segunda-feira, 18 de maio de 2009

NÃO ESTAMOS SÓS

“E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:16,18)

NÃO SÃO tão raras as ocasiões em que presenciamos pessoas às multidões tropeçando entre si, multidões estas que andam vagando pelos campos e cidades; que vivem chafurdadas nesta atmosfera do seu próprio mundo em meio a tanta solidão interior, mesmo tendo, muitas delas, condições de vida material que poderiam proporcioná-lhes um viver bem mais confortável neste mundo. Porém, lhes falta algo que, muitas vezes, nem elas mesmas sabem o que é, e que, no entanto, persistem neste vazio. E elas sobrevivem, assim, enfadadas, sozinhas, mesmo comprometidas, no meio de tanta gente desta multidão, com seus negócios, seus afazeres cotidianos, com pessoas que se dizem suas amigas, mas que, mesmo assim, continuam sentindo-se inúteis inventando o que fazer em suas futilidades na tentativa de preencher tamanha lacuna, uma incógnita que lhes perturba corriqueiramente. Muitas destas pessoas, assim, em meio a esta multidão, assim, de longe, parecem estar com tudo em dia. Parecem não lhes faltar nada. Parecem ter e estar em paz. No entanto, de perto, lá no seu íntimo, é uma confusão só! São tantas as inquietações, perturbações e prisões advindas das correntes deste mundo, ou seja, do pecado, tais como uma doença, uma dor incessante, superstições, idolatrias, vícios, notadamente das drogas ilícitas, ou até mesmo a morte, dentre tantas outras situações que tanto lhes atormentam, e que, sorrateiramente, escravizam. São tantas as aflições deste mundo que, regidas pelas forças das trevas, nós, pelas nossas próprias forças, não somos capazes de superá-las nem de suportá-las sozinhos, posto que, em sua hostilidade a Deus, o mundo está impregnado dos propósitos do diabo, que aprisionou a raça humana pela tentação, e que por meio de seus oráculos age continuamente por este mundo afora com a incumbência de confundir-nos quanto ao que a Bíblia chama de “o Espírito da Verdade e o espírito do erro”. Se vivemos assim, de um lado para outro, sem alvo ou objetivo em nossa vida, notadamente na nossa vida espiritual, cumprindo apenas o trivial, sem aquele algo mais consistente e zeloso que nos garanta uma segurança naquilo que defendemos, ou seja, na nossa fé, ou mesmo naquilo que agimos – se é que defendemos alguma coisa consistente neste sentido –, deixamo-nos estar na mira dos chamados falsos profetas, que são conduzidos pelos falsos espíritos que se têm levantado neste mundo, defendendo o espírito deste mundo. Se não recebemos o espírito deste mundo, “mas, sim, o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus”, não “com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras que o Espírito Santo ensina”, aí, sim, podemos comparar coisas espirituais com as espirituais; coisas do espírito com as da carne, colocando cada uma destas coisas em seu devido lugar. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e de ninguém é discernido, porque, quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lO? Mas nós temos a mente de Cristo”, distingue o apóstolo Paulo, contrastando o homem como ser inteligente, mas caído, com o homem como ser espiritual, e regenerado pelo Espírito.

O Senhor Jesus ao preparar os Seus discípulos sobre a Sua iminente partida, confortando-os, anuncia-lhes que estes não estariam permanentemente separados da Sua presença; que eles não estariam sós assim que Ele partisse para o Pai. E, falando-lhes do amor fraternal, isto é, daquele novo mandamento já tão largamente acentuado, cujo cumprimento se espelha nas palavras: “Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis”, referiu-Se ao propósito de Sua partida e o destino de Seus discípulos; que não deem lugar ao medo; que tenham fé em Deus e também nEle, pois Ele iria preparar-lhes um lugar; que Sua retirada deste mundo seria necessária para que, mais tarde, Ele pudesse voltar e recebê-los eternamente. Com relação ao cumprimento deste novo mandamento disse ainda: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Depois de uma controvérsia entre os discípulos, Jesus afirma que Ele é “o caminho, e a verdade e a vida” e que ninguém iria ao Pai senão por meio dEle, já que a meta é o conhecimento do Pai e este conhecimento somente Ele poderia conceder. Ele iria, então, para preparar-lhes o lugar junto ao Pai. Assim, conhecer a Jesus é o mesmo que conhecer a Deus, Seu Pai. Atentemos que estes momentos de supremo conforto oferecidos por Jesus aconteceram em ocasiões que também foram momentos de grandes tensões envolvidos pela sombra da traição de Judas e pela negação de Pedro, apenas algumas horas antes da agonia do Getsêmani e da morte na cruz. Contudo, segundo os comentaristas, estas afirmações de conforto, de segurança e firmeza na fé transmitidas aos discípulos imprimiram um sentido de sublime paz que visavam ministrar aos temores deles, em vez das próprias necessidades de Jesus. O Senhor Jesus, até então, considerado como nosso Advogado, ou seja, Aquele que sempre está ao nosso lado, consolando-nos e prestando assistência na defesa dos pecadores, na verdade, estava falando tudo isso para dizer que iria mandar-lhes outro Advogado, outro Consolador, ou seja, que Sua retirada lhes significaria o derramamento do Espírito, cujo poder operaria neles para a execução de obras gloriosas. Assim, prometendo que não deixaria órfãos os Seus discípulos, mas que voltaria, disse: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador para que fique convosco para sempre. O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis porque habita convosco, e estará em vós”, numa alusão, não só ao Pentecostes, assim como à Sua segunda vinda, mas que também estas palavras são apropriadas para a esperança da Igreja dos dias de hoje em que todos estes eventos sevem-nos de reflexão para nós mesmos – para cada um de nós, sem exceção – , já que Jesus voltará para levar com Ele os redimidos.

Quão maravilhoso é este nosso Deus que, mesmo sendo nós miseráveis pecadores, e que, por isso mesmo, somos tão desobedientes, fracos e falhos, principalmente quando se tratam das coisas do alto, assim mesmo, este mesmo Deus não olha para estas nossas fraquezas, mas Se detém na Sua imensa misericórdia a ponto de Se humilhar por meio de Seu Filho Jesus Cristo, que Se encarnou, Se fez homem, sofreu e morreu na cruz para o resgate de muitos destes mesmos pecadores. E mesmo depois da vitória da cruz, cujo projeto de salvação culminou com Jesus Cristo ressurreto voltando-Se para o Pai, ambos, o Pai e o Filho, ainda nos deixam outro Consolador, o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo, ou seja, o Espírito da Verdade, exatamente para convencer o mundo do pecado – para muitos estudiosos, um desmascaramento da imperdoável culpa da humanidade pela sua incredulidade. Como um combustível que age em nós, fazendo-nos agir também, o Espírito Santo é aquele companheiro de sempre em nosso dia a dia que nos dá vida, que nos move, e cuja obra é glorificar a Jesus Cristo, pois assim como mostrou aos discípulos quem era Jesus e o que Jesus significava para eles, este mesmo Espírito também nos ilumina, regenera, santifica e nos transforma. Ele dá ao povo de Deus aquilo que ele precisa para servir ao Senhor, afirmam os estudiosos, confirmando que o Espírito Santo fala, ensina, testemunha, perscruta, quer e intercede. Tudo isso em nosso favor, provando-nos que não estamos sós, mesmo diante de tanta tribulação e inquietação para quem ainda não conhece este poder transformador do Espírito de Deus, tentações estas que os espíritos contrários tentam nos incutir com o seu jeito próprio deste mundo, desconhecendo que quem é de Deus já os tem vencido porque este Deus é maior do que o que está neste mundo. Assim como em Cristo somos livres para adorarmos este nosso Deus, que nos exigiu que fôssemos santos assim como Ele também é santo, e tendo em vista que é Ele quem nos julga, governa e nos guia, tal como governou e guiou o povo escolhido no deserto, o salmista nos anima a orar no sentido de que Deus que produz tanta coisa a partir de tão pouco, que somos nós, distribuindo estas coisas em amor, possa abençoar-nos de tal modo que nós nos tornemos, por nossa vez, uma bênção neste mundo.Amém!

REFLEXÃO DE HOJE

“Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe; e faça resplandecer o Seu rosto sobre nós para que se conheça na terra o Teu caminho, e, entre todas as nações, a Tua salvação. Louvem-Te a Ti, ó Deus, os povos; louvem-Te os povos todos. Alegrem-se e regozijem-se as nações, pois julgarás os povos com equidade, e governarás as nações sobre a terra. Louvem-Te a Ti, ó Deus, os povos; louvem-Te os povos todos. Então, a terra dará o seu fruto; e Deus, o nosso Deus, nos abençoará. Deus nos abençoará, e todas as extremidades da terra O temerão” – Salmo 67:1-7

LEITURAS DE HOJE

Salmo 67; Levítico 19:1-10
1João 4:1-11; João 14:15-26

NOTAS

[1] João 16:33; 1João 4:1-6; 1Coríntios 2:12-16; 12:3
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1349, 1513
PROCTOR, W. C. G. As Epístolas aos Coríntios: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1196. Reimpressão
[2] João 13:31-35; Levítico 19:18; 1Tessalonicenses 4:9; João 14:1-15; 16-26; 13:21; 1João 2:1,2; Hebreus 7:25; 9:24; João 14:15-18; João 14:3,19,28; Atos 1:11
MACLEOD, A. J. O Evangelho Segundo São João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1090, 1091. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1255
[3] João 16:8; Atos 1:8; 2:1-4,37-41; Hebreus 10:29; João 16:7-15; romanos 8:15-17; Gálatas 4:6; Efésios 1:17,18; João 3:5-8; Gálatas 5:16-18; 2Coríntios 3:18; Gálatas 5:22,23; Atos 1:16; 8:29; 10:19; 13:2; João 14:26; 15:26; 1Coríntios 2:10; 12:11; Romanos 8:26,27; Efésios 2:14; Levítico 19:2; Mateus 5:48; 1Pedro 1:15,16; Salmo 67
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1256, 1259
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 555. Reimpressão
KIDNER, Derek. Salmos 1-72: Introdução e Comentário aos Livros I e II dos Salmos. Trad. por Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1980, 1981, 1987.p. 258, 259. Reimpressão