terça-feira, 1 de setembro de 2009

SEM QUERER, QUERENDO...

“(...) hipócritas (...). Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim; em vão, porém, Me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens, porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens (...)” – Marcos 7:6b,7,8a

SEM QUERER botar o dedo na ferida ou na cara de ninguém, sem nenhuma exposição vexatória, aqui e agora, nem apontar culpados, muito menos acirrar os ânimos dos que se consideram intocáveis sabe-se lá por que razões ou justificativas apropriadas ou não, longe de tudo isso, e muito mais, longe até mesmo de certas arrogâncias, mas apenas com o cuidado de uma atenta, sincera e particular preocupação, assim como de uma reflexão que se deve brotar do íntimo de cada um de nós sobre o zelo que devemos praticar diante das coisas de Deus, Supremo Criador nosso e de todas as coisas, e diante de nós mesmos, sejamos nós simples mortais ou quem se vê acima destes quesitos todos por também sermos crias deste mesmo Deus, com vistas àquilo que Ele nos ordena, nos manda vigiar e seguir sem tergiversações, posto que todos somos passíveis de erros, de cometermos deslizes, ou mesmo crueldades, enlevados por certas e cotidianas hipocrisias mundanas por sermos falhos por conta da nossa natureza humana decaída. Quantas vezes já não nos deixamos ser levados por conversa fiada, por afiadas aleivosias, certos de que somos o dono da verdade, mesmo defrontados com incontestáveis balelas apenas por não aceitarmos o confronto por parte de nossos possíveis antagonistas. Somos humanos, sim; cheios de defeitos, sim; mas certas ocasiões só nos colocam em situações ridículas, não importa qual a nossa posição social, a nossa função ou cargo, ou mesmo o segmento que assumimos diante da comunidade, mesmo sendo um legítimo representante dela; autoridade esta dada pelo próprio Deus, que, muita vez, não levamos em consideração, e fazemos tudo de qualquer jeito, ou melhor, do nosso próprio jeito, irresponsável e irrefletidamente; ou mesmo por ignorância. Até que ponto temos cumprido o nosso papel como seres humanos, porém, criados à imagem e semelhança do divino Criador, e como cristãos, considerando os nossos melhores dons em benefício do bem-estar e do crescimento natural e espiritual dos outros, seja este outro quem for? Até que ponto temos nos esforçado para abandonarmos pelo menos um pouquinho deste nosso mundinho, destas nossas mesquinharias, e fraquezas, desta nossa estupidez e mesmices, longe de certos costumes e tradições, invalidando o mandamento de Deus, os Seus ensinamentos, a Sua Palavra viva até nossos dias, o Seu Evangelho – a dádiva maior que os homens podem receber e obedecer? Será que realmente temos parado para pensar nisso em meio à correria do nosso dia a dia envolvido na retórica do consumismo, das nossas ostentações e outros tantos apetrechos periféricos? E o nosso coração? E a nossa alma? E a nossa vida íntima quanto àquilo que verdadeiramente nos edifica? E a nossa vida íntima com Deus?

Ao exortar o povo de Israel à obediência, um dos seus maiores profetas nos chama a atenção, lembrando-nos de que a Palavra de Deus não pode ser distorcida. Além de ser guardada dentro do nosso coração todos os dias da nossa vida e cumprida tal como manda o SENHOR nosso Deus, esta deve ainda ser sempre lembrada a nossos filhos e aos filhos de nossos filhos. “Não acrescentareis à Palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que Eu vos mando (...). Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.” A insistência de Moisés para ouvir e obedecer a Palavra de Deus é frequente, certo de que estes estatutos são as regras de conduta permanente que devem ser gravadas, esculpidas, e dirigidas ou ao indivíduo ou à consciência da nação. Ainda segundo os especialistas, juízos são como uma decisão determinada por um juiz que profere os juízos ou sentenças, ou seja, os atos decisivos de Deus ao julgar os maus e vingar os inocentes. Daí, estatutos e juízos abrangerem as leis e os preceitos e, não raro, estas palavras aparecerem juntamente e até com o vocábulo “mandamentos”. É certo que num mundo tão carnal, não é tão fácil assim obedecer a Deus, daí tanta insistência do profeta, posto que também neste contexto não é tão fácil agradar a Deus, que é espírito. Mas este é um gesto de amor e de gratidão, e o espírito é que vivifica; a carne para nada aproveita, parafraseando aqui o próprio Jesus que diz que as Suas palavras são espírito e vida, ou seja, o pão da vida que sustenta para a vida eterna. Assim, obediência é coisa séria. Não é dando um jeitinho aqui e ali nos textos bíblicos para agradarmos a uns e a outros, para estarmos na moda, que vamos conseguir agradar a Deus; ou mesmo por não gostarmos ou não concordarmos com algumas passagens, utilizando-nos de certos jargões e estilos pós-modernistas ou mesmo de procedimentos hoje em dia tão costumeiramente conhecidos, fugindo daquilo que “está escrito”, como Satanás tentou tapear Jesus. Satanás não conseguiu. Foi derrotado exatamente porque Jesus fez uso da Palavra de Deus. Quer queiramos ou não, lá “está escrito” como nossa regra de fé e prática. Quem somos nós para contendermos com o próprio Deus como se o oleiro fosse igual ao barro? Por isso é que não devemos acrescentar nada além da própria Palavra para que não sejamos derrotados ou tachados de mentirosos.

Se os estudiosos concluem que a Palavra de Deus a Moisés devia ser tratada como sagrada e mantida inviolável, a fidelidade de Israel também seria um testemunho diante do mundo de que Deus estava próximo de Seu povo, e que as Suas leis eram justas, portanto, salientando esta responsabilidade pactual dos pais para com seus filhos, aliança esta que ainda perdura em nossos tempos para com nossos filhos. O próprio Jesus abençoou as crianças. Assim, estar de bem com Deus é estar de bem com a nossa própria vida, não transgredindo a Sua Palavra e entrando no time dos que pactuam com os Seus mandamentos, mesmo diante de tanta tribulação e tantas outras tentações que este mundo insiste em nos oferecer; este mundo hipócrita, em que impera o cinismo, até mesmo no meio daqueles que se autoidentificam como crentes. Ainda bem – ou mal, sabe-se lá, diante das circunstâncias –, que todo mundo é crente. Difícil é ser verdadeiramente cristão nesta parafernália toda que mais parece uma Torre de Babel e que nem se distingue uma ordem terminantemente distintiva que enfatiza a diferença entre a Palavra de Deus e a palavra do homem. O próprio Jesus insiste nesta distinção: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos Céus.” E novos avisos ainda se fizeram ouvir depois que se completaram os oráculos: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro, e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.” São as maravilhas da Palavra de Deus, anunciadas para o nosso bem, do começo ao fim, do Antigo ao Novo Testamentos. São as maravilhas destas boas-novas da salvação à disposição daquele que crê, daquele que não vive atrás de doutrinas ou costumes, de tradições, e coisas neste sentido, que são mandamentos de homens, já que a Palavra de Deus deve ser protegida da corrupção e diferenciada das palavras meramente humanas; das palavras que são pronunciadas apenas e tão somente da boca para fora, que não vêm de dentro do coração, porque, se elas forem sinceras, e fundamentadas na própria Palavra de Deus, elas têm poder, “a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nEle crer não será confundido.”

REFLEXÃO DE HOJE
“NO DEMAIS, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do Evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos, e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do Evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.” – Efésios 6:10-19

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:129-136; Deuteronômio 4:1-9
Efésios 6:10-20; Marcos 7:1-23

NOTAS
[1] Salmo 14:1-3; 53:1-3; Romanos 3:9-12
[2]Deuteronômio 4:2,6-9; 5:1; 1:1; 12:1-26:19; Mateus 19:17; João 6:63; Deuteronômio 8:3; Mateus 4:1-17; Provérbios 30:6; Isaías 29:16
MANLEY, G. T. Deuteronômio: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.229, 230. Reimpressão
[3] Deuteronômio 4:2; 12:8,32; Apocalipse 22:18,19; Deuteronômio 6:7; 11:19,20; Mateus 19:14; 18:1-9; Atos 2:39; Gênesis 11:1-9; Mateus 5:17-19; 15:6; Apocalipse 22:18,19; Romanos 10:9-11
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 206, 1550