segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DE MÃOS LIMPAS

“Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em Meu nome e possa logo falar mal de Mim” – Marcos 9:39b

NESTE mundo em que tudo é para ontem, tudo é rápido, como se estivéssemos fugindo do bicho papão, ou sabe-se lá de quê, apenas por insistirmos estar na crista da onda, e por priorizarmos estar sempre à frente dos nossos antagonistas, fazemos de tudo para podermos aparecer utilizando-nos de meios dos mais absurdos possíveis e impossíveis que passam por nossa imaginação, quando não lutamos com unhas e dentes em busca deles, doa a quem doer, apenas para que nossos intentos sejam satisfeitos. As intenções aí são das mais diversas, assim como as vias para acessarmos e chegarmos até a consumação delas. Hoje, diante de todos os meios à nossa disposição, muitos de nós em vez de ajudarmo-nos uns aos outros, prevenindo estas más intenções com vistas a um mundo melhor e de paz, envolvemo-nos em toda esta agitação, e damos as nossas próprias mãos, sujando-as até então. Não que não devamos ser eficientes na excelência daquilo que propomos ou que não devamos batalhar por aquilo que cremos e queremos, mas que estejamos bem longe das intrigas, ciúmes, invejas, orgulhos, presunções e fanatismo deste mundo. Tudo isso não nos leva a nenhuma edificação – nem de nosso corpo nem de nossa alma nem de nós mesmos, como um todo, na nossa comunidade, na nossa família, nos nossos filhos, e diante de todos os demais. Entretanto, nos iludimos, pensando estar com aquela corda toda, posto que em menos ou mais dia, atrelada a nosso pescoço, esta ruirá do mais alto que estivermos. É quando já é tarde! Ou já vamos tarde? Depende do lado em que estivermos. Mas como de coisas ruins não nos descartamos tão fácil assim, muitos de nós ainda continuamos engrossando as fileiras dos adeptos daqueles que não importam que falem, mesmo que falem mal, mas que falem de nós. Assim, o importante é estarmos na boca do povo, custe o que custar, não importa o teor desta falação. “Falem mal, mas falem de mim”, confirma um certo homem público bem conhecido por seus caracteres pouco ortodoxos de gerir o erário, além da sua autoria de outros tantos fiascos. “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”, alerta o apóstolo Paulo, preocupando-se com as necessidades e interesses dos outros, posto que este seja o melhor alvo para onde deveríamos direcionar todos os nossos atos, estando nós em que esfera estivermos na sociedade, sem nenhuma retórica ou hipocrisia; sem nenhum exclusivismo arrogante e sectário.

Na sua difícil missão de conduzir o povo eleito, em meio a exigências, idolatrias, revoltas e murmurações, Moisés, apesar de haver-se dedicado totalmente ao serviço do povo de Deus, e de considerar pesado este seu cargo, ele também se emocionava com as lágrimas dos israelitas. Por meio de suas orações, Deus lhe ouvia, e respondia os seus pedidos. Foi assim que lhes vieram o maná, as codornizes, os 70 anciãos para ajudarem Moisés, dentre outras promessas cumpridas pelo SENHOR nosso Deus. “Escolhe 70 homens que estejam em condições de colaborar contigo; sobre eles farei descer o mesmo Espírito que se encontrava em ti”, disse Deus a Moisés, e assim o fez, de modo que, “quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais”; servindo para autenticar a liderança destes anciãos. Ora, havia dois anciãos do povo, Eldade e Medade, que, embora não tivessem participado daquele evento dos 70, também receberam o Espírito de Deus e se tornaram profetas, exatamente como os outros 70 anciãos. Armou-se uma grande confusão, posto que pessoas estranhas tinham recebido o mesmo dom de Deus, sem fazerem parte do grupo dos escolhidos. Escandalizado com este acontecimento, Josué, servo de Moisés, e eminente personagem no seio dos israelitas, receando pela reputação do seu senhor – o único a quem competia a suprema direção do povo –, pediu para que Moisés interviesse a fim de impedir que aqueles dois homens profetizassem. Sem sentir qualquer ponta de inveja pelos demais auxiliares, na sua grandeza de ânimo, segundo os especialistas, Moisés simplesmente respondeu, alegremente: “Tens tu ciúmes por mim? Quem me dera que todo o povo do SENHOR fosse profeta, e que o SENHOR pusesse o Seu Espírito sobre ele!” Esta é a Palavra de Deus! Que excelente exemplo para todos nós, principalmente para quem tem ou almeja algum cargo de liderança secular ou no ministério eclesiástico. Qual seria a nossa postura, igual à de Josué ou à de Moisés, diante de nossos colaboradores? Será que somos nós que comandamos o Espírito de Deus ou Ele age como, quando e em quem quiser? Será que a escassez de resultados e o excesso de nossas preocupações não dependem, pelo menos parcialmente, de nós que estamos na liderança e achamos que podemos resolver tudo sozinhos? Até que ponto, por ciúmes, inveja ou insegurança, não boicotamos o bom andamento de um trabalho, as esperanças e sonhos de nossos auxiliares com medo de perdermos o nosso lugar de destaque na empresa, na Igreja ou em qualquer outra instituição, ignorando que, se Deus realmente nos deu qualquer posição em qualquer lugar, ninguém a tirará de nós? É bonito despejarmos elogios a alguém diante dos aplausos de uma efusiva platéia. Mas será que estamos sendo realmente sinceros ou fingindo de bonzinhos pela causa de um possível proveito próprio?

É certo que ás vezes é difícil distinguirmos quem realmente está conosco ou quem está contra nós neste mundo hipócrita e calculista. É certo que também não é fácil apontarmos quem são nossos amigos ou inimigos. Alguém pode se declarar nosso fiel amigo, e, na hora de que mais precisamos dele, na hora de praticar isso tudo, pode nos trair, tirando o corpo fora, deixando o nosso cair na lama e às feras. Para nossa surpresa, alguma outra pessoa, até então, considerada adversária, por nós atacada e até caluniada, pode se revelar como nosso parceiro de confiança, que luta por nossa causa até o fim, venha o que vier nestas horas tão importantes. O Senhor Jesus nos alerta em um outro episódio que pode nos levar à reflexão sobre a nossa sabedoria e discernimento na hora de lidarmos com os dons das pessoas, sejam elas do nosso grupo ou fora dele. O importante é não posarmos de fanáticos, orgulhosos ou presunçosos, e pensarmos que somos os donos do pedaço, e que, ao fazermos parte de um determinado grupo, ninguém mais poderá entrar nele. Temos que abrir mão deste exclusivismo arrogante e sectário. Infelizmente, entre os discípulos de Jesus isso também acontecia. Temos a mania de pensarmos que somente nós ou nosso grupo é que podemos tudo, que podemos praticar qualquer ato que quisermos; qualquer arbitrariedade. Somente nós é que somos os melhores, e ninguém mais tem este direito. Fanatismos, sectarismos, ciúmes, invejas, arbitrariedades e discórdias à parte, o que vale mesmo é o bom desempenho dos nossos dons com abnegação e generosidade, sem a preocupação com o que os outros podem fazer, sem glosarmos o trabalho deles diante da comunidade, se é melhor ou pior do que o nosso, e sem os tacharmos de intrusos, quando eles simplesmente só querem nos ajudar. E sem inseguranças; sem o medo de perdermos o nosso espaço de poder e de prestígio que conseguimos até então. Sem o medo de sermos felizes também, dando uma chance aos outros. Temos que ajudar os outros a serem úteis e desenvolverem os seus melhores dons para o bem dos seus semelhantes, e de si mesmos, e também serem felizes, sem cometermos nenhum escândalo, nenhum tropeço. Sem deixarmos nenhuma dúvida daquilo que realmente somos, mas que não temos o monopólio de nada. Deus deu a cada um de nós aquilo que somos capazes de fazer. Basta percebermos isso e irmos em frente, sem contendas, de mãos limpas, com todo o ânimo, humilhando-nos diante dEle para que Ele possa nos exaltar diante dos outros. Nas Suas lições de discipulado, o Senhor Jesus, conforme narrações de Marcos, salienta-nos o dever da bondade e tolerância mútuas, e enfatiza a nossa disciplina pessoal, quando João, mencionando um exorcista anônimo, que não seguia a Jesus, portanto, não era do grupo dos Seus discípulos, mas que expulsava demônios em nome de Jesus, diferentemente do caso do menino que tinha um espírito mudo, mas que os próprios discípulos não conseguiram expulsar os demônios dele, e também do caso dos exorcistas judeus que o maligno não reconheceu seus poderes, mas, sim, os de Jesus e de Paulo, o evangelista destaca, na opinião dos especialistas, a sinceridade e eficiência deste exorcista, não obstante todos os seus defeitos. João queria que o senhor Jesus proibisse os trabalhos deste exorcista pelos quais as vidas estavam sendo abençoadas e libertadas do poder do mal, mas que, talvez, este homem não reconhecesse a autoridade dos Doze. Sem tirar a prerrogativa dos Doze, mas percebendo o orgulho e exclusivismo deles, Jesus Se recusa a condenar aquele de quem os discípulos estavam falando. Em vez disso, o Senhor Jesus ensina que o apoio e a comunhão de todos os que defendem Sua causa devem ser gratamente reconhecidos. “Porque quem não é contra nós, é por nós”, diz, para, em seguida, advertir solenemente contra os escândalos que possam fazer tropeçar aqueles de pequena importância para o mundo, “os pequeninos”, os fracos na fé. Os especialistas comentam que comprometer a confiança destes através do uso egoísta e inconsiderado de poder exige a mais severa punição. O apóstolo Paulo diz que é bom nem comer carne nem beber vinho nem fazer outras coisas que possam fazer tropeçar nosso irmão ou que o escandalize ou que o enfraqueça na fé. “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!”, avisa o próprio Senhor Jesus para Quem é melhor entrarmos no Reino dos Céus aleijados ou cegos, faltando um de nossos membros, ou mesmo o nosso próprio olho, do que irmos para o inferno com o nosso corpo todo perfeito, numa clara alusão a que é muito difícil renunciarmos os nosso hábitos pecaminosos, mas que devemos perseverar, insistindo na nossa fé e nos nossos serviços, com humildade com vistas a nossa própria paz, seja na Igreja ou em qualquer outro lugar da nossa comunidade. Não devemos temer a cirurgia espiritual para salvar a vida da alma, nos dizeres de J. D. Jones, para não sermos lançados no fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, ou seja, no inferno.

REFLEXÃO DE HOJE
“E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado no mar. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no Reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.” – Marcos 9:42-48

LEITURAS DE HOJE
Salmo 19; Números 11:4-6,10-16,24-29
Tiago 4:7-12; Marcos 9:38-50

NOTAS
[1] Judas 3; 1Tessalonicenses 5:22; 1Coríntios 6:12; 10:23,24; Efésios 4:29; Filipenses 2:3; Gálatas 5:26
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1414
[2] Números 11:4-6,10-16,24-29
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 173
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 412-420
MAC RAE, A. A. Números: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.200. Reimpressão
[3] Marcos 9:38-50; Tiago 4:8,10; Marcos 9:38-42,43-50; Atos 19:15-16; Marcos 9:18; Mateus 18:7; Romanos 14:21; Isaías 66:24; Mateus 10:28
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1007, 1008. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1163, 1164