segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ALEGRIA EM MEIO ÀS AFLIÇÕES

“Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” - João 16.23,24 (leia todo o contexto: versos 16 a 33).

“Sorria, você está sendo filmado!” Quem já não ouviu essa frase ou já não leu em algum lugar de destaque? Ela aparece muito em ambientes fechados, mas de muita aglomeração pública, principalmente quando nos obrigam a ficar horas e horas esperando algum atendimento tipo repartição pública e outros locais semelhantes em que sofremos nas mãos daqueles que estão do outro lado do balcão e onde também se pode ler outra estranha e, no mínimo, irônica inquirição: “Você já sorriu hoje?”

Talvez todos esses dizeres tenham como objetivo imprimir-nos um sentido de que sorrir é ter alegria, é ser ou estar feliz, é ter muita paciência e aguentar firme ali, aconteça o que acontecer que, no final, tudo vai dar certo. Será? Isso não seria mais uma figura de retórica com o intuito de nos acalmar em momentos tão angustiantes que às vezes nos atormentam dias e dias? Será que temos essa capacidade de nos satisfazermos uns aos outros por meio de uma alegria perene ou de uma felicidade plena?

Dia 6 de novembro comemoramos o Dia Nacional do Riso. Em meio a importantes questionamentos, a mídia provoca-nos a refletir sobre estudos que tentam descobrir como um ato tão divertido afeta o corpo e a vida das pessoas, além de querer mostrar que os efeitos do riso vão muito além de uma sensação de bem-estar [1]. Mas qual é o efeito do riso em nossas vidas? Rir é mesmo o melhor remédio? Mas que espécie de riso é esse? O que expressa um sorriso sincero, mesmo em meio às nossas aflições? Quem é capaz de nos trazer a alegria verdadeira, a alegria que supera todas as nossas tribulações?

Quantas vezes nos enveredamos por caminhos adversos em busca de alguma alegria ou daquilo que pensamos ser a nossa felicidade em meio a uma vida, muitas vezes, estressante, turbulenta, solitária e falsa! Quantas vezes em meio a nossos desesperos ou precipitações, diante das nossas aflições e tribulações, desanimamo-nos, e nos perdemos no meio deste caminho porque fizemos escolhas erradas, e não encontramos a verdadeira paz, a alegria que supera as nossas aflições, e muito menos em quem nos apoiar, compartilhar ou desabafar.

A Palavra de Deus é atualíssima, e fala conosco todo dia. Ao tratar desses nossos conflitos, de um jeito ou de outro, mesmo lidando com os contrastes desta vida, assim como os conceitos opostos, conceitos estes que ainda influenciam nossos dias, tais como os conceitos de luz e trevas, de fé e incredulidade, de amor e ódio, de vida e morte, de bem e mal, de alegria e tristeza, o Evangelho de João toca-nos profundamente.

Escrito por volta dos anos 90-96 d.C., e tendo como destaque o ensino, seu público-alvo é a Igreja. Sua palavra-chave é “crer”. É tido como o coração das Escrituras, e seu principal objetivo é que creiamos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e que, crendo, tenhamos vida em Seu nome [2]. No esboço deste Evangelho, desde o prólogo ao epílogo, passando pelo ministério público de Jesus, Sua paixão e ressurreição, isso é notado de maneira persuasiva e contundente.

O texto do capítulo 16, versos 4b a 33, fala-nos da alegria que supera a tribulação. Mas este assunto já começa a ser tratado bem antes, desde o capítulo 14 - quando Jesus conforta os discípulos, tendo em vista Sua morte e ressurreição, já que Ele precisava ir, mas voltaria, e os receberia para Ele mesmo porque na casa de Seu Pai há muitas moradas. Ele iria preparar o lugar deles - versos 1 a 4. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”, conforta Jesus, no verso 1. Já nos versos 16 e 17, em meio a esse misto de tristeza e alegria, Jesus promete-lhes outro Consolador, o Espírito da Verdade que o mundo não conhece, mas eles O conhecem porque Ele habita neles e estará neles.

No capítulo 15, Jesus dá uma pausa em Seu discurso para falar da metáfora da videira, como se nos dissesse que Ele vai, sim, e que Ele voltará, sim, mas ai de quem não estiver com Ele até o fim, enxertado nEle, dando frutos com Ele. “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” - verso 5.

Já, no capítulo 16, versos 16 a 22, Jesus explica a missão do Consolador, e responde as perguntas dos discípulos por meio de contraposições, de contrastes, como a alegria e a tristeza, além de uma parábola que fala das dores de parto - significando tristeza, e do prazer de ter nascido ao mundo um homem - expressando alegria.

Ou seja, sem Jesus - tristeza; com Jesus - alegria. E, por falar nisso, como está você hoje? Alegre ou triste? Como andam ou por onde andam a sua alegria ou a sua tristeza?

Diante de todos esses fatos, a gente se coloca no lugar daqueles discípulos, no lugar do próprio Jesus, como homem que também era. Naqueles anos todos de convivência mútua, de comum união, de tanto aprendizado, de amizade, de confiança, apesar das dificuldades e diferenças inerentes a cada um deles, agora, depois de três anos de um intenso trabalho juntos, o Mestre fala-lhes de despedidas, e que vai embora...

Se isso se passasse conosco, qual seria o nosso comportamento? Qual tem sido o nosso cuidado quando passamos informações delicadas e importantes em momentos difíceis? Como dizer a verdade sem deixar sequelas, tristezas, já que essa verdade teria que ser dita? Como não expressar nem deixar transparecer a tristeza nem o desânimo nessas horas? Como deixar um traço de alegria onde paira a tristeza?

Os versos 23 e 24 acentuam essa alegria com notáveis características que devem marcar um novo tempo em nossas vidas.

1. A origem da nossa alegria. Onde está e em que consiste essa origem da nossa alegria? Por que Jesus afirma isso? Por que “naquele dia”? Que dia é esse? “Naquele dia, nada me perguntareis” - verso 23a.

A origem da nossa alegria está em poder entender, e compreender, o que Jesus tem para nos dizer, para nos oferecer, e praticarmos, desfrutando tudo isso ao lado dEle, aqui e na eternidade.

Jesus explica aos discípulos que eles já não têm mais que perguntar-Lhe sobre as dúvidas deles, já que havia dissipado o tipo de confusão em que há pouco eles estavam envolvidos - versos 16 a 18, porque, mesmo que Sua presença física fosse retirada do meio deles, Sua presença espiritual permanece com eles por meio das obras do Espírito, começando com o Pentecostes, e continuando durante toda a vida da Igreja, e, finalmente, na eternidade.

Os discípulos pensavam que a expressão “um pouco” contradizia a declaração de Jesus sobre a ida dEle para o Pai - versos 17 e 18.

“Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me eis” - verso 16. A primeira expressão refere-se à crucificação, a morte de Jesus, que tiraria Jesus do meio de Seus discípulos - ou seja, uma situação de tristeza - “Um pouco, e não mais me vereis”. A segunda expressão pode referir-se imediatamente ao tempo da própria profecia, da ressurreição, da vinda do Espírito, e também, mais remotamente, da Segunda Vinda de Cristo - isto é, uma situação de alegria - “outra vez um pouco, e ver-me eis”.

Se os discípulos estavam tristes diante de todo aquele ambiente de despedida, até então, de ansiedade e insegurança, eles só puderam estar seguros de sua alegria quando o próprio Jesus lhes explicou tudo direitinho, esclarecendo toda aquela situação, e dúvidas, prometendo-lhes que “ninguém poderá tirar” deles esta alegria - verso 22.

Mas que alegria é essa? A alegria da Sua volta após Sua morte. A alegria da ressurreição. A alegria da presença do Espírito. A alegria de estarem juntos com Ele na eternidade. A alegria da paz depois das suas inquietações. A alegria da resposta das suas petições. A alegria da resposta da oração eficaz em que o Pai ouve e atende as nossas súplicas “em nome de Jesus”, o Deus-Redentor, o Mediador entre Deus e os homens.

Ainda sobre essa mesma temática, utilizando-Se destes mesmos contrastes entre tristeza e alegria, o Senhor Jesus vai mais longe, destacando o nosso passado, o presente e o futuro, e a atuação de Deus no comando de tudo. A parábola da mulher grávida - verso 21, apesar de sua simplicidade e naturalidade, está repleta de ecos de profecias do Antigo Testamento, e tem a função importante de enfatizar a natureza escatológica dos eventos citados por Jesus. A figura das dores de parto é frequente no Antigo Testamento quando se trata de julgamento - cf. Isaías 21.3; Jeremias 13.21; Miqueias 4.9,10.

Isaías 66.7-14 é um exemplo desta imagem aplicada à figura da Nova Jerusalém, ao nascimento de uma nova comunidade. Ou seja, a obra da Igreja de Cristo e o seu nascimento no dia de Pentecostes em que três mil almas foram convertidas e as boas-novas de salvação se espalharam pelo mundo conhecido naquela época.

2. A razão da nossa alegria. Em que consiste essa razão da nossa alegria? Quem é essa razão da nossa alegria? Que poder tem esse nome? Realmente acreditamos nesse nome? “Se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome” - verso 23b.

Muitas vezes, nós também nos deparamos com encruzilhadas que nos confundem, e não temos a quem perguntar qual é a saída, ou melhor, por qual caminho deveríamos trilhar com vistas a um final feliz.

Muita vez, buscamos a nossa felicidade por nossas próprias mãos, e aqueles que pensávamos serem nossos verdadeiros amigos desaparecem. Não correspondem às nossas expectativas. Abandonam-nos. Decepcionam-nos.

Muita vez, mergulhamos pelos caminhos mais abjetos que só mesmo depois de experimentá-los, e sofrermos as consequências, é que percebemos a roubada em que entramos, pensando ser a saída.

Talvez tenhamos, sim, momentos de alegria, mas que são apenas momentos. São tão passageiros que temos que repeti-los, esforçando-nos em vão e dolorosamente, perseguindo aquela felicidade que nunca tivemos, numa tentativa de perpetuarmos esses momentos. Assim, eles nos escravizam, como o mundo das drogas, que nos viciam, ou da prostituição, que nos joga na lama, ou ainda de tantas outras atitudes e situações em que nos afundamos que só nos contradizem e desfiguram ainda mais a nossa imagem já muito longe da original quando se trata da semelhança ao Supremo Criador ou da coroa da criação.

Muita vez, buscamos a nossa própria felicidade, tentando encontrar a nossa própria alegria por nossos próprios meios, pelas nossas próprias mãos, e cavamos o nosso próprio precipício, esquecendo-nos de que Jesus é a única razão da nossa alegria. A nossa alegria está somente nEle, e vem somente dEle, porque o Pai nos concede todas as coisas por meio dEle. Ele é o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Ele.

3. Por que, então, não somos alegres? Por que, então, não somos felizes? A quem recorrermos nos momentos difíceis? Em quem depositarmos a nossa total confiança? “Até agora nada tendes pedido em meu nome” - verso 24a.

Não somos alegres, ou felizes, porque olhamos apenas para as nossas circunstâncias, valorizando-as demasiadamente. Olhando apenas para o nosso umbigo, não pedimos ao Pai como deveríamos pedir. Pedimos mal. Egoisticamente, pedimos para esbanjarmos em nossos próprios prazeres. Pedimos sem a devida fé. Pedimos como se jogássemos numa loteria. Pedimos não confiando plenamente em Deus [3].

Também devemos pedir em nome de Jesus porque Deus só nos aceita por meio dEle. O Pai somente nos aceita por meio do Filho.


4. O que fazer para sermos alegres, e, realmente, sermos felizes? Será que estamos fazendo as nossas escolhas corretamente? Em quem e como estamos depositando a nossa alegria, a nossa felicidade, os nossos questionamentos e petições? “Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” - verso 24b.

Para que essa nossa alegria seja completa, basta colocarmos com total confiança as nossas alegrias em Jesus, não nas nossas circunstâncias. Paulo tem um belo exemplo disso, e é dele este alerta: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” - Filipenses 4.4.

Juntamente com as epístolas aos Efésios, Colossenses e Filemom, a epístola de Paulo aos Filipenses está incluída no grupo das epístolas conhecidas como “as epístolas da prisão”.

Em Filipos foi fundada a primeira Igreja Cristã na Europa. Dizem que os filipenses foram um povo hospitaleiro que muito contribuiu para o auxílio de Paulo em suas viagens missionárias - Filipenses 4.15,16. Paulo esteve por três vezes na cidade de Filipos. A alegria é um dos temas dominantes em Filipenses, conhecida como a “epístola da alegria”

Mas o que nos intriga, e muito nos ensina, é que Paulo, quando escreveu esta epístola, estava preso em Roma. Como é que uma pessoa, mesmo estando presa, sofrendo tantas aflições, humilhações, pode falar, escrever, aconselhar, e até incentivar-nos a que devemos nos alegrar?

“Alegrai-vos sempre no Senhor”, e ele ainda insiste: “outra vez digo: alegrai-vos”. Estas palavras nos advertem que somente em Cristo é que nós devemos nos alegrar, não importa a situação que estamos passando. Alegremo-nos sempre.

Eu e você devemos alegrar continuamente. Nós é que devemos praticar esta ação. Nós é que devemos nos alegrar no Senhor. Nós é que temos que tomar uma atitude, porque Deus já fez tudo por nós. Deus já fez Sua parte nesse sentido. A ação depende agora de nós, porque Deus já nos enviou o Seu Espírito para habitar conosco.

A obediência a esse mandamento é sempre possível, mesmo em meio a conflitos, adversidades e privações, porque a alegria não repousa em circunstâncias favoráveis, mas “no Senhor”, e Paulo recorre à repetição para enfatizar essa verdade [4]. O Espírito do SENHOR está em mim. O Espírito do SENHOR está em você. Então, por que não agimos?

Se mirarmos somente em Jesus, todas as nossas dúvidas e incredulidades se dissiparão em meio a este mundo de contrastes e confusões, de mentiras e contradições, de incertezas e solidão. A nossa verdadeira alegria e o caminho que devemos seguir para alcançá-la estão somente em Jesus. Somente Ele é que nos consola em nossas aflições.

A plenitude e a perenidade da nossa alegria, e, consequentemente, da nossa felicidade, estão apenas e tão somente em Jesus. E se nós estivermos em plena comunhão com Ele e obedecermos a Seus mandamentos, tudo o que pedirmos no nome dEle, Ele nos concederá.

Entregue-se a Jesus! Entregue-se de corpo e alma. Entregue-se de verdade. Entregue-se plenamente, e Ele lhe trará tantas alegrias que você nem imagina, porque grandes coisas Ele faz por aqueles que nEle creem.Somente nEle você tem a verdadeira alegria. Somente nEle você é feliz de verdade. Experimente essa alegria! Experimente essa felicidade! Experimente esse desafio!

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1 GONÇALVES, Letícia. Rir faz mesmo bem à saúde? Disponível em www.minhavida.com.br. Acesso em 06/11/2011

2 João 20.30,31

3 Tiago 4.3

4 Biblia de Estudo de Genebra, 1999, notas, p. 1418 - cf. Romanos 12.12; Lucas 10.20