quinta-feira, 31 de maio de 2012

UM DESAFIO DE FÉ

     “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” - Gênesis 12.1 

     Os homens e seus heróis... Devemos ter heróis? Qual é o seu? A Bíblia também tem seus heróis. Como instrumentos de Deus, os heróis da Bíblia tiveram que enfrentar desafios que pareciam impossíveis aos olhos humanos, mas venceram por causa do nome de Deus. Por causa do poder e dos desígnios de Deus. Muitos desses heróis só seguiram em frente por causa do plano de redenção que Deus havia anunciado e, pela fé, esses heróis enfrentaram obstáculos para fazer a vontade de Deus. Muitos destes heróis estão desfilados na galeria da fé, em Hebreus 11.

      Em meio a essa galeria desponta Abraão que esse mesmo Deus, em Sua soberana e divina graça, prometeu-lhe que lhe mostraria a terra para onde deveria ir, depois de abandonar a sua terra-natal e toda a sua parentela. A ordem era que Abraão teria que ir. Abraão tinha que sair da sua terra. Mas para onde ir? Onde ficava exatamente esse lugar que Deus disse que lhe mostraria? Esse é um dos maiores desafios de fé que um homem pode enfrentar.

     Mas o que nós temos a ver com isso? O que devemos aprender com isso? Qual é a nossa missão, o nosso desafio em meio a tudo isso? O que devemos aprender com Abraão, com seu desafio, seu exemplo, sua missão e ministério?

     Antes de qualquer coisa, rápida e sucintamente, visualizemos o contexto, objetivo e conjuntura de um livro tão vasto, mas tão simples na sua explanação, e tão essencial para nossa compreensão da origem das coisas, segundo o olhar do próprio Criador. Primeiramente, a partir do capítulo 12, as narrativas do livro de Gênesis tomam outro rumo. Aqui começa a saga missionária de Abraão e seus descendentes. Aqui começa a história dos patriarcas.

      O livro de Gênesis pode ser dividido em duas seções principais. Se nos capítulos de 1.1 a 11.9, o tema principal são os eventos da criação, da queda, do dilúvio e da torre de Babel, e abrangem toda a raça humana num período de dois mil anos, os contextos de 11.10 a 50.26 têm como tema central as pessoas, e tratam de Abraão, Isaque, Jacó e José. Ou seja, toda a família de Abraão por um período de 250 anos. Portanto, a maior parte de Gênesis narra a história de Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos.

     Sabemos que a palavra “gênesis” significa “origem”, “princípio”, e, ao longo dos seus 50 capítulos e 1.533 versículos, o livro de Gênesis trata da origem das coisas. A tradição diz que sua autoria é de Moisés, e, resumidamente, traz como tema a obra de Deus na criação e na origem da salvação.

     Nessa conjuntura de salvação, de origem, e de redenção de um povo escolhido por Deus, é que Abraão tem sua importância, segundo os planos de Deus. Assim, a passagem de 11.24 a 25.11 descreve a história de um homem que tem seu nome exaltado como servo de Deus em três das mais importantes religiões monoteístas do mundo de hoje: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, além de ser citado na Bíblia como “o pai da fé”, fazendo jus ao significado de seu nome: “o pai ou líder de muitas nações” (Gênesis 17.5).

     Na passagem de 12.1-9, os versículos de 1 a 3 serão, daqui para frente, uma espécie de marca que acompanhará toda família gerada até agora. Assim como o livro de Gênesis é o alicerce do Pentateuco, ou da Torá, esses três primeiros versos do capítulo 12 são a base do chamado e das promessas de Deus para com Abraão, e do plano de salvação da humanidade.

      As palavras-chave como “grande nação”, “engrandecerei”, “bênção”, “abençoarei”, “amaldiçoarei” e “benditas” contidas nestes versos são promessas dirigidas a Abraão e, através dele, a todo o povo de Israel e, consequentemente, a todos nós.

      A estrutura desse contexto traz uma linguagem que é bem familiar no diálogo entre Deus e Abraão. Era a maneira de como Deus Se comunicava com Abraão. Nesse caso, Deus dava uma ordem, e fazia promessas, e Abraão obedecia, por meio de sua fé, e Deus, assim, confirmava as Suas promessas que Abraão respondia com ações de graça.

      Esta passagem do capítulo 12 e seus versículos de 1 a 9 narra o primeiro desafio de Abraão, dentre tantos outros que viriam pela frente, mas que ele sempre vencia por causa da sua fé e obediência à ordem de Deus. E nós temos muito a ver com isso. Nós devemos aprender muito com isso.

 1. Ordem e promessas de Deus - Gênesis 12.1-3

      “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” 


     Alguns versículos se destacam neste texto:

 a) “Sai da tua terra... vai para a terra que te mostrarei” - v. 1.

    Deus ordena que Abraão abandone sua vida de idólatra em que se envolvia toda sua família. Seu pai, Tera, prestava culto a ídolos, e o deus-lua, Naná, era adorado em Ur, sua terra-natal. No livro de Atos 7.2,3 diz que esta ordem foi dada a Abraão ainda quando ele estava com sua família na Mesopotâmia, que fica na região hoje conhecida como Oriente Médio, mais especificamente, na região do Iraque.

     Deus, em Sua soberana e divina graça, prometeu a Abraão que lhe mostraria a terra para onde ele deveria ir. A ordem era que Abraão teria que ir. Mas para onde? Que terra era essa? Onde ficava esse lugar que Deus disse que lhe mostraria? Onde e como era esse lugar que Abraão nem sequer conhecia? Em Hebreus 11.8 descreve-se que, pela fé, Abraão obedeceu sem saber para onde ia.

      Deus assumiu responsabilidades para com Abraão, nos versos 2 e 3, enquanto lhe atribuiu tarefas, no verso 1. O propósito de Deus era redimir e salvar a raça humana. E que houvesse um homem que verdadeiramente O conhecesse, que O servisse e guardasse os Seus caminhos (Gênesis 18.18,19). A intenção de Deus era que da família desse homem surgisse uma nação escolhida, uma família de pessoas que se separassem das práticas ímpias das outras nações e fizessem a vontade de Deus. [1]

 b) “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome” - v. 2a

     Deus prometeu a Abraão uma terra, uma grande nação através dos seus descendentes e uma bênção que alcançaria todas as nações da terra. Dessa nação é que viria Jesus Cristo, o Salvador do mundo, o prometido descendente da mulher anunciado em Gênesis 3.15, com a queda do homem [2], cujas consequências recaem sobre todos nós ainda hoje. Deus queria constituir um povo Seu de onde sairia Aquele que seria a Sua grande e principal promessa, a redenção há muito anunciada.

     Se Adão e Eva foram expulsos do jardim do Éden (Gênesis 3.23), a Abraão foi-lhe prometida uma terra que manam leite e mel. Se Adão e Eva quiseram tomar suas decisões fora dos planos de Deus, desobedecendo-O, Abraão foi aquele que creu e obedeceu, e teve Deus como seu guia.

     Se foi negado o que os construtores de Babel almejaram fazer com suas próprias forças, e, estes, por causa do seu orgulho e prepotência, numa tentativa de autoafirmação, desafiaram abertamente a Deus - e foram punidos por Deus, em Gênesis 11.1-9 -, este mesmo Deus concedeu a Abraão, na Sua graça soberana, a unificação de um povo para servi-lO e adorá-lO.

 c) “Sê tu uma bênção!” - v. 2b

     Em Gálatas 3.8, Paulo diz que, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o Evangelho a Abraão, sendo nele abençoados todos os povos.

     Assim, a chamada de Abraão envolvia, não somente uma pátria terrestre, mas também uma pátria celestial. Um lar definitivo não mais na terra, mas no céu. Uma cidade cujo artífice e construtor é o próprio Deus, onde habitaremos eternamente com Ele em justiça, alegria e paz (Hebreus 11.9,10,14-16; Apocalipse 21.1-4; 22.1-5). Mas, até então, Abraão seria estrangeiro e peregrino na terra (Hebreus 11.9,13). [3]

 2. Fé e obediência - Gênesis 12.4-6

     “Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o SENHOR, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã. Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram. Atravessou Abrão a terra até Siquém, até o carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra.” 

      Convém notar que os versos 4 a 6 do capítulo 12 citados acima, e sua sequência de 7 a 9, são uma continuação de Gênesis 11.28-32 que 12.1-3 abre um parêntese para inserir a ordem e as promessas do SENHOR a Abraão, até então, Abrão, e que nos faz refletir que somente quem tem fé é que pode obedecer, e seguir ao chamado. Somente quem tem fé é que pode vencer qualquer obstáculo, e seguir em frente. Deus tem um chamado para cada um de nós; para você, e também para mim.

     Como anda a nossa fé nesse mundo de incrédulos? O texto diz que Abrão tinha 75 anos quando saiu de Harã. Para os dias de hoje, essa é uma idade em que já estamos fora de qualquer atividade, fora de mercado, e até discriminados por sermos idosos ou encostados em uma cadeira de balanço, abandonados em qualquer lugar por aí, ou mesmo num asilo qualquer, se ainda estivermos vivos.

     No entanto, Abraão estava apenas começando sua vida missionária. O chamado de Abraão levou-o a separar-se da sua pátria, do seu povo e dos seus familiares, assim como das suas antigas crenças (Gênesis 12.1), para tornar-se estrangeiro e peregrino na terra (Hebreu 11.13). Uma saga de fazer história! E você? Como anda sua história diante de Deus? Como você está se portando diante desse mundo cheio de fantasias e mentiras?

     Por fé e obediência, Abraão deixou tudo, inclusive uma região próspera, e rica, para viver em tendas no deserto, servindo somente a Deus. Em Abraão, Deus está ensinando-nos que os Seus eleitos, aqueles a quem Ele chama e Lhe obedecem, devem separar-se de tudo quanto possa impedir o propósito divino na vida deles. [4] Todos somos estrangeiros e peregrinos nesse mundo. Nossa pátria está no céu. Aqui nada temos, a não ser o viver pela graça.

     Porém, o chamado de Abraão não continha apenas promessas. Tinha também compromissos. Deus é soberano sobre nossas vidas, mas Ele também nos dá responsabilidades. Nós temos que fazer a nossa parte para podermos ser dignos das Suas promessas. Quantos cananeus vamos ter que derrubar a cada dia? Qual é o tamanho das nossas atitudes diante das nossas dificuldades?

    Deus requeria de Abraão tanto a obediência quanto a dedicação pessoal a Ele como Senhor para que recebesse aquilo que lhe fora prometido. Nossa obediência e dedicação demandam confiança na Palavra de Deus, mesmo quando o cumprimento das promessas parece-nos humanamente impossível (Gênesis 15.1-6; 18.10-14).

     A obediência à ordem de Deus requer de nós o abandono de nossa terra, que é a nossa zona de conforto, as nossas mesmices cotidianas (Gênesis 12.4; Hebreus 11.8), num esforço sincero para vivermos uma vida de retidão [6] perante Deus, e sermos dignos da Sua presença em nossas vidas (Gênesis 17.1,2).

3. Confirmação das promessas e gratidão - Gênesis 12.7-9

     “Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera. Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou a sua tenda, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente; ali edificou um altar ao SENHOR, e invocou o nome do SENHOR.Depois, seguiu Abrão dali, indo sempre para o Neguebe.” 

     Devemos ser gratos a Deus pela Sua fidelidade e cumprimento da Sua Palavra. Atos 7.5 e Gálatas 3.16,18 ensinam-nos que a última parte dessa promessa cumpre-se hoje na proclamação missionária do Evangelho de Cristo. A promessa de Deus a Abraão e a Sua bênção sobre ele estendem-se, não somente aos seus descendentes físicos - os judeus crentes -, mas também a todos aqueles que, com fé genuína (Gênesis 12.3), aceitarem e seguirem a Jesus Cristo - a verdadeira posteridade de Abraão (Gálatas 3.14,16). [7]

     Paulo diz, em Gálatas 3.7, 9, 14 e 29, que todos os que são da fé, como Abraão, são filhos de Abraão e são abençoados juntamente com ele. Tornam-se posteridade de Abraão, herdeiros segundo a promessa, o que inclui receber pela fé a promessa do Espírito em Cristo Jesus. Pois, se somos de Cristo, também somos descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

     Pois bem, como já foi dito, quem tem fé, obedece, e segue em frente. Mas é Deus quem dá o dom da fé a quem bem Lhe aprouver. Em Hebreus 3.8 está escrito que, pela fé, Abraão, quando foi chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.

     Abraão não pôs sua fé naquilo que iria receber, mas, sim, nAquele que lhe fez as promessas; nAquele que lhe impingiu o dom da fé; nAquele que tem poder para tudo isso, e muito mais. Abraão deixou tudo para trás e seguiu em frente na sua jornada missionária. Ele tinha uma missão pela frente que devia ser cumprida. Era esse o chamado de Abraão cuja jornada estava apenas começando. Abraão não se amofinou; topou o desafio, porque creu.

     Assim ele seguia, e a cada passo, a cada missão cumprida, ele erigia um altar em adoração e agradecimento a Deus pela vitória alcançada. Não que ele não tivesse dificuldades, dúvidas, crises. Mas quando isso acontecia Deus estava sempre ao lado dele, incentivando-o, porque Abraão tinha fé, e, por isso,  obedecia; e prosseguia.

     Assim como Abraão, todos nós também somos chamados, mesmo diante de nossas crises e dúvidas em meio a um mundo tão adverso. Mas basta termos fé; basta obedecermos ao nosso chamado, que serviremos a Deus do jeito que somos, e como estamos. Como cristãos, somos o Israel de hoje, a casa espiritual edificada em Cristo. Somos chamados para proclamarmos as virtudes dAquele que nos tirou das trevas para Sua maravilhosa luz (1Pedro 2.9).

     Você crê nisso? Mas, mesmo não crendo, tente, desafie-se. Faça um teste com você mesmo, e saia da sua terra; desapegue-se das suas mesmices, das suas angústias ou crendices, choradeiras ou idolatrias deste século. Atente-se ao seu chamado e cumpra a sua missão como um cidadão digno do Reino de Deus. Encare esse desafio, obedeça ao seu chamado, obedeça à vontade de Deus, e seja você também uma bênção!



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 Notas e Referências 

[1] Estudos doutrinários - A chamada de Abraão. Disponível em: www.midiagospel.com.br Acesso em: 15/05/12

[2] Ibd.

 [3] Ibd.

[4] Ibd.

[5] Ibd.

[6] Ibd.

[7] Ibd.

- A Chamada de Abraão. In: John Stevenson Bible Study. Disponível em: www.johnstevenson.net Acesso em: 07/03/2012

 - _______________. In: Champlin, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo: v. 1. Gênesis. 2ª ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 99-102

 - All-Com Allen, Clifton J. (ed. ger.). Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento. Gênesis-Êxodo. v. 1. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987

 - Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999

 - Ellisen, Stanley A. Gênesis. In: Conheça Melhor o Antigo Testamento: Um Guia com Esboços e Gráficos Explicativos dos Primeiros 39 Livros da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2007. p. 20-31

 - Kevan, E. F. A Chamada de Abraão. In: O Novo Comentário da Bíblia. v. 1. editor: Prof. F. Davidson. São Paulo: Vida Mova, 1963, 1990. Reimpressão. p. 95-96

- Livingston, George Herbert. Abraão, o Homem que Deus Escolheu. In: Comentário Bíblico Beacon - O Livro de Gênesis. 1ª ed. v. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 57-58

 - Mesquita, Antônio Neves de. Estudo no Livro de Gênesis. 4ª ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1979

 - O Argumento de Gênesis. In: Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento: Estruturas e Mensagens dos Livros do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 21-58

 - O chamado de Abrão. Disponível em: www.religiaoweb.com.br Acesso em: 15/05/12 - Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. 

- Study By Bob Deffinbaugh. O Chamado de Abrão (Gênesis 11:31-19:9) Disponível em: http://bible.org Acesso em: 15/05/12