quem estiver por perto ou ligado a nós, ou de um jeito ou de outro, interferindo em suas decisões e destino. É como se fôssemos postos à prova a todo instante num teste de resistência para podermos contar mais tarde, não se sabe para quem ou como se fosse um ótimo ensejo para uma reflexão, depois, que sirva talvez para nossos filhos ou para os outros de uma possível e futura consangüinidade ou mesmo para contarmos numa roda de amigos como experiência de vida. Ou ainda que sirva de pauta na mídia como um belo exemplo a ser especulado diante dos infortúnios do nosso tão atribulado dia a dia em que vivemos até mesmo atordoados diante de tantos conflitos e contrassensos. Só que muitas vezes muitas águas vão rolar, muitos corações vão sangrar, vão verter nossas seivas corpos adentro, e ardentes, dilacerando uma vida inteira que só continua graças ao incomensurável amor dAquele que sabe todas as coisas, como sempre, o SENHOR nosso Deus, depois de um rio que foi passando aos trancos e barrancos rasgando e deixando feridas neste desafio constante de querer seguir em frente. De querer seguir até o fim. De querer ser gente, não qualquer coisa à toa fincada na proa desta embarcação que voa de vento em popa sem pedir passagem nem medir esforços até aquele inevitável dia. Ou seja, a nossa vida tem que continuar, já que todos temos as nossas responsabilidades, posto que também vivemos de propósitos e de propostas que nos incumbiu o divino Criador antes mesmo da fundação do mundo. Antes mesmo de sermos criados, tendo em vista a onipresença e a onipotência deste nosso poderoso Deus que nos sonda e nos conhece desde os nossos próprios pensamentos, assim como todos os nossos próprios caminhos. Daí, a importância de sabermos discernir as vias e vielas, portas e janelas, assim como as veredas e entranhas destas nossas escolhas, por onde elas vão seguir, em que vão dar e nos levar depois, aonde e quando elas vão chegar, e se elas vêm mesmo de Quem no-las outorgou.

É certo que no roteiro desta nossa viagem muitas coisas nos chamam atenção e nos atraem. Muitas não passam de lisonjeiras tentações. É certo também que não conseguimos alcançar todas elas, nem tudo o que queremos, nesta vida, mas escolher uma significa renunciar à outra ou a muitas outras. Veja a história de Salomão. Ele não pediu os desejos comuns de um monarca qualquer, ou seja, vida longa, riquezas ou a morte de seus inimigos, mas, preferiu a sabedoria e o conhecimento a todos os outros bens deste mundo. A escolha de Salomão foi tão considerada por Deus e marcante no seu reinado que lhe foram dados tantas riquezas, bens e honra os quais não teve nenhum outro rei antes dele, e nem depois dele haverá, ratifica a Bíblia, cujos especialistas identificam este esplendor e poder do reinado de Salomão como o resultado da sabedoria divinamente conferida a ele. No decorrer de toda a nossa vida temos que fazer, desfazer ou refazer as nossas próprias escolhas, todos os dias, e sobrevivermos a todos estes procedimentos, superando obstáculos, dimensionando o tamanho dos nossos sonhos, das nossas metas e de como encararmos o nosso porvir, individualmente ou em nossa comunidade, seja como instituição pública ou privada, laica ou religiosa, ou como liderança em cada uma delas, e mesmo como pais dentro da nossa própria família, tendo em vista um projeto de vida criativo, que produza resultados positivos, que sirva de lenitivo e preencha possíveis deficiências ou quaisquer outras lacunas, e que contribua para o bem-estar e qualidade da nossa própria sobrevivência, e também dos outros, o que nos leva a refletir sobre qual o formato deste projeto que idealizamos para hoje e para os próximos anos de toda a nossa vida. Como andam as nossas escolhas para alcançarmos tais objetivos? Quais as personagens deste plano? Temos colocado estas escolhas diante de Deus? Qual é o plano de Deus na dimensão destes nossos planos e escolhas ou vice-versa?

Dizem os especialistas que, em sua sabedoria, Salomão prefigurou a nosso Senhor Jesus Cristo, que, por meio do Seu Reino próspero e pacífico, representa uma nova liderança da dinastia de Davi por ser também a sabedoria e o poder do Deus encarnado e em Quem estão ocultos todos os tesouros desta sabedoria e desta ciência. Consideram ainda que esta sabedoria e poder de Deus não são forças abstratas, mas, sim, qualidades pessoais que se manifestam plenamente na vida, nos ensinos, na morte e na ressurreição do Senhor Jesus. Como Filho de Deus, este mesmo Senhor, em Cristo, foi escolhido pelo Pai para resgatar um povo que este mesmo Deus escolheu para ser Seu. Moisés também foi escolhido por Deus para livrar o povo hebreu da escravidão egípcia, e levá-lo a uma terra fértil, boa e larga que mana leite e mel. Moisés e Cristo são comparados quanto à fidelidade e contrastados quanto à honra. Mediador humano do antigo pacto, Moisés foi chamado apenas para ser servo, embora um servo especial, e sem paralelo, do SENHOR. Tinha o privilégio de falar face a face com Deus e ver a Sua forma. Os israelitas traçavam até ele seu senso de posição e chamada como povo consagrado de Deus. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar”, diz a Bíblia. Porém, como agente da criação, Cristo merece a honra como o construtor divino de todas as coisas e, “como Filho, sobre a Sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim”, confirmam os estudiosos, assim como as próprias Escrituras, concluindo que, semelhantemente aos israelitas, os crentes são dedicados e chamados por intermédio do Senhor Jesus, o Mediador do novo pacto, “porque, assim, o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos.” Moisés e Cristo, ambos escolhidos e, obedientes a um chamado, também tiveram o privilégio de escolher, abraçando um mandado do SENHOR nosso Deus e Pai quanto à realidade da esperança e a confiança de um mundo melhor; de um povo regenerado, assim como a herança da vida eterna, longe das armadilhas do pecado. Herança esta que ainda hoje nos leva a refletir sobre as influências das nossas próprias escolhas em nossa vida presente e futura. A Palavra de Deus, segundo os Evangelhos sinóticos, narra o episódio de um jovem rico a quem o Senhor Jesus propõe uma decisiva escolha, quando este jovem Lhe pergunta o que faria para herdar a vida eterna, a que Jesus respondeu: ou segui-Lo, renunciando a todos os bens que possuía, vendendo-os todos, ou dando-os aos pobres por conta de um tesouro no céu; ou ficar com tudo, e não segui-Lo. Diante desta resposta do Senhor, a Bíblia diz que o jovem “pesaroso desta Palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades”. Então, Jesus disse a Seus discípulos: “Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus!”, enquanto Seus discípulos admiravam-nO ainda mais, e perguntavam entre si: “Quem poderá, pois, salvar-se?” Jesus, porém, olhando para eles, disse: “Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis”. É certo que a Palavra de Deus não está de brincadeira para com nenhum de nós, posto que ela trata da nossa própria salvação, de uma situação que, em especial, consta nos planos e propostas de Deus para cada um de nós. Deus nos deu a liberdade de escolha, sim, porque Ele não é nenhum impostor, nenhum déspota, mas também nos deu a responsabilidade para podermos fazer tais escolhas e arcarmos com as consequências das nossas decisões, conforme aquilo que Ele tem traçado para o bem de cada um de nós desde os mais remotos tempos, posto que Ele é pura benignidade. O Senhor não nos quer para o mal, e nem nos faz mal algum, nós é que nos entrincheiramos por caminhos estranhos e adversos, iludidos por falsos poderes, afastando-nos daquilo que Ele tem para nos oferecer. O salmista diz que a lei de Deus é uma delícia para ele, e ainda: “As Tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me inteligência para entender os Teus mandamentos”. Por piores que possamos estar em qualquer situação, por mais que as consideremos intransponíveis diante das dificuldades, devemos sempre ter fé e encarar tudo de frente porque aquilo que pensamos ser impossível para nós, para Deus tudo é possível, já que é o Deus da nossa salvação. O SENHOR é a nossa luz, a nossa salvação, a força da nossa vida. A quem temeremos? De quem nos recearemos? A Palavra de Deus é exigente, sim, porque ela é poderosa para nos salvar de qualquer caminho errado em que nos infiltremos ou por ignorância ou por arrogância nossa ou soberba própria dos homens. Nós só temos é que obedecer. Por tudo isso é que temos que tomar decisões radicais em nossa vida, pois se nos é dada a chance de escolher, também temos o privilégio de sermos escolhidos, e quando Deus nos escolhe, não há outro jeito, é segui-Lo, sem desculpas evasivas, e ponto final. Dos céus, o SENHOR nos chama, convocando-nos a sermos perseverantes na fé, a irmos em frente, se as nossas escolhas são realmente verdadeiras, ou seja, do agrado dEle. Ele também nos chama para os céus, uma pátria superior e eterna herança daqueles que são chamados, já que esta é uma herança e, se assim o é, não se ganha, não se conquista como prêmio, como recompensa por nossas boas obras, mas é dada gratuitamente, é dom de Deus, porque pela graça somos salvos, por meio da fé; não vem de nós nem das nossas obras, para que ninguém se glorie. A nossa salvação vem apenas do SENHOR nosso Deus por meio da soberana iniciativa divina, e não por esforços humanos. Nós só temos é que cumprir as nossas obrigações, fazer a nossa lição de casa; o resto é com o nosso Salvador, pelo Seu imenso amor intermediado pelos méritos do Senhor Jesus, não pelos nossos, pois não temos mérito nenhum que possa nos levar a sermos salvos por nós mesmos. Que o Espírito de Deus nos oriente neste sentido, hoje e sempre, diante de todas as nossas escolhas.

REFLEXÃO DE HOJE
“Então Jesus, olhando em redor, disse aos Seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas Suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus. E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.” – Marcos 10:23-27

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:73-80; Amós 5:6-8
Hebreus 3:1-6; Marcos 10:17-31

NOTAS
[1] Salmo 119:73; 139:1-24
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 432-438
[2] 1Reis 3:3-15; 2Crônicas 1:7-12; 1Reis 10:14-29
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 394, 395, 499
ELLISON, H. L. 1 e 2Crônicas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.417. Reimpressão
ELLISON, H. L. 1 e 2Reis: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.354. Reimpressão
[3] Isaías 11:1,2; Mateus 1:1; Colossenses 2:3; 1Coríntios 1:24,30; Romanos 1:4,16; Jeremias 2:7; Êxodo 3:8; Hebreus 1:2,10; 3:1-6; Números 12:5-8; Hebreus 2:11; Mateus 19:16-30; Marcos 10:17-31; Lucas 18:18-30; Salmo 119:73,77; 27:1-3; Hebreus 9:15; 11:16; 12:25; Salmo 3:8; 68:19,20; Efésios 2:8,9
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 804, 1466
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1353, 1354. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1009, 1010. Reimpressão