A COMUNHÃO DO
EVANGELHO
“fazendo
sempre, com alegria, súplicas por todos vós, pela vossa cooperação no
evangelho” - Filipenses 1.4,5
O que vem a ser essa cooperação ou essa comunhão em
meio à tanta sofisticação de conceitos nessa nossa época; em meio à tanta
manifestação religiosa, a tantas opiniões adversas? Como praticamos essa
comunhão? Como agimos e reagimos com vistas a essa comunhão? Será que essa
comunhão realmente existe ainda hoje no meio cristão? Como fica a Igreja diante
de tudo isso? Qual é o papel da Igreja? Qual é a razão de nós nos reunirmos
como Igreja?
A epístola aos filipenses tem como assunto principal
a gratidão e a correção, e seu tema é a alegria: “Regozijai-vos”. Mas, além de
ser um povo generoso e cuidadoso em servir, também é um povo desejoso de contribuir, de cooperar. O
capítulo 1, em seus versículos de 3 a 11, fala de gratidão, de interação,
amizade, alegria, cooperação, saudades, enfim, de alguns sentimentos íntimos
provocados entre os crentes.
Portanto, essa epístola fala dessa comunhão
provocada pelo Evangelho. Fala de coisas simples que envolvem relacionamentos,
sentimentos interpessoais que muito nos ensinam. Vejamos o que podemos aprender
com esse texto.
1. A comunhão do Evangelho provoca-nos perene alegria,
boas recordações, além de gratidão a Deus.
“Dou
graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria,
súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no
evangelho, desde o primeiro dia até agora.” - Filipenses 1.3-5
Paulo expressa essa gratidão a Deus pela recordação
e amizade que desfrutou com os convertidos em Filipos. Esses sentimentos lhe
sobrevinham quando ele orava pelos filipenses, e provocava-lhe terna alegria. O
termo “alegria” (v. 4) é o tema principal desta epístola. Não é à toa que essa
palavra aparece 16 vezes nesta epístola. Essa é a epístola da alegria.
Paulo se lembra da primeira vez que havia pregado o
Evangelho em Filipos, desde quando teve uma visão em Trôade e que teve que
mudar de rota, passando pela Macedônia, hoje norte da Grécia, onde ficava
Filipos, o primeiro lugar onde o cristianismo foi pregado na Europa desde quando
algumas mulheres se reuniam para orar, inclusive Lídia, a primeira convertida à
nova fé (Filipenses 4.15; Atos 16.10-40).
O elo dessa amizade jamais se quebrou desde os
primeiros momentos dessa evangelização até os tempos de sua prisão, quando ele
escreveu essa epístola. E tudo isso acontecia por causa da ligação deles com o
Evangelho.
Ainda aqui, a palavra “cooperação” (v. 5), além de
significar, de modo especial, o apoio financeiro dos filipenses (4.10-20),
também tem muito a ver com o conceito de “comunhão”; “koinonia” - a “participação” de todos, dando e recebendo, conforme
as necessidades, seja no âmbito material ou espiritual. Essa comunhão deve
provocar ainda hoje uma comum união entre os crentes, e também trazer sólidas e
novas amizades, que devem ser desfrutadas entre os seguidores desse Evangelho. Essa
comunhão deve ser alimentada, e realimentada, e praticada entre os crentes em
Cristo.
Se “comunhão” significa “fazer comum”, ter todas as
coisas em comum na nossa comunidade, como na Igreja de Atos 2, e que esta
comunhão não pode existir sem que haja um “dar” e um “receber”, no sentido de
“contribuição” (Romanos 15.26; 2Coríntioos 8.4, 9.13; Hebreus 13.16), será que
estamos colocando em prática esse conceito, dando sem negociar, sem pensar em
nada em troca, sem acepção de pessoas? Muita vez pedimos mais do que damos,
mesmo diante de Deus em nossas orações.
2. A comunhão do Evangelho provoca-nos a
certeza da boa obra de salvação por causa de Cristo.
“Estou
plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la
até ao Dia de Cristo Jesus.” - Filipenses 1.6
Mesmo enfatizando que a perseverança dos santos
depende somente do poder de Deus, que os preserva pela graça, Paulo confiava
que Deus completaria a salvação dos crentes em Filipos porque todos eles juntos
participaram desse privilégio de defender e compartilhar essa mensagem de
salvação, essa comunhão desse mesmo Evangelho.
A Bíblia de Estudo de Genebra (2009, p. 1582) também
diz que o propósito salvador de Deus está consumado no “Dia do Senhor” (v. 10;
2.16), quando Jesus retornar em glória para ressuscitar o Seu povo da morte
(3.11,20,21) e receber exaltação universal (2.9-11). Assim, todas as pessoas
que têm exercitado a fé salvadora em Cristo serão preservadas até aquele dia. Paulo
tinha essa confiança na salvação dos filipenses que se completaria até Aquele
Dia.
Paulo estava convicto de que Deus, que começou um
bom trabalho com os filipenses, iria continuá-lo até o dia do julgamento. Deus não
faz as coisas pela metade. Ele é fiel na Sua Palavra. E você, e eu, será que
temos essa mesma convicção, essa mesma confiança de salvação? Será que estamos
preparados para Aquele Dia? Que ações
temos praticado no nosso dia a dia? A que obras temo-nos reservado? Obras de
salvação ou obras de perdição? (cf. 2Pedro 2.8,9).
3. A comunhão do Evangelho provoca-nos uma
união tão bem alicerçada que até nos deixa saudades, onde quer que estejamos,
independentemente das nossas circunstâncias.
“Aliás,
é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas
minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois
participantes da graça comigo. Pois minha testemunha é Deus, da saudade que
tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.”- Filipenses 1.7,8
O blog da editora Fiel traz a sinopse de duas obras que bem retratam essa situação, esse comprometimento cristão, essa comunhão. Veja: Mike McKinley em seu
livro Eu sou
mesmo um cristão?, ao abordar a
importância da Igreja local na nossa caminhada cristã, diz que é
estranho um cristão não querer se juntar a ela. “É como um marido que não
deseja estar junto à sua esposa”, afirma.
Segundo McKinley, um
cristão é uma pessoa que foi unida a Cristo e, consequentemente, unida ao corpo
de Cristo (Romanos 12.5). Sendo assim, todo cristão já faz parte da Igreja
universal ou invisível - a Igreja composta por todos os cristãos de todos os
lugares e de todas as eras. Logo, para este cristão, nada é mais natural do que
expressar essa união espiritual através de uma Igreja local ou visível.
Ele lembra que vivemos
em meio a uma geração egoísta, onde não só restaurantes devem ser rápidos e
atender todas as minhas necessidades, as Igrejas foram
submetidas a este paradigma. “Se uma
Igreja não me satisfaz, eu procuro outra, e assim vai - embora haja
razões justificáveis para sair de uma ‘Igreja’, que não é esse o caso aqui.”
Este egoísmo, ainda
segundo McKinley, além de pecaminoso, é autodestrutivo, pois Deus ordenou
que a edificação individual de cada membro do corpo se dê através da interação
entre os membros (Efésios 4.16). Ou seja, você dificilmente irá crescer em sua
vida cristã fora de uma Igreja local. Uma pessoa que se abstém da comunhão
da Igreja está expondo a si mesmo ao perigo da apostasia.
Este comprometimento
também é explanado por Mark Dever, em seu livro
O que é uma
Igreja saudável. Comprometimento que nos provoca a reunir-nos,
orar, contribuir e servir. “Unir-se a uma Igreja é um ato em que
dizemos: Agora, vocês são responsáveis por mim, e sou responsável por
vocês, e isso é contrário à nossa cultura; e, ainda mais, é contrário à
nossa natureza pecaminosa.”
Mas o que é isso, se não for comunhão? E comunhão por
causa do quê? Por causa do Evangelho! O Salmo 133 diz que é nessa comunhão que
o SENHOR ordena a Sua bênção e a vida para sempre. O comprometimento dos
filipenses com a defesa e a confiança do Evangelho ligava Paulo a eles e,
estes, a ele, atestando um testemunho apostólico até mesmo em meio às provações
(cf. v. 16; Marcos 13.9-11).
Paulo está aqui diante de Deus comprometendo-se com
a causa dos crentes de Filipos por causa da terna misericórdia e do amor de
Cristo por compartilharem da mesma graça, do mesmo privilégio provocado pela
comunhão desse mesmo Evangelho. É impressionante a segurança de Paulo nesse
comprometimento para com os filipenses, conforme relata o versículo 7: “Aliás,
é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas
minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois
participantes da graça comigo.”
Aqui, a palavra “aliás”, que significa “além
disso”, “além do mais”, “ademais’, “contudo”, é um advérbio que se usa no
início de uma oração para acrescentar ideia que reforça ou completa o que já
foi dito anteriormente. Assim, Paulo reforça o que disse nos versos anteriores
e ainda endossa a ficha limpa dos filipenses diante de Deus, já que ele mesmo
protegeu e endossou a mensagem desse Evangelho diante deles nas mais diversas
situações.
Você tem esse privilégio? Seu pastor, seu líder ou seu chefe é capaz de botar a mão no fogo por você? E você, tem dado provas
disso diante da sua Igreja, da sua comunidade, do seu ambiente de trabalho, e principalmente diante de Deus?
Também no versículo 7, a palavra “algemas”, que
significa “prisões”, contrasta com a palavra “alegria”, citada no versículo 4,
já que, juntamente com as epístolas escritas aos Efésios e aos Colossenses,
assim como a Filemom, a carta aos Filipenses junta-se às conhecidas “cartas da
prisão”, porque foram escritas quando Paulo estava preso. Mas como pode uma
pessoa estar presa, sofrer todas as agruras de uma prisão, e, ao mesmo tempo,
estar alegre? Só mesmo pela comunhão desse Evangelho de Cristo!
“Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.” - v. 8
“Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.” - v. 8
Aqui, “saudade” significa “terno amor”. Muita vez
deixamos muitas lembranças, boas ou más lembranças. Mas saudade é para poucos
privilegiados. Só pode sentir ou deixar saudades quem compartilha de alguma
comunhão com outrem. Neste caso, Paulo sentia saudades daqueles tempos de
trabalho em comum, daquele terno amor, daquela comunhão que eles tinham pela
causa do Evangelho de Cristo.
Até que ponto estamos sinceramente comprometidos
com esse Evangelho a ponto de até sofrermos por causa dele, por causa da sua
mensagem, por causa do próprio Cristo, que sofreu por nossa causa? A ponto de
sofrermos e ao mesmo tempo estarmos alegres porque só estamos seguros nEle que nos fortalece diante dos desafios do
nosso dia a dia? Será que pensamos sinceramente nisso?
Será que estamos prontos para sermos provados por
causa desse Evangelho? Por causa da nossa fé? Até que ponto? Quantos mártires
já morreram por causa desse Evangelho, por causa da sua fé! Até que ponto você
seria capaz disso? Muitas vezes nosso cristianismo é só da boca para fora. Um
cristianismo de fachada. Não há sinceridade, muito menos a prática ou o
testemunho dele em nós.
4. Diante de tudo isso, Paulo nos alerta que
devemos perseverar nas nossas orações, pois a comunhão do Evangelho também nos provoca
a esperança de dias melhores.
“E
também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno
conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes
sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual
é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.”- Filipenses 1.9-11
Se no versículo 4 Paulo diz que, sempre com alegria,
orava pelos filipenses, aqui, ele transmite o motivo dessas orações: O aumento
gradativo de conhecimento, percepção e discernimento que culminam num
comportamento sincero e inculpável até o
dia do julgamento de Cristo (cf. Colossenses 1.9-11). E tudo isso provocado
pelo amor cristão, que Paulo deseja que também aumente mais e mais entre os
filipenses, e que eles sejam cheios do fruto de justiça que vem de Cristo por
meio do Espírito Santo, para a glória e louvor de Deus Pai.
Essa é a oração de Paulo aos filipenses. E esses
também são os meus desejos para você que faz parte dessa Igreja de Cristo
visível e invisível em nossos dias. Amém?
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Referências
- Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª ed. Barueri, SP:
Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, notas. p.
1581-1582
- http://www.blogfiel.com.br/2012/07/os-cristaos-precisam-se-juntar-a-uma-igreja.html
Acesso em: 03/08/12