domingo, 13 de dezembro de 2009

ESTAMOS PRONTOS?

“(...) e o Mensageiro da Aliança, a Quem vós desejais, eis que Ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da Sua vinda?” –Malaquias 3:1b-2a

AINDA HOJE pessoas tidas como importantes entre os homens, tais como personalidades políticas ou religiosas, assim como representantes do empresariado e de reconhecidas entidades mundiais, dentre outras tantas atividades, quando planejam deslocar-se para outras localidades, cidades ou países em viagens de negócios ou por quaisquer outros interesses, estas pessoas costumam enviar, antecipadamente, ou seja, antes da presença delas nestes locais predeterminados, seus assessores, assim como outros técnicos específicos em determinadas áreas, que chegam nestes locais já cuidadosamente agendados para organizar o ambiente, preparar as pessoas daquele lugar para que a recepção não passe por nenhum vexame, emboscada ou outras surpresas desagradáveis, além de sondar todas as condições de segurança que possam comportar tal evento. Tudo tem que ser cuidadosamente planejado, e nos mínimos detalhes. Há sempre uma preparação e troca de agendas entre as partes envolvidas, e, se necessário, a divulgação pelos mais diversos tipos de mídia, que tem aí o seu papel vital dada a seriedade da tão planejada visita, assim como a importância da tão renomada personagem. Ou seja, para que os objetivos daquele evento sejam plenamente satisfeitos, e que este acontecimento seja um fato tão marcante tanto para o visitante como para o anfitrião a ponto de arrolar-se nas mais afamadas crônicas daquela região qual uma ocorrência histórica, e que ainda não se vincule estritamente àquele lugar, mas que igualmente se espraie a todo o resto do mundo. Vemos isso sendo muito bem aplicado quando se prepara a presença de superastros da música ou de outros tipos de arte, ou da intelectualidade, assim como também de chefes de Estado ou mesmo de outras ilustres representações da nossa própria comunidade. As notícias correm aos quatro cantos do mundo depois desta liturgia toda. Ainda hoje todos temos o cuidado e a curiosidade de querermos saber quem é que vem neste aparato todo tão bem divulgado pelos mais diversificados meios de informação, além das tietagens e fofocas, dos alaridos e de tamanha manifestação, mesmo diante de apupos das partes contrárias, como sempre. Assim também acontecia nos dias antigos. Os estudiosos afirmam que no Oriente Próximo era comum enviar mensageiros antes da visita de um rei com o objetivo de anunciar a sua vinda e de remover quaisquer dificuldades ou obstáculos no tocante ao bom andamento do tal evento acordado. Do mesmo modo, Jesus de Nazaré deve ser anunciado, e com o mesmo empenho, não como um rei qualquer deste mundo, com todos os podres poderes deste mundo, ou como um superstar qualquer envolto em glamoures mundanos, mas como o Messias, o Rei dos reis, o Rei do Universo, “o Ungido”, e líder designado por Deus para cumprir uma missão especial de redenção e libertação de um povo escolhido. Quantos de nós ainda não conhecemos esse Jesus de Nazaré como Ele realmente deveria ser manifestado dentro de nós ou como Ele vem sendo anunciado desde os tempos mais remotos, não Lhe reconhecendo nem Lhe dando o verdadeiro significado para nossas próprias vidas como Alguém que foi escolhido para uma importante missão, tal como a de salvador do mundo, ou seja, o nosso próprio Salvador ou como Aquele que, dentre tantos poderes, também tem plenos poderes de escolher-nos, livrando-nos dos tropeços desta vida incrédula? Será que ainda hoje muitos de nós continuamos fechando as portas dos nossos corações, dos nossos sentidos e das nossas mentes, propositadamente, não dando ouvidos a esse Mensageiro da Aliança? Ou será que ainda persistimos como aqueles ignorantes, comendo e bebendo, já que um dia morreremos, e pronto, nada mais, sem nenhuma esperança nas maravilhas da mensagem desse Messias há tanto tempo noticiado? Infelizes homens que somos, dentre todos os homens, se assim é que pensamos ou agimos!

Porém, eis que de repente diante de nós ainda se põe um mensageiro como predito pelos profetas Malaquias, Elias ou mesmo João Batista, assim como tantos outros, a seu tempo, anunciando a vinda do Senhor. “Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer?” São as próprias Escrituras que nos alertam sobre este tão terrível e esperado dia. Até que ponto estamos todos nós preparados? Não que devamos espalhar medo por aí, mas a Bíblia diz que o SENHOR virá “como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros, e assentar-Se-á como fundidor e purificador de prata”, posto que mesmo que este Dia do Senhor seja como um dia de trevas e não de luz, o seu propósito será de purificar e não de destruir. Naqueles tempos, Malaquias pregava o julgamento vindouro a um povo que, embora estivesse passando pelas dificuldades dos anos que se seguiram ao exílio babilônico, e que havia impulsionado por altas esperanças, este mesmo povo acusava o SENHOR de injustiça; que Deus tinha prazer em praticar o mal, duvidando da justiça de Seu governo moral. É verdade que estas pessoas estavam passando por dificuldades. Estavam desiludidas. A prosperidade prometida não retornava. Ainda continuavam os roubos, as opressões, as violências contra os mais fracos, e faltavam-lhes as coisas mais indispensáveis para poderem sobreviver. Sofriam por causa da seca, das más colheitas e da fome, além de estarem cercados por inimigos que os impediam em cada oportunidade. Mas, daí, começarem a pôr em dúvida o amor de Deus, dizendo até que os praticantes do mal eram bons aos olhos dEle, e que não havia nenhum proveito na obediência a Seus mandamentos, e em andar penitentemente perante Ele, já que, segundo eles, eram os ímpios os que prosperavam, aí já é demais! Então, o profeta começou a responder-lhes, mostrando que tal ceticismo baseava-se na hipocrisia, posto que, se lhes cabiam as adversidades, estas haviam caído sobre eles, não a despeito de sua piedade, mas, antes, por causa dos seus pecados. Portanto, não poderiam esperar prosperidade se estavam apodrecidos em meio a um atoleiro de suas práticas pecaminosas. Assim, o profeta condenou os pecados daquele povo e convocou-o para que se arrependesse. Se purificassem sua adoração, se obedecessem à lei e pagassem seus dízimos na íntegra, então, o resultado seria as bênçãos de Deus na vida deles. Os especialistas afirmam que enquanto os críticos religiosos acusavam o SENHOR de injustiça, Deus respondia com a promessa de que Ele mesmo enviaria um mensageiro para preparar o caminho diante dEle e, então, retornar para Seu templo. Afirmam ainda que a presença divina em meio a um povo ímpio requer julgamento e purificação graciosa, pois Deus transformará o coração dos levitas e, estes, então, passarão novamente a oferecer corretamente seus sacrifícios. Mas o juízo será severo, e o SENHOR mesmo será a principal testemunha na acusação do Seu povo. Segundo Malaquias, Deus era o majestoso SENHOR dos Exércitos. Seus decretos e juízos eram irresistíveis. Seu amor era santo e imutável. Assim, raiaria o grande Dia do Senhor, dia esse que purificaria e vindicaria os piedosos e destruiria os ímpios, e que seria preparado com a vinda do profeta Elias. “Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim; e de repente virá ao Seu templo o Senhor, a Quem vós buscais; e o Mensageiro da Aliança, a Quem vós desejais, eis que Ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos”, nas palavras do próprio Malaquias cujas cenas proféticas foram arriadas até a vinda de João Batista. As palavras vívidas e poderosas dos profetas não mais foram ouvidas por cerca de quatrocentos anos, lembram os especialistas, destacando que estes tempos criativos deram lugar à era do aprendizado com os escribas e os sacerdotes que se tornaram os principais personagens religiosos.

No entanto, como se vê, Deus nunca nos esquece. Ele nunca abandona o Seu povo, até mesmo quando permanece em Seu silêncio. Mesmo estando cansado da nossa infidelidade e das nossas fraquezas, arrogâncias e tantos outros disparates que praticamos. Até mesmo em Seu silêncio Deus está falando conosco; pensando em nós, ou seja, trabalhando em nosso favor, posto que Seu amor não tem limites, mesmo não sendo os Seus pensamentos iguais aos nossos pensamentos. No momento oportuno, Deus nos estende a Sua poderosa mão, advertindo-nos dos perigos em que estamos sujeitos a atolar-nos até o pescoço ou resgatando-nos deste lamaçal, se persistirmos com os nossos equívocos, não acreditando nEle como o nosso melhor caminho, e única saída, desconstruindo, assim, a segurança de quem confia somente nEle. Nós só temos é que aprender a ouvi-lO. Mesmo envoltos em inumeráveis peripécias, Deus ainda intercede por nós, e se nos arrependermos de tudo o que aprontamos, Ele está sempre pronto para nos perdoar; para nos receber de braços abertos como um pai que recebe seu filho que estava perdido, mas que encontra o caminho de um convívio do seu verdadeiro lar. Os que confiam no SENHOR nunca se abalam, diz o salmista, porquanto permanecem em inabalável segurança. Somente Deus pode livrar o Seu povo. O nosso socorro está no nome dEle, que fez o céu e a terra e tudo o que neles há. São desmesuradamente incontáveis Suas intervenções em nosso favor, desde a manifestação da Sua salvação para com os exilados ao regressarem para a própria pátria, Jerusalém, até os dias de hoje, ou mesmo desde antes da fundação do mundo quando o divino Criador resolveu, pela Sua benignidade, compartilhar conosco as Suas abundantes riquezas da Sua graça, separando-nos única e exclusivamente para o louvor desta Sua glória, pois, se crermos, a veremos, e seremos libertados por Sua obra exclusiva e gratuita da qual somos apenas beneficiários por não podermos conquistá-la por meio das nossas próprias mãos, ou seja, das nossas próprias boas ações, mas por fé, apenas e tão somente, que, por sua vez, igualmente, é um dom de Deus. Fiel a Suas promessas de salvação e intervenções misericordiosas tão bem divulgadas pelos profetas, o SENHOR Deus fez descer Sua Palavra sobre João, filho de Zacarias, no deserto, fatos estes que é relatada com precisão a época em que aconteceram, denotando como Deus intervém na história, porquanto Ele mesmo na Sua absoluta soberania é Quem dita a própria história. Imbuído desse Espírito de Deus, João Batista iniciou seu ministério percorrendo toda a região do Jordão, reunindo multidões e conclamando ao batismo de arrependimento para o perdão dos pecados, embora, na verdade, João não concedesse perdão de pecados. Enquanto seu ministério era caracterizado pelo batismo assinalado pela água, o ministério dAquele que viria teria um batismo assinalado pelo Espírito Santo e pelo fogo. Segundo os especialistas, o perdão definitivo de pecados pertence à aliança que o Messias inauguraria, contrastando o batismo de João com água e o batismo do Messias com o Espírito Santo, também mencionado pelo próprio Jesus após a ressurreição. Salientam ainda que havia um paralelismo entre o batismo de João com água e o derramamento subsequente do Espírito Santo, no Pentecostes, sendo que o ritual que João introduzira teve como base as promessas dos profetas. Já o fogo refere-se ao poder purificador, enquanto a água é referente a seu poder limpador. Outros dizem que o fogo também significa um símbolo de juízo. Sua pregação era de radical condenação, denunciando os líderes religiosos como descendência de víboras, e negando que houvesse qualquer valor no simples fato de alguém ser descendente de Abraão, pois o fato de ser judeu não livrava ninguém do juízo vindouro. Segundo João, era necessário um novo começo, pois já chegara o tempo de clamar a nação inteira para dentre ela preparar um remanescente leal que estaria pronto para a iminente chegada dAquele que viria, e para o julgamento que Ele executaria. Também dizia que ele mesmo era um mero preparador do caminho para Aquele que viria. Declarava-se indigno de realizar para Ele o mais humilde serviço. Ao dar ênfase ao conceito da salvação de Deus, João citava Isaías, num sentido geral, como o chamado para preparar um caminho através do deserto para a chegada de um rei. E dizia à multidão que saía para ser batizada por ele: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” E ainda: “Já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.” Anunciando que a vinda do Messias estava próxima, e que Ele viria para destruir os perversos e salvar aqueles que abandonassem o pecado, e voltassem para um novo caminho, João buscava uma mudança no coração das pessoas. Nem é preciso assinalar que Aquele que viria era o Senhor Jesus – o Messias que estava para vir depois dele. Se o ministério de João foi terminado abruptamente com a sua prisão por conta de Herodes, cujo pecado ele havia reprovado, nem por isso João Batista deixa de ser apresentado como o precursor do Senhor Jesus. Sua prisão ocasionou o início do ministério de Jesus Cristo na Galiléia, depois de ter sido batizado pelo próprio João – um ponto de partida para a pregação apostólica do Senhor Jesus. Os estudiosos lembram ainda que, na estimativa de Jesus, João Batista era o Elias profeticamente prometido em Malaquias, o qual haveria de vir e completar seu ministério de restauração nas vésperas daquele grande e terrível Dia do Senhor. O Senhor Jesus ainda o reputava como o último e o maior membro da sucessão profética. “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o Reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele”, diz o Senhor Jesus, subtendendo que um novo tempo começou com Ele. É esse Jesus que devemos anunciar, mesmo que tenhamos que passar por desertos e dar provas da nossa fé na esperança da Sua vinda em cada coração carente e na certeza de uma radical transformação na vida daqueles que crêem. Que saibamos esperar, e que estejamos prontos para esse dia tão ansiado, e que também o Espírito de Deus nos dê as ferramentas necessárias para nos aparelharmos e podermos proclamar que esse mesmo Jesus seja o único e soberano senhor de nossas vidas, até que Ele venha em glória e majestade.

REFLEXÕES DE HOJE
“Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim; e de repente virá ao Seu templo o Senhor, a Quem vós buscais; e o Mensageiro da Aliança, a Quem vós desejais, eis que Ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá, quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao SENHOR trarão oferta em justiça. E a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR como nos dias antigos, e como nos primeiros anos.” – Malaquias 3:1-4

LEITURAS DE HOJE
Salmo 125; Malaquias 3:1-4
Filipenses 1:3-11; Lucas 3:1-6

NOTAS
[1] Malaquias 3:1; Mateus 1:18; 16:16,20; 26:63,64; 27:22; Marcos 8:29-31; 14:61,62; Lucas 2:11,26; 9:20-22; 22:66-71; João 1:41; 4:25, 29; 7:26-29,31,41,42; 9:22; 10:22-30; Atos 2:36; 3:19-26; 4:26-30; 5:42; 9:20-22; 17:1-4; 18:28; 26:22,23; 1Coríntios 15:32; Isaías 22:13; 56:12; 1Coríntios 15:19
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1091, 1092, 1366, 1367
2] Malaquias 3:2; Amós 5:20; Malaquias 2:17-3:5; 4:5; Mateus 11:10,14; Marcos 1:2; Lucas 1:17; 7:27; João 1:23; 2:14,15; Isaías 40:3-5; 63:9; Habacuque 2:7
ADAMSON, J. T. H. Malaquias: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 933, 934, 936. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1091
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano C. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 456
[3] Lucas 15:1-32; Salmo 125:1-5; 124:8; João 11:40; Efésios 2:7-10;Jeremias 31:34; Lucas 3:1-6; 1:5-17,80; Mateus 3:11; Marcos 1:8; João 1:33; Atos 1:5; Isaías 44:3; Ezequiel 36:25-27; Isaías 40:3-5; Lucas 3:18-20; Mateus 14:1-12; Marcos 6:14-29; 1:14-20; Atos 10:37; 13:24,25; 1:22; Malaquias 4:5,6; Marcos 9:13; Mateus 11:14; Lucas 1:17; 16:16
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano C. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 25-29
KEVAN, E. F. O Evangelho Segundo São Lucas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1032, 1033. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1147, 1186
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 609, 610. Reimpressão
O Novo Dicionário da Bíblia. Trad. por João Bentes. Editor org. J. D. Douglas. (editor em português R. P. Shedd).vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.832, 833. Reimpressão

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

QUE NÃO NOS ENCONTREMOS DESPREVENIDOS

“Naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra” – Jeremias 33:15

QUEM É QUE esteja passando por sérias e marcantes dificuldades, derrotas, ou calamidades em sua vida não se sinta desanimado, sem perspectivas, desamparado, sem alternativas, frustrado ou mesmo desesperado? Quem é que esteja ou mesmo ainda depois de ter passado por tais experiências não permaneça vulnerável em todos os sentidos, com os nervos à flor da pele, e com aquela sensação de que tudo e todos estejam jogando contra, do outro lado, e não se posiciona com desconfiança e preventivamente como quem tenta se desviar de corpos estranhos procedentes do espaço sideral que supostamente se arremessam em sua direção e que possam esmagar-lhe justamente a própria cabeça? Mesmo achando que é preciso ir à luta, dispondo de todas as suas garras, quem é que esteja passando por estas provações na sua própria pele não se coloca com aquela postura de gato escaldado que tem medo até de água fria? Quem é que por algum momento na vida, e por uma razão qualquer, já não passou por alguma situação de ser escaldado ou mesmo já não foi até fritado por adversários ou inimigos ou mesmo por aqueles que descaradamente se dizem seus amigos? Em toda a nossa vida somos corriqueiramente provados para sermos um dia aprovados. Mas que estas provas venham da parte de Quem tem autoridade para tal, para o nosso crescimento, seja natural ou espiritual – já que estas provações só nos fortalecem para lutarmos até o dia da vitória final –, não da parte de quem faz isso apenas por pura maldade ou vingança pessoal qual num filme de terror onde naquela cena o vilão investido de todo o seu lado mal maquiavelicamente faz os outros sofrerem horrores a seu bel-prazer apenas e tão somente para satisfazer a seu impulso propenso a malícias. Isso já é tentação; coisas do maligno. Até que ponto resistiremos a tais provações? Até que ponto estaremos expostos às mazelas de tanta astúcia como joguetes nas mãos de espertos? Até quando estaremos cegos diante de tanta opressão e outros tipos de escravidão desta geração? Provas e provações, tentativas e tentações, ou mesmo opressões, à parte, o próprio Senhor Jesus sofreu, foi tentado, Ele que é o Filho de Deus, o Cordeiro que foi imolado a nosso favor, para que pudéssemos mirar nEle e seguirmos em frente na certeza de que neste mundo todos temos aflições, só que estas não duram para sempre. Daí, ser o Senhor Jesus o nosso alvo, e somente em Cristo é que está a nossa salvação. Ele é o nosso leme, o nosso lume nestes nossos dias de escuridão. Ele é o nosso caminho, a verdade que nos liberta da escravidão deste mundo tão alienado. Se crermos em Cristo, temos vida, a vida eterna, e em abundância; não a morte eterna. Não há nada neste mundo que dure para sempre. Isto é certo. É o próprio Senhor Jesus que nos adverte: “Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o Mundo”. É o próprio Senhor Jesus que diz isso. Precisamos mais de outras garantias? A nossa paz está em Cristo, não nas coisas efêmeras deste mundo que logo se apodrecem – e nem deixam rastros –, se nós não nos alicerçarmos em solo firme e fértil, se não plantarmos uma boa semente que dê bons frutos, posto que “cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto”.

Embora nada aconteça sem a devida e soberana permissão divina, todos estamos sujeitos a sermos provados ou mesmo tentados, e as nossas provações têm lá os seus benefícios. Não que Deus tente alguém, muito menos pode ser tentado pelo mal; nós é que, devido às nossas fraquezas e enlevados por nossas cobiças, caímos nas lábias do maligno, e, mergulhando num beco sem saída, cavamos a nossa própria cova, se não formos alcançados pelo amor e a justiça deste Deus que é tardio em irar-Se, mas que está sempre pronto para nos perdoar, sem guardar nenhum rancor, já que Ele não tem nenhum prazer em ver ninguém sofrendo, muito menos em nos ver pecando e, consequentemente, não faz ninguém sofrer. Longe de ser Deus a origem das tentações, Ele é o autor e doador de todos os bens, confirmam os especialistas, destacando que, entre os conceitos de ser provado e ser tentado, há grandes diferenças. Deus prova o Seu povo, como um pai a seus filhos, e até com admoestações os corrige, mas nunca os tenta no sentido de estimular neles o pecado. As provações para a nossa fé podem dar ocasião para virem as tentações, contudo, as tentações não têm Deus como o seu autor. Ao destacar a importância de lidarmos com as nossas aflições do ponto de vista da nossa fé, Tiago, apóstolo e irmão do Senhor, em sua epístola, assinala as bem-aventuranças reservadas àquele que suporta a tentação, pois, quando for aprovado, receberá a coroa da vida, ou seja, a recompensa. Segundo os especialistas, passada a tentação, se o crente suportou a prova e ficou firme até o fim, recebe a coroa de vencedor, a coroa da vida – um prêmio especial oferecido aos que perseveraram na fidelidade, que não deve ser confundido com a vida eterna, que é dom gratuito de Deus àqueles que creem no Senhor Jesus Cristo na qualidade de Messias, como o seu único intercessor, e, portanto, seu único Salvador. Líder na Igreja de Jerusalém, e que também presidiu o Concílio de Jerusalém, Tiago assumiu uma posição de autoridade na Igreja; juntamente com Pedro e João, era um dos seus pilares, convertido quando se tornou uma testemunha ocular da ressurreição do Senhor Jesus, mas que foi barbaramente martirizado em razão da sua fé. Eusébio afirma que bateram nele com uma clava até a morte depois de ter sido atirado do parapeito do templo. Personalidade notável na historiografia do povo cristão, “o irmão do Senhor” escreveu sua carta entre o começo da perseguição que se difundiu na Diáspora e o ano de sua morte, tempo em que os crentes cristãos sofriam castigos e eram vítimas de opressão; estavam sendo provados – passavam por testes e sofrimentos por causa da fé. Escrita para encorajar e consolar estes crentes, o autor exorta-os mansamente e reconhece-lhes os sofrimentos morais por que passavam. Tiago começa assim a sua epístola: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” – uma exortação para apreciar o sofrimento da perspectiva de confiança na soberania de Deus, como prova de filhos, e de ser a fé uma realidade. E termina assim: “Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima” – numa clara dedução de que os santos precisam de paciência enquanto aguardam a prometida vindicação que Deus tem para o Seu povo. Dizem os estudiosos que Deus promete justiça para corrigir as formas prevalecentes da injustiça neste mundo, e que as provações podem ser recebidas como uma alegria singular quando existe o conhecimento de que elas são permitidas por Deus para um determinado propósito. “São provações na fé, dadas para que a perseverança seja desenvolvida. E, por recompensa, a perseverança produz maturidade no caráter cristão”, afirmam.

Dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor. Ou será que não é mesmo o próprio Deus o nosso exclusivo cobertor quando nos sentimos desamparados, relegados ao relento em meio a uma flagrante apostasia no decorrer dos tempos? De implacável perseguidor de cristãos – e miraculosamente convertido – a exímio plantador de Igrejas, o apóstolo Paulo também foi martirizado por conta do seu importante e indiscutível trabalho missionário na promoção do Evangelho de Cristo. Assim como tantos outros, também resistiu às tentações, provou sua fé, e perseverou até o fim. Não foi à toa que sofreu perseguições e, depois de sua segunda prisão em Roma, foi decapitado. Com toda a sua experiência de quem combateu o bom combate, e guardou a fé, Paulo igualmente revestiu-se de toda a autoridade para advertir quem pensa estar em pé e que não se cuida para não cair, já que as tentações sempre querem nos forçar para que possamos nos afastar do modo correto de vida, acovardando-nos. Porém, Deus sempre guarda os Seus escolhidos neste particular, e se eles se apoiarem em Deus, encontrarão um meio para poder escapar, meio este que é mostrado pelo próprio Deus. “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” Se a história do povo cristão retrata a mesma história de homens destemidos que vão à luta em defesa daquilo que creem, destemidamente e até o fim, também ratifica a trajetória da Igreja de Cristo – uma Igreja militante, mas gloriosa; composta por homens e mulheres, mas sem mácula nem rugas; santa e irrepreensível. Uma Igreja feita por homens e mulheres, sim, mas que foram chamados por Deus para comporem o corpo de Cristo, desde os tempos bíblicos até os dias de hoje; um povo escolhido que, por mais sofredor que seja, e em qualquer lugar que esteja, lá também está o seu Redentor, a seu lado, como uma nuvem que o acompanha; como um farol que ilumina em todos os seus caminhos, mesmo que se for preciso passar por corretivos, mas lá está o seu Senhor que um dia o livrará. A esperança dos cristãos jamais será em vão. O Senhor jamais os trairá; jamais os confundirá. As Suas misericórdias e as Suas benignidades, que são desde a eternidade, serão sempre lembradas e postas em prática; nunca engavetadas. “Na verdade, não serão confundidos os que esperam em Ti; confundidos serão os que transgridem sem causa.” Diz o salmista, plenamente confiante na sua oração. Ainda hoje devemos seguir os passos dos líderes e mártires, os passos daqueles que não se amofinaram, mas perseveraram até o fim em nome de uma fé que remove montanhas, mesmo sob os mais diversos infortúnios, sofrimentos, provações ou privações, e até mesmo tentações, posto que nada por que passamos é por mera casualidade. O profeta Jeremias, considerado como o profeta dos infortúnios, e das ameaças, foi chamado para anunciar o julgamento de um povo idólatra que insistentemente era exortado a arrepender-se para evitar o castigo de Deus. Assim, é anunciado que o tempo de arrependimento havia cessado, já que o julgamento contra os israelitas estava decidido e é compreendido como a invocação da maldição final da aliança, e que o povo escolhido seria exilado para a Babilônia por não ter obedecido a seu Deus. De volta do exílio, este povo de Deus encontra-se em situação periclitante, desanimado, e até desesperado por ter perdido tudo e precisava reconstruir uma nova vida. Reconstruir a própria nação. Exigia-se vencer todas as dificuldades e mandar toda esta tristeza e desânimo para bem longe depois de serem golpeados por calamidades tão marcantes. É quando Deus aparece mais uma vez com Sua maravilhosa intervenção. Surpreendentemente, o profeta Jeremias traz boas notícias com previsões alegres: “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa Palavra que falei à casa de Israel e à casa de Judá; naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” São promessas de paz e prosperidade; a repetição da restauração e futura felicidade de um povo que, até então, tudo havia perdido por conta da sua arrogância, teimosia e desobediência. Mas a compaixão de Iavé pelo Seu povo castigado e aflito apagará a mancha da rejeição lançada pelos que o observavam e pelo seu inimigo. A linhagem davídica será restaurada, e o Filho de Davi dominará com justiça, tal como outrora, a ponto de Jerusalém passar a ser chamada “O SENHOR é a nossa justiça”. E esta promessa foi cumprida num sentido espiritual, e muito mais amplo, não num sentido nacionalista estrito. E quem é esta raiz e esta geração de Davi? Os especialistas não têm dúvida: é o Senhor Jesus Cristo, posto que somente a Jesus Cristo é que se pode aplicar este título: “O Senhor justiça nossa”. Somente o Senhor Jesus pode estabelecer a paz e a justiça na terra, e estão chegando os dias nos quais Deus cumprirá todas as Suas promessas para o bem do Seu povo. Ainda hoje também passamos por situações semelhantes às que passaram os israelitas que voltaram recentemente da Babilônia. Ainda hoje deparamo-nos com injustiças, intolerâncias, escravidões das mais diversas modalidades, vícios, opressões, desencantos, fraquezas, desilusões, opressões, destruições, guerras, até mesmo dentro da nossa própria família, enfim, o maligno está deitando e rolando em nossa frente, e nós não fazemos nada, estamos desprevenidos, porque não acreditamos mais em nada; perdemos a nossa fé. E o que faremos diante de tudo isso? Onde está a nossa força, a nossa fé, a nossa coragem de irmos em frente e derrotar o inimigo? O nosso Deus é maior que tudo isso, basta crermos e fazermos a nossa parte que o Senhor Jesus virá em nosso socorro. Devemos praticar a nossa fé, e ter uma experiência com Deus, só assim tudo poderá mudar em nossa vida, posto que foi com Jesus de Nazaré, que resplandeceu a nossa estrela nas manhãs de nossa vida ou as nossas manhãs se resplandeceram com a luz de um novo dia; de um novo mundo dentro de nós. Ou seja, o Reino da Paz, o Reino de Deus, devolvendo-nos toda a nossa esperança numa mensagem de alegria diante de um mundo tão desesperançado, diante das forças do mal; daqueles que nos querem ver derrotados. A Igreja hoje, ao se alegrar com a primeira vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, antecipa, com esperança, festejando a Sua segunda vinda em poder e glória, pondo por terra todos os sistemas nacionais e grandes impérios, assim como o império do mal, estabelecendo a ordem das coisas neste universo caótico. Será o surgimento de um mundo novo, que já teve início com Jesus de Nazaré, o Renovo que vem brotando dia após dia em nossos corações. Que o Espírito de Deus faça brotar em cada um de nós este Renovo, despertando a nossa vigilância com o poder da oração, assim como os nossos sentimentos de amor para com o nosso próximo sem qualquer distinção. Que não nos encontremos desprevenidos, então. Guia-nos na Tua Verdade, e ensina-nos, pois Tu és o Deus da nossa salvação; por Ti estamos esperando todo dia. Amém.

REFLEXÃO DE HOJE
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa Palavra que falei à casa de Israel e à casa de Judá; naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” – Jeremias 33:14-16

LEITURAS DE HOJE
Salmo 25; Jeremias 33:14-16
1Tessalonicenses 3:9-13; Lucas 21:25-36

NOTAS
[1] Gênesis 22:1-19; Hebreus 11:17,36;Tiago 1:2-4,12; Salmo 11:5-7; Apocalipse 2:10; Lucas 4:1-13; João 1:29,36; 1Coríntios 5:7; Apocalipse 5:6,12; 7:10; João 14:1,6; 16:33; Lucas 6:43-45
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1357, 1485, 1486, 1491
[2] Tiago 1:12-15; Gálatas 1:19; 1Coríntios 15:7; Atos 15; 12; Tiago 1:2; 5:8; Hebreus 12:5-8; Salmo 94:12; Romanos 5:3-6
MCNAB, ANDREW. A Epístola Geral de Tiago: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p.1388-1390. Reimpressão
[3] Atos 21:23ss; 1Coríntios 16:3ss; 2Coríntios 9; Romanos 15:25ss; 2Timóteo 4:7ss; 1Coríntios 10:12,13; Romanos 11:20; 1Coríntios 1:9; Salmo 125:3; 25:3,6; Jeremias 7:1-15; 19:10,11; Levítico 26:31-33;Deuteronômio 28:49-68; 24:4-7;Jeremias 33:14-16; Apocalipse 22:16; Isaías 13:10; Ezequiel 32:7; Salmo 25:5
PROCTOR, W. C. G. As Epístolas aos Coríntios – 1Coríntios.: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1206. Reimpressão
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano C. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 14-21
CAWLEY, F. Jeremias: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 766. Reimpressão
KEVAN, E. F. O Evangelho Segundo São Lucas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1053. Reimpressão

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

VEM, SENHOR JESUS!

“E então verão vir o Filho do Homem nas nuvens, com grande poder e glória. E Ele enviará os Seus anjos, e ajuntará os Seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu” – Marcos 13:26,27

QUEM É QUE por este mundo afora – e que esteja cônscio de sua plena lucidez ou sanidade mental –, sente prazer em conviver em meio a tantas catástrofes fenomenais sejam de ordem natural ou mesmo moral, tipo tsunamis que nos arrastam sem volta por um despenhadeiro sem fim ou coisa parecida? Ou mesmo quem é que consegue sobreviver em meio a tanta violência, traição, mortes ocasionadas por doenças incuráveis, por assassínios, tantas guerras, quais terremotos ou erupções vulcânicas que vão dizimando tudo por onde vão passando, sem nenhum rastro de compaixão nem qualquer outra sensação de alívio ou outro tipo de sensibilidade qualquer, e tudo mais? Apesar de hoje em dia tudo isso ser um fato tão corriqueiro que nem nos assusta mais como se consumasse um efetivo desarranjo das coisas, não somente da natureza como um todo, mas também do próprio ser humano em geral, no seu íntimo, na sua ética, no seu próprio relacionamento com os demais semelhantes, e com o seu próprio meio ambiente, assim como na própria sociedade, consequentemente. Como se já estivéssemos acostumados com tantos absurdos, ainda hoje somos confrontados por crises das mais diversas, e outras calamidades, que nos agitam, assustam, e também abalam as nossas famílias e o mundo inteiro. Ainda hoje somos desafiados a acharmos uma saída honrosa para tudo isso que, assim, de pronto, somos os únicos responsáveis, mas que, muita vez, ainda procuramos um bode expiatório como se nada disso nos atingisse e não acontecesse com nenhum de nós. Só acontece com os outros. Como neste mundo dos homens a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, certo tipo de gente vive por aí como se fosse intocável, confiando em si mesma como se nada lhe atingisse, como se não vivesse neste mundo dos pobres e mortais pecadores, como se fosse um deus, sem nenhum temor do Deus vivo e verdadeiro. Como se todas as desgraças fossem os outros. “Eu? Não é comigo, não. Dá licença que eu quero passar! Nada disso me atinge. Dá licença aí, meu!”, esquiva-se, rápida e descaradamente. Ô, coitado! Quem é que ainda consegue dormir em paz em meio a tudo isso, a esta confusão toda, e em meio a tanta covardia, sem se arrostar diuturnamente com todos os sinais de um mundo que está sendo dominado pelo maligno? Este mundo, um dia, terá seu fim? Quando estaremos livres de tanta aflição? Não que tais constatações não sejam abomináveis, horríveis, destruidoras, para não serem incansavelmente mencionadas ou insistentemente lembradas. Não que elas não devam ser contestadas nem que não sejam perturbadoras e tão aloucadamente terríveis. No entanto, nenhum de nós, quem quer que seja, está longe de passar por elas neste mundo.

Receios à parte, pois a nossa esperança é que toda esta nossa tristeza seja transformada em grande alegria, algum dia. E os crentes cristãos têm tudo para poderem acreditar nisso, posto que Deus atende todas as nossas aflições. O salmista Davi exorta-nos a louvar a Deus e a confiar somente nEle, testificando os grandes atos deste Deus na história, e em nossas vidas, tendo em vista a sua inesquecível experiência com Ele, já que Ele sempre ouve e responde às orações de Seu povo. “Engrandecei ao SENHOR comigo; e juntos exaltemos o Seu nome. Busquei ao SENHOR, e Ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores. Clamou este pobre, e o SENHOR o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias. Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nEle confia. Os olhos do SENHOR estão sobre os justos, e os Seus ouvidos atentos ao seu clamor. Os justos clamam, e o SENHOR os ouve, e os livra de todas as suas angústias. Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR o livra de todas. Ele lhe guarda todos os seus ossos; nem sequer um deles se quebra. O SENHOR resgata a alma dos Seus servos, e nenhum dos que nEle confiam será punido.” Assim como o salmista, apesar de todas as nossas aflições, nós também não podemos desanimar quando tudo nos parecer fora de controle, posto que a bondade e o poder do SENHOR é que mantêm a força interna do crente em total segurança. Ele é o nosso Deus, o nosso refúgio e fortaleza. Ele nos acolhe e nos protege como um escudo debaixo de Suas asas. Está escrito que aquele que se acolhe nos braços de Deus permanece seguro do laço do perseguidor, da peste perniciosa, do terror noturno, e da mortandade que assola ao meio dia. “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.” É isso, que tenhamos fé nEle, e prossigamos em frente, para o alto, sempre, que nada poderá nos abalar. Assim como uma ave-mãe compassiva protege os seus filhotes, como um Deus de perto – e não de longe –, e em toda a Sua onipresença e onipotência, somente o SENHOR é que pode nos trazer paz por mais complexas que sejam as nossas circunstâncias. Os que confiam em Deus não se abalam, continuam firmes, como o monte de Sião. “Assim como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o SENHOR está em volta do Seu povo, desde agora e para sempre.” Assim como as montanhas em derredor tinham sua importância para a defesa da cidade, e representavam a presença de Deus, assim também os eruditos afirmam que a fixidez e a imutabilidade dessa relação entre o SENHOR e Seu povo é semelhante a que existe entre uma cidade e suas redondezas. Ou seja, ultrapassa em muito a experiência de um indivíduo, pois dura para sempre. Por isso mesmo é que incansavelmente Deus deve ser louvado pelo amor de Suas obras maravilhosas; por Seus grandes atos de redenção. Como no passado, na nação de Israel, Deus os realizara – cujo maior exemplo, segundo os especialistas, seria o êxodo, quando Deus libertou Seu povo de seus opressores egípcios –, Deus ainda age na história, em conformidade com Seu caráter e Sua lei. Estes estudiosos nos lembram que através de Seus grandes atos históricos, as pessoas podem reconhecer a justiça de Deus, mas que estas maravilhas não fiquem só na nossa lembrança como um ato da memória, e, sim, que também envolvam devoção e obediência, pois devido aos nossos pecados, não merecemos a salvação da parte de Deus, porém, esta tem sua origem no eterno amor de Deus para com Seu povo. “Piedoso e misericordioso é o SENHOR; tardio em irar-Se, e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente ...”, e, assim, segue a Palavra de Deus capturando a maneira correta de aproximarmo-nos deste nosso SENHOR, que é Deus, e que, portanto, nos inspira reverência e respeito. “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que cumprem os Seus mandamentos; o Seu louvor permanece para sempre.” Quer queiramos ou não, Deus cumprirá Suas ameaças contra os ímpios. No entanto, sempre há a esperança do perdão.

Falar desse amor de Deus é assunto que não se acaba nunca. Mas muito mais importante do que falar é praticar este amor, como o próprio Deus assim nos ordena, já que é o maior de todos os mandamentos. Amar a Deus de todo o nosso coração, e de toda a nossa alma, e de todo o nosso entendimento, e de todas as nossas forças; e amar o nosso próximo como a nós mesmos, não é apenas um mero jogo de palavras bonitas que servem de pauta para nossas retóricas públicas, de palanques e de púlpitos, mas uma ordem prática de comando que tem que ser cumprida por todos nós, sem exceção alguma, principalmente para nós que tanto nos exaltamos por aí repetindo trechos bíblicos como se competindo com os demais, mas, que, na prática, estamos muito longe de seguirmos de fato este tão significativo ensino do Senhor Jesus. A Bíblia diz que Deus é amor, e que foi Ele que nos amou primeiro, por isso, nós também devemos amá-lO. “Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou Seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” Aquele cujo advento foi anunciado e em Quem foi acentuado o Seu poder por ser o próprio Messias tão esperado desde os mais remotos tempos, Este em cujos ombros carrega toda a plenitude de um governo próspero, ou seja, um reino eterno, de paz, prevalecem sobre Si a promessa e a certeza do livramento enviado pelo próprio Deus, assim como também um raiar de um novo dia para as nações oprimidas da terra que conhecerão o poder de Seu domínio e a inspiração deste Seu governo salvador e redentor, e em que a paz é o traço dominante nesse reinado. Os especialistas comentam que tão grande e poderoso é este Rei que um único título de majestade não basta para descrevê-lO, e entre os muitos nomes significativos que Lhe são dados está o de Deus Forte, segundo uma das maiores profecias messiânicas já anunciadas. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” Ainda segundo os eruditos, é manifestamente impossível relacionar tais palavras de majestosa profecia com qualquer outra pessoa que não seja o próprio Messias, e que através dos séculos a Igreja Cristã encontrou nelas os atributos iniludíveis do Rei vivo e vitorioso no coração dos homens, o único capaz de libertar e salvar a alma na sua situação desesperada e de conduzir o homem a um novo e melhor caminho de acordo com os mandamentos de Deus. E, depois de vencer a morte, vencendo as aflições deste mundo para servir-nos de exemplo, e nos salvar de nossos pecados, e de nos trazer as vitórias de um Reino promissor cujos frutos já estamos usufruindo desde já aqui nesta terra – o justo vive por fé –, é este mesmo Rei que virá como o Filho do Homem, na Sua segunda vinda, para levar os Seus eleitos, ou seja, a Sua Igreja gloriosa – aqueles que permaneceram firmes na sua fé até o fim, apesar de todas as contrariedades deste mundo, e de todas as tribulações que lhes foram permitidas passar, mas que foram derrotadas pela sua confiança neste Deus Todo-Poderoso; que foram salvos, principalmente pela graça deste Deus Soberano absoluto e misericordiosíssimo que escolhe quem bem Lhe entender para morar no céu com Ele. Desta vez, a Bíblia diz que o Filho do Homem virá em meio a toda aquela teofania, cercado de todos aqueles eventos de glória, poder e majestade que Lhe são devidos, e que depois disso tudo o mundo não será mais o mesmo. “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho O verá, até os mesmos que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Sim. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso.” Mas quando virá este dia? O próprio Senhor Jesus, após alertar que passará o céu e a terra, mas que as Suas Palavras não passarão, afirma que daquele dia e hora ninguém sabe. “Nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai.” Mas que o Senhor virá, isso sim. Virá para levar os Seus escolhidos. O próprio Senhor Jesus nos exorta a estarmos sempre vigilantes porque não se sabe quando chegará o tempo. O que é certo é que estas são palavras reconfortantes. O anúncio de que o reino do mal está chegando ao fim, e que o Filho do Homem reunirá e levará todos os Seus eleitos, livrando-nos definitivamente de todos estes cataclismos pelos quais já estamos cansados de tanto sofrer em todos os termos, até mesmo políticos, econômicos e sociais, que só nos levam a um duro teste de fé e de sobrevivência nestes tempos de tantos desafios em que muitos se resignam, outros até se revoltam, blasfemam e desanimam, julgando ter chegado o fim de tudo, até mesmo da própria fé diante de todos estes absurdos. Só mesmo a poderosa mão de Deus para nos resgatar desta confusão toda. Vem, Senhor Jesus, em toda a Tua glória e majestade! Vem buscar este Teu povo que tanto Te espera. Vem, Senhor Jesus, Rei do Universo; vem, a Tua Igreja Te espera! Vem, e salva o Teu povo. Aleluia, e amém!

REFLEXÃO DE HOHE
“Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escurecerá, e a lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas. E então verão vir o Filho do Homem nas nuvens, com grande poder e glória. E Ele enviará os Seus anjos, e ajuntará os Seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu. Aprendei, pois, a parábola da figueira. Quando já o seu ramo se torna tenro, e brota folhas, bem sabeis que já está próximo o verão. Assim também vós, quando virdes sucederem estas coisas, sabei que já está perto, às portas. Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas aconteçam. Passará o céu e a terra, mas as Minhas Palavras não passarão.” – Marcos 13:24-31

LEITURAS DE HOJE
Salmo 111; Daniel 7:9.10
Apocalipse 1:1-8; Marcos 13:24-31

NOTAS
[1] João 16:33; Gênesis 16:11; 29:32; Salmo 34:1-8,15-17,19-22; Colossenses 1:24; Isaías 9:6; Romanos 5:1; Efésios 2:13-20; 2Timóteo 3:12; Romanos 8:37; 1João 4:4
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 636
[2] Salmo 126:1-6; 1Samuel 21:10-15; Salmo 91:3-8: Jeremias 23:23,24; Salmo 125:1-3; Isaías 54:10; Joel 3:17,18; 2Reis 6:17; Salmo 111:1-10; 44:1; 111:4b; Êxodo 34:6,7; Isaías 1:18; Marcos 2:5,7b; Salmo 34:7; 36:1; 128:1; 130:4
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.527, 528. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil,1999. notas. p.598,599, 681, 697,709
[3] Marcos 12:28-31; 1João 4:9,10,19; Isaías 9:1-7; Apocalipse 1:7,8; Danielo 7:9,10
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 478-482
FITCH, W. Isaías: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 697, 698.Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil,1999. notas. p.1171, 1172
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd).São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p.1017, 1018. Reimpressão

terça-feira, 17 de novembro de 2009

QUE NOS AMEMOS UNS AOS OUTROS

“(...) o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” – Marcos 12:30,31

AH, O AMOR!... quem é que já não provou ou provará deste fruto e suas experiências, de um jeito ou de outro? Quem é que já não se expôs por conta destes seus próprios sentimentos? Quem é que já não se dispôs a tais provas? Ainda, e sempre, estas eternas e tão decantadas expressões manifestam-se em todos os tempos e lugares, mesmo que se nos pareçam muitas vezes esquisitas a nossos olhos, e, quem sabe, até aos olhos dAquele que traz em Si a própria essência de um amor sem par, sem fim, e sem fronteiras; de um amor sem exceção, e sem acepção de pessoas; de um amor que se nos parece loucura, e que nos foi ordenado que o praticássemos. Ou seja, que nos amássemos uns aos outros. Não que nos amassássemos uns aos outros, literalmente. Ninguém nos garante que, em busca do que priorizamos como de grande significância para nós mesmos, extasiados por um desejo intenso de domínio, pouco nos importando com os outros, não cometamos barbaridades. Trilhando pelos caminhos dos nossos próprios delírios, dominados por uma inexplicável e avassaladora insanidade, detonamos os outros, de qualquer jeito, desrespeitosamente, empurrando-os para bem longe de nós, do nosso convívio, pensando estarmos fazendo alguma coisa de bom, não se sabe para quem, hoje e sempre, e, acentuadamente, nestes tempos pós-modernos, por diversos ou sofisticados meios à nossa disposição, por mísseis ou por fuzis, carros-bomba, ou no corpo a corpo – na mão grande mesmo –, por socos e pontapés, facões ou facadas, porretadas e traições, pelo mais banal motivo ou até mesmo por uma certa limpeza étnica, por exemplo, e outras discriminações – e tudo mais que se possa imaginar. Arbitrariamente, tudo o que possa nos sobrepor aos outros. Este é o amor dos homens! Amor a quê? Amor a quem? A nós mesmos, apenas e tão somente? Às nossas próprias vaidades? Por vermos as coisas apenas sob a nossa própria ótica e cobiça, sob esta nossa deformação de conceitos e práticas, ou até mesmo de caráter, cometemos terríveis delitos – se é que existam delitos que não sejam terrivelmente abomináveis até para nós mesmos, quando portamos nossa sã consciência. Mas que espécie de amor é este que nós tanto celebramos ou exaltamos em prosas, cantos ou versos, e que, a despeito de tudo isso, nós ainda continuamos nos autodestruindo a nós mesmos, e também aos outros, até mesmo por razões fúteis? Que espécie de amor é este pelo qual, levados por ciúme, egoísmo, e poder, nós nos achamos no direito de oprimirmos as demais pessoas, como indivíduo ou como nação, como marido ou como mulher, como pais ou filhos, namorados ou vizinhos, ou mesmo como um transeunte qualquer, desconhecido, que passa ou é jogado pelas ruas, encharcadas por um sentimento anômalo de exploração como se tivéssemos o privilégio exclusivo sobre tudo e todos deste mundo ou sobre a intimidade alheia? Certamente, este é o nosso tipo de amor; o tipo de amor dos homens. Mas, será que, sinceramente, isto é mesmo amor? Para muitos de nós, isso pouco importa, desde que levemos vantagem em tudo. Desde que sejam satisfeitas as nossas vontades; as nossas atrocidades até então enrustidas. Apesar disso, desse tipo de amor, de tiranias, e, muita vez, de muita covardia – com raríssimas exceções, é claro –, é que são feitas as histórias dos homens, desde os mais pobres coitados das crônicas policiais aos ditos mais nobres, aos superpoderosos, ou aos que se acham donos de todo e de quaisquer poderes, aos que são protegidos por seus comparsas, ou àqueles conhecidos como os de colarinho branco, e que pululam as páginas dos jornais, ou os de cujos feitos estejam estampados nas mais afamadas enciclopédias mundiais.

Porém, diferentemente deste misto de amor e ódio, de guerra e de paz, neste jogo de poderes em que paradoxalmente nos chafurdamos, e, ao mesmo tempo em que somos o próprio alvo, quando não a própria vítima nestes eventos todos, confundindo-nos em tais conceitos num contexto de conflitos sem igual como numa novela que parece nunca ter fim, mas que arraigadamente fixamos tentáculos ao redor do mundo, ou de nós mesmos, a sabedoria divina nos ensina que o amor cobre todas as transgressões, ou melhor, uma multidão de pecados, enquanto que o ódio excita contendas, como se num alerta contra aqueles que rejeitam a mensagem de nos amarmos uns aos outros, ensinada desde o princípio. Por sua vez, o salmista diz que feliz é aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Ou seja, o amor não guarda registro de erros, mas perdoa em resposta ao perdão de Deus, segundo os especialistas, considerando que a história do mundo é a história do ódio, que teve início – e que serviu como padrão – desde o conflito entre Caim e Abel, posto que a maldade sempre odeia a bondade. Esta é a diferença que sempre existirá entre este mundo tão adverso e o povo de Deus, conforme enfatiza o apóstolo e evangelista João na sua primeira carta universal com base em toda a sua experiência de o único apóstolo sobrevivente, e já com sua idade avançada, quando escreveu esta epístola. Porém, como sempre, com todo o seu tom paternal, tanto no terreno da afeição, como no da autoridade que a caracteriza, e contrastando os filhos de Deus com os filhos de Satanás, ou o amor aos irmãos e o ódio ao mundo, o apóstolo destaca que Deus é luz, verdade e amor, e que este mesmo Deus foi revelado em Cristo para que pudesse comunicar a vida eterna àqueles que creem. Estes mesmos eruditos assinalam que o discípulo amado mostra aos leitores de sua carta que os ideais de pureza e amor são dons de Deus comunicados através da Sua autorrevelação, e que, ao mesmo tempo, eles só são reais quando estão em ação, assim como também esta realidade só é possível através do novo nascimento e do perdão dos nossos pecados. “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas. Meus irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que odeia a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.” Sábias palavras, e divinamente inspiradas, que, com seu estilo direto, provavelmente, sejam a última mensagem apostólica dirigida à Igreja inteira, sem nenhum endereço particular, e que resumem a beleza de uma carta universal. São palavras simples, práticas e claras. São pensamentos ricos e profundos que nos levam a uma atitude resoluta e responsável, a uma ação concreta, a uma tomada de posição sem nenhum vacilo, já que não devemos amar apenas da boca para fora, “de palavra nem de língua, mas por obra e em verdade”.

Ah, o amor!... sim, este amor de Deus... quão maravilhoso seria este mundo se todos o exercitássemos conforme exigem os Seus mandamentos! Quão seríamos muito mais felizes! Sim, porque este é um gesto que confere resultados, não unilateralmente, mas como numa via de mão dupla, dando e recebendo, plantando e colhendo, regando e frutificando, para a glória dAquele que um dia amou o Seu povo com amor eterno e com benignidade o atraiu a Si por meio de um projeto de restauração, de prosperidade e de paz. Este é o sonho que Deus tem reservado para cada um de nós. Sim, ainda hoje este projeto também está à nossa disposição para podermos empregar os dons de Deus em benefício dos outros – eis o resumo de todo o nosso dever e obrigação no exercício deste amor, posto que Cristo deu Sua vida por nós, por meio deste grande e gracioso gesto. Assim, também, ao alcançarmos algo da grandeza deste amor de Deus, a nós é imposto, igualmente, estarmos prontos a dar nossa vida pelos outros, assim, de pronto auxílio, por meio de nossas obras, tendo em vista a nossa fé. Como crentes cristãos, somos este povo que também navega nesta estrada da esperança, nesta via de duas mãos, na certeza desta nossa salvação, se temermos a este único SENHOR, não por medo, posto que Ele não é um deus de terror nem um deus enganador, que nos promete bem-estares, tranquilidades e paz, e não cumpre, ou que toma de volta, depois, traindo-nos com a Sua própria Palavra; escravizando-nos, humilhando-nos e destruindo todos os nossos sonhos, mesmo nós depositando nele toda a nossa confiança. Nada disso. O SENHOR nosso Deus não é um deus de balelas nem de oba-oba à moda dos homens e dos seus ídolos. Tampouco o Seu projeto de amor se assemelhe à cantilena dos homens, permeada de um sentimento fugaz, de segundas intenções, de emoções baratas, e efêmeras, chamuscada por declarações de afeto superficiais manifestadas apenas com os lábios, mas bem longe do coração. Sem nenhuma sinceridade. Também este amor não pode ser reduzido a meras expressões externas, ensaiadas, cheias de vãs e enfadonhas repetições, esboroando num vazio sem fim e sem nenhum efeito que possa nos edificar ou nos tonificar contra as hostes do inimigo. Só pode mesmo agradar o coração dAquele que nos chamou a aderirmos a um projeto de salvação que nos foi revelado na Pessoa do Seu único Filho, e nosso Senhor Jesus Cristo, com vistas à nossa plena felicidade, posto que prova de amor não há se não doarmos nossa vida à nosso irmão. E este amor é combinado com a nossa fé na unidade de Deus, que nos cobra obediência a Suas leis, não por medo, mas por amor, como diz o salmista. “Amo os Teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino. Por isso, estimo todos os Teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda falsa vereda.” E mais ainda: “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos, e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos”. É isso, este amor de Deus nos faz andar por veredas retas e verdadeiras, longe das hipocrisias deste mundo, como um tesouro que devemos guardar lá dentro do fundo do nosso coração e comprometermo-nos com ele com toda a nossa alma e com todas as nossas forças, assim como também devemos fazer com que as nossas gerações futuras, nossos filhos, e os filhos dos nossos filhos possam igualmente amar a este mesmo Deus como o seu único Senhor, amando-O, obedecendo-Lhe, e dedicando-se inteiramente a Ele como seu único Salvador. Não é a toa que este amor mútuo, que pode ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente a comunicar-Se, posto que Ele é absolutamente bom, também aparece como a relação humana ideal, longe de ser uma utopia sentimental, posto que deve produzir ajuda prática a quem dela necessitar. Assim, o Senhor Jesus coloca-nos na dinâmica desta “lei régia”, deste grande mandamento, unindo duas escrituras para resumir o nosso dever como homens, nunca dantes interligadas desta maneira. Primeiro, o nosso amor para com Deus, depois, para com o próximo, amando este como a nós mesmos, num mundo onde muitos de nós dizemos que amamos a Deus, mas que desprezamos os demais, principalmente os mais necessitados, dentre tantos outros excluídos por outros quaisquer motivos. Também está escrito que se dissermos que amamos a Deus e odiarmos a nosso próximo, somos mentirosos, “pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a Quem não viu?” Por Sua vez, o Senhor Jesus também põe fim a qualquer discriminação ao declarar que o nosso próximo é qualquer pessoa, até mesmo o nosso inimigo; aquele que praticou o mal contra nós. Daí, só mesmo o amor consegue nos aproximar de Deus e dos homens. O amor cristão, fraternal, bem entendido, que tem sua nascente em Deus e se expande a todos os homens. Não as nossas enfadonhas cantilenas ou despropósitos.

REFLEXÃO DE HOJE
“Aproximando-se dEle [de Jesus] um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhes: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. E o escriba Lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dEle; e que amá-lO de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-Lhe mais nada.” – Marcos 12:28-34

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:121-128; Deuteronômio 6:1-9
2Tessalonicenses 2:13-3:5; Marcos 12:28-34

NOTAS
[1] João 3:16; 15:12,13,17; 16:27; Romanos 5:8; 1João 3:1; Salmo 36:5-10; 145:9,15,
16; 104:21; Mateus 5:44,45; 6:26; 1Coríntios 1:18,25; Atos 10:34; Romanos 2:11; Efésios 6:9; 1Pedro 1:17; Tiago 4:1,2
BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. 3.ª ed. revisada. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 68, 69
[2] Provérbios 10:12; 1Pedro 4:8; Salmo 32:1,2; Romanos 4:7,8; Mateus 18:21,22; Tiago 5:20; 1Coríntios 13:4-7; 1João 3:10-15,18,23; Romanos 13:8
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1500, 1509, 1512
[3] 1Coríntios 13:1-13; 1Pedro 4:7-11; Jeremias 31:3; Deuteronômio 6:1-9; Salmo 119:127,128; 19:7-10; Mateus 22:37; Tiago 2:8; Levítico 19:18; 1João 4:20; Mateus 5:43-48
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 456, 457, 459-465
DRUMMOND, R. J. e MORRIS, Leon. As Epístolas de João, 1João: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1434, 1435. Reimpressão
MANLEY, G. T. Deuteronômio: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 235. Reimpressão
BERKHOF, LOUIS. Teologia Sistemática. 3.ª ed. revisada. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 68, 69
O Novo Dicionário da Bíblia. Trad. por João Bentes. Editor org. J. D. Douglas. (editor em português R. P. Shedd). vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 1963,1990. p. 71. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1015. Reimpressão




sexta-feira, 30 de outubro de 2009

LÂMPADA PARA NOSSOS PÉS

“Atende-me, ouve-me, ó SENHOR meu Deus; ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte" – Salmo 13:3

SABE-SE LÁ se hoje ainda se diz nos meios daqueles que se consideram engajados intelectualmente, ou coisa parecida, que toda unanimidade é burra. Conceito este que se apregoava, até pouco tempo e de certa forma até imprudentemente, para não dizer de conteúdo preconceituoso, talvez por se distanciar dos demais, ou seja, daqueles que, segundo eles, sejam tachados de plebe, ou de maioria indouta, isto é, a maioria dos detentores de um mesmo pensamento ou sentimento comum sobre determinada prática ou conceito. Tais idéias podem ainda estar tão predominantes em distintas camadas políticas, econômicas ou sociais, dentre outras, assim como também nos mais diversificados segmentos religiosos, incluindo aí até mesmo uma acirrada militância destes tais ditos intelectuais que se enclausuram em suas castas. Mas será que tudo isso ainda faz sentido? E quando se trata de um rápido questionamento sobre os caminhos da fé? Mais ainda de uma fé genuinamente cristã, obviamente, mesmo diante de tanta pregação estranha que se ouve por aí? Como é que ficamos perante tais considerações e atitudes às vezes tão polêmicas, para não dizer contraditórias, ou mesmo catastróficas, se comparadas às vistas da própria Bíblia, em que muitos de nós agimos, assim, como se diz, de pronto, tão de perto, e de peito aberto, sem pejo algum, como verdadeiros cegos, tateando no escuro, sem sabermos a quem recorrer ou em quem acertar em busca até mesmo de uma pequena luz que possa nos direcionar melhor o final de todo este túnel? Quem é que pode nos fazer vislumbrar o brilho das estrelas lá tão alto, as riquezas de uma mensagem puramente cristalina, mesmo estando nós no fundo de um poço tão escuro e profundo que parece não ter fim; que parece tão distante daquela verdadeira luz, sem miragem nenhuma em nossa frente? Em meio a estes conceitos todos, talvez em busca de uma outra unanimidade que já virou modismo, vivemos de miragens, posto que fingimo-nos de mortos como naquelas brincadeiras de criança em que, a um toque ou sinal, elas se autocongelam, e ficam paradas, imóveis, até quando alguém que está dirigindo a brincadeira ordena que se movam, e tudo se inicia novamente e, assim, tudo recomeça repetida e sucessivamente. Mas quem é que está neste nosso comando? Quem é que nos faz mover? Quem é que pode nos descongelar deste marasmo todo, de tantas idéias malucas, inclusive no campo espiritual, deste ciclo vicioso permeado de tanto misticismo ou fanatismo estufado de uma exótica e falsa piedade? Quem é que pode nos livrar da nossa cegueira? Quem é que pode nos levar para bem longe desta letargia, destas emoções baratas – as emoções terrenas, as ilusões deste tão fascinante mundo? Quem é que pode nos trazer de volta para aquilo que fomos realmente chamados, para as nossas legítimas responsabilidades, como homens e mulheres empreendedores de um mundo novo, de novos conceitos, com vistas àquele antigo contexto referente à nossa realidade desta e da outra vida, bem longe desta escuridão das nossas almas, sem deixar de lado todos os nossos sonhos? Sim, porque Deus tem um sonho para cada um de nós que é o sonho dEle de nos trazer de volta para uma vida da graça em abundância, ou seja, para uma vida de plena paz e de comunhão com Ele, graças Àquele que nos ensinou a obedecer e adorar ao Pai em espírito e em verdade, que nos dias de Sua vida terrena, embora sendo Filho, e enquanto homem, humilhou-Se, sofreu, submeteu-Se às nossas enfermidades e fraquezas, passou pelas angústias da cruz, assim como pela experiência da dor e da tentação, tudo isso por amor a cada um de nós, mas que também aprendeu a obediência, venceu a morte, e foi consagrado Sacerdote para a nossa salvação.

Até quando vamo-nos permitir, assim, às cegas, e tão aleatoriamente, que nos comandem sem nenhum prumo quanto ao que possa mudar de uma vez por todas o nosso rumo, inclusive com melhor e mais qualidade de vida, não somente natural, mas também espiritual? Ou será que não mais acreditamos que Deus pode mesmo transformar vidas? Muitos vivem por aí às multidões, perambulando por este mundo afora, escravizados por uma fantasia sem tamanho, sofrendo e fazendo com que os outros também sofram, muitas vezes sacrificando vidas, por prazer e por pura maldade, iludidos por sonhos e promessas vãs, por idéias excêntricas e egoísticas. Até quando? As coisas deste mundo não nos levam a nada, porque são passageiras, e até grotescas. Para que servem todas elas, se depois de tudo, de esbanjarmos tanta mediocridade, ainda chegarmos a perder a nossa própria alma? Ou será que vivemos neste mundo trocando seis por meia dúzia? “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Neste exato momento, onde está o meu oração? Onde está o meu tesouro? É de boa qualidade? Quais são as suas qualificações? Quanto e até quando vale? Somos qualificados para a caça a este tesouro? A Palavra de Deus nos aconselha a não errarmos o alvo porque toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das Luzes, em Quem não há mudança nem sombra de dúvidas ou variação, já que devemos pensar nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra. Apesar de expressar a sua angústia pelo grande peso do seu chamado profético, ou seja, do seu ministério, e apesar das respostas de suas orações e encorajamento da parte do SENHOR, o profeta Jeremias é famoso por suas profecias de infortúnios. Porém, numa certa parte da sua profecia, ele teve também que anunciar que o tempo de arrependimento já havia passado para os israelitas, e que o julgamento de Deus já estava decidido contra este povo rebelde. Assim, ele faz previsões de alegria, e conclama que Deus está prestes a realizar um grande e tão almejado sonho: trará de volta para a sua pátria aqueles israelitas que tinham sido conduzidos para Nínive pelos soldados assírios há cerca de cem anos. Assim, quando, surpreendentemente, Deus promete trazer de volta do cativeiro o Seu povo, lamentos, dores e sofrimentos transformaram-se em júbilo em meio àquela multidão em que se incluíam cegos e aleijados, mulheres grávidas e mulheres que deram à luz, dentre tantas outras pessoas. Este era o perfil daquele séqüito que estava voltando à sua terra, e com seus choros e súplicas, o SENHOR estava levantando-os,levando-os e guiando-os aos ribeiros de águas por caminho direito no qual não tropeçariam, proclama o profeta, convidando este povo a louvar, cantando com alegria, a este Senhor que não abandona ninguém, mesmo se tivermos que nos responsabilizar por nossos próprios atos, se tivermos que pagar um alto preço pelos nossos próprios deslizes. Se lutarmos e se pedirmos, sem nenhum tipo de desânimo, seremos atendidos. Com justiça, o Espírito de Deus opera em cada um de nós e nos faz refletir sobre nossos próprios erros, dando-nos a chance de podermos voltar sãos e salvos do cativeiro em que nos chafurdamos sabe-se lá por que e quando, posto que Deus não é como nós, que só nos interessamos pelos mais fortes, pelos mais saudáveis, pelos mais bonitos, segundo o nosso ponto de vista, e desprezamos os mais fracos, os cegos, os coxos, os viciados em quaisquer drogas que alucinam este mundo, ofuscando de todos a verdadeira luz. Como aquela multidão que foi resgatada de seu exílio e trazida com grande alegria para sua terra ante a fartura do seu país, hoje, também nós devemos desfrutar deste regresso aos braços de um Deus que salva todos os coxos e cegos espiritualmente, aqueles que necessitam de salvação, e pedem com suas próprias palavras, não importa se com choros ou lágrimas outras. Aqueles que clamam o nome do Senhor com objetividade, com verdadeiro arrependimento e sentimento de fé no seu coração são atendidos por um Pai que por meio da obediência e méritos do Seu Filho traz-nos de volta a um ambiente de festa e fartura de bênçãos num Reino que não tem fim e que só nos faz bem, consequentemente, posto que nos céus sempre há uma grande alegria pelo pecador que se arrepende, e esta alegria chega até diante dos anjos de Deus.

Mas, por que será que quando se fala destas bênçãos, a maioria das pessoas torce o nariz, e muitas delas até mudam de assunto ou saem correndo? Sabe-se lá!... O que se deduz é que o inimigo é muito astuto. Por meio desta astúcia, e utilizando-se das nossas fraquezas, assim como da nossa arrogância e desobediência, o mal entrou no mundo, e este inimigo ainda age no meio de nós, priorizando, assim, a corrupção geral do gênero humano. Desde então, vivemos, igualmente, carregando as marcas desta herança adâmica como se fôssemos equilibristas sobre um fio de navalha, como cegos e coxos exilados espiritualmente, debaixo das sanhas da escravidão dos nossos próprios pecados, se não formos alcançados pelos rumos da salvação nesta nossa longa viagem de volta às exigências da Palavra de Deus revelada nas Escrituras, já que depois desta nossa queda estamos inteiramente debilitados e impossibilitados de levantar-nos por nossas próprias mãos. Necessitamos, então, de um socorro. E de onde vem o nosso socorro? Nos dizeres do salmista, o nosso socorro vem do SENHOR que fez o céu e a terra, já que Deus é o guarda fiel do Seu povo, o nosso protetor e libertador contra qualquer possibilidade de perigo em nossa volta. Segundo os comentaristas, esta presença de Deus é como uma sombra a proteger-nos do calor do sol, e dos raios da lua. A salvaguarda de todo perigo exterior em que qualquer possibilidade de ameaça é contrabalançada pela confiança ilimitada e indubitável no poder e na vigilância do SENHOR, que é o nosso eterno e constante ajudador. A Bíblia diz que em Deus faremos proezas porque Ele é que pisará os nossos inimigos. Em seus lamentos expressados nos momentos de aflição quando o inimigo tentava erguer-se contra ele, seja nas guerras, na doença ou mesmo se estivesse prestes a morrer, diante desta sua extrema tristeza, Davi sempre recorria a Deus, confiantemente: ”Mas eu confio na Tua benignidade; na Tua salvação se alegrará o meu coração. Cantarei ao SENHOR, porquanto me tem feito muito bem”, orava com fé. O próprio Senhor Jesus, enquanto homem, ou seja, nos dias de Sua carne, quando dos tempos de Sua vida terrena, mesmo isento de qualquer infecção do pecado, também não possuía um espírito férreo, nos dizeres de Calvino. Ele mesmo buscou um meio de escape para livrar-Se do mal, “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas Ao Que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho (...)”, dando, assim, testemunho da suprema angústia de Seu espírito e, segundo o escritor da carta aos hebreus, expressando a intensidade de Sua tristeza. Assim como os salmistas louvaram a Deus porque Ele ouvia os seus gritos de socorro, assim também os clamores do Senhor Jesus, pedindo pelo livramento da morte, do mesmo modo, foram respondidos, segundo os especialistas, não através de um livramento do horror da cruz, mas através de Sua ressurreição dentre os mortos. Daí, Calvino indicar que o tempo de nossas misérias humanas é limitado; existe um ponto final para o nosso sofrimento, posto que ainda quando somos oprimidos por adversidades, não somos excluídos do rol dos filhos de Deus, ao vermos que adiante de nós vai Aquele que, por natureza, é Seu único Filho. O comentarista ainda ressalta que este fato de sermos contados no número dos filhos de Deus só se dá em virtude da graça de nossa adoção porquanto o Único que possui o direito de reivindicar tal honra nos admite em Sua comunhão. Esta é a nossa segurança, posto que sempre que formos perseguidos, torturados e oprimidos por nossos males, devemos voltar as nossas mentes para o Filho de Deus que suportou o mesmo fardo. É Cristo que marcha diante de nós, não nos dando motivos para qualquer desespero. Também devemos estar atentos para não buscarmos salvação nestes nossos tempos de angústia em nenhum outro senão unicamente em Deus. Os exemplos do próprio Senhor Jesus são os nossos melhores guias para as nossas orações, já que, em nossos momentos de lágrimas e clamores, recomendam-se fervor e sinceridade nas nossas orações. Foi o que fez o cego Bartimeu que gritava desesperadamente para que o Filho de Davi tivesse misericórdia dele, quando Jesus saía de Jericó com Seus discípulos e uma grande multidão a caminho de Jerusalém para doar a Sua vida por amor e que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Diante de tanta insistência, e mesmo sendo repreendido para que se calasse, o cego de Jericó clamava cada vez mais, até que Jesus, parando, pediu para que o chamassem. Assim, Bartimeu lançou fora a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus que lhe perguntou o que queria que lhe fosse feito. O cego disse: Mestre, que eu tenha vista. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. A Bíblia diz que o cego logo começou a enxergar, e seguiu a Jesus pelo caminho. Quanta lição de vida devemos aprender com as revelações da Palavra de Deus em nossa vida, qual neste rico episódio, se analisarmos pormenorizadamente tudo o que foi dito aqui! A começar que Deus sempre ouve as nossas orações, mesmo quando não nos pareça, principalmente quando elas forem pronunciadas com resolução, clareza e fé. Que estejamos sempre atentos ao toque do Espírito de Deus, para que tenhamos ânimo sempre, não desistindo nunca das nossas petições, posto que somente Deus por meio do Senhor Jesus Cristo, Seu único Filho, é capaz de parar para nos ouvir e restituir-nos a luz através de um milagre que ilumina os nossos pés para podermos ir em frente pelo caminho que Ele pede para segui-lO daí por diante, e para sempre, posto que a Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés, e luz para este nosso novo caminho. Mas será que estamos realmente dispostos a deixar para trás toda uma vida de escuridão para seguirmos a Jesus, como aquele cego de Jericó, depois que enxergou a verdadeira luz? Que Deus nos ajude, e ilumine os nossos corações e mentes!

REFLEXÃO DE HOJE
“Porque todo o sumo sacerdote, tomando dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados; e possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza. E por esta causa deve ele, tanto pelo povo, como também por si mesmo, fazer oferta pelos pecados. E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão. Assim também Cristo não Se glorificou a Si mesmo, para Se fazer sumo sacerdote, mas Aquele que Lhe disse: Tu és Meu Filho, hoje Te gerei. Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. O Qual, nos dias da Sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas Ao Que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo Ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que Lhe obedecem; chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.” – Hebreus 5:1-10

LEITURAS DE HOJE
Salmo 13; Jeremias 31:7-9
Hebreus 5:1-10; Marcos 10:46-52

NOTAS
[1] João 4:23,24; Hebreus 5:7-9; Marcos 14:32-36,39; João 12:27
CALVINO, JOÃO. Comentário à Sagrada Escritura. Exposição de Hebreus. Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições Paracletos, 1997. 1.ª ed. p. 131
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1468
[2] Marcos 8:36,37; Mateus 16:26; 6:19-21; Tiago 1:16,17; Colossenses 3:2; Jeremias 30-31; 31:7-9; 19:10,11; Lucas 15:4-10,11-32
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 859, 894
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 446-455
CAWLEY, F. Jeremias: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 765. Reimpressão
[3] Gênesis 3:1-24; 6:5,11; Salmo 14:1-7; 51:5; 53:3; Romanos 3:9-20; Salmo 60:12; 121:1-8; 124:8; 13:5,6; Hebreus 5:7,8a; Mateus 26:39,42,44,53; 27:46; Marcos 14:36,39; Lucas 22:41,44; Salmo 22:1,24; 116:1; João 3:16; Salmo 119:105; Provérbios 22:6
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.509, 510, 608. Reimpressão
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 707, 708
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1011. Reimpressão
CALVINO, JOÃO. Comentário à Sagrada Escritura. Exposição de Hebreus. Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições Paracletos, 1997. 1.ª ed. p. 126, 132-134
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1357, 1358. Reimpressão

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SERVIR, E SER SERVIDO

“Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” – Marcos 10:45

QUANTAS VEZES já nos deparamos com pessoas aparentemente simples, mas com dons especiais, ou mesmo com lideranças das mais exemplares, personalidades de destaque na Igreja, pessoas das mais participativas, disponíveis para qualquer serviço, que se envolvem ativamente em quaisquer atividades entre os irmãos, e que se dispõem a fazer tudo, inclusive sozinhas, às vezes até dispensando ajudas, mas que, no final das contas, percebemos que muitas destas pessoas querem mesmo é aparecer dentre os demais, impondo-se sobre estes, apenas com o objetivo de solidificarem a sua própria supremacia e controle, além de outras estranhas intenções, causando mal-estares, descontentamentos, e prejudicando o grande bem que poderiam estar fazendo a quem realmente necessite destes seus préstimos que deveriam ser praticados espontaneamente! Quantas vezes já descobrimos, vimos, ouvimos ou lemos por meio das mais diversas mídias, ilícitos cometidos por personalidades das mais variadas graduações sociais, públicas ou privadas, e até mesmo religiosas, perpetrados apenas com um único intuito: angariar mais e mais poder, fama, riquezas, prazer, ou até encantos para si próprios, apenas e tão somente, e a qualquer preço! Lógico que, depois, estas práticas são costumeiramente negadas, contestadas e desmentidas pelas próprias fontes ou personagens envolvidas ou por aqueles que tomaram como base os próprios fatos para se defenderem ou pagarem seus defensores, recorrendo até aos famigerados recursos, de acordo com a dimensão da cara de pau de cada um dos possíveis arrolados, para não dizer do montante da sua conta bancária. E o que é pior ainda: em geral, posam de ilibados líderes absolutos ao longo da história, sempre vitoriosos, como se nunca tivessem cometido nada demais; como os reis da cocada, dos abacaxis e marmeladas. É a tal inversão de valores, e isso escorrega por todos os poros vivos dos escalões da nossa sociedade, em maior ou menor escala, conforme o perímetro de cada uma de suas células. E esta escalada até vira piada! Curioso hábito que temos de rirmos de nós mesmos, dos nossos próprios erros, da nossa própria desgraça, e que não leva a nada. Não é absurdo tudo isso? Mas quem se aventura a mexer ou remexer nestes contextos todos, nesta fedentina toda, e mudar tais conceitos e comportamentos arraigados há séculos? Ah, coitado, será eliminado da face da terra, literalmente! É a escalada dos tais, dos podres poderes. E os outros, os pobres coitados, os ditos bem intencionados? Que se danem! E os acordos ou conchavos de bastidores, e até mesmo a pressão ou influência dos lobistas? Tudo faz parte do jogo, justificam. E os que não podem arcar com seus próprios defensores, contratar seus próprios marqueteiros? Que se explodem! – lá, intimamente, na versão deles, que se acham os mais espertos deste mundo onde os outros são tidos como otários; que nos fazem viver de mentiras, na grande ilusão desta vida sem sentido, por conta de um desrespeito generalizado, da exclusão ou invisibilidade dos demais, dos mais humildes, dos mais fracos e oprimidos, dos que não têm acesso à informação ou à sua própria defesa; dos próprios excluídos, propriamente ditos. Mas, na verdade, quem é que é o próprio otário? Quem é que sempre insiste em posar isoladamente, e de corpo inteiro, como o tal neste mundo de loucuras mil? Quem é que vive no decorrer destes dias afetadamente em eterno êxtase? Quem não conhece a infeliz expressão: “Você sabe com quem está falando?” Ou, ainda: “Alto lá, eu sou amigo, compadre, apadrinhado – ou sabe-se lá o que mais nestas baboseiras todas – do Dr. Fulano, que é amigo do Dr. Sicrano ...” E por aí vai, diante de tamanha prepotência como se certas posições sociais lhes dessem poder de deuses. Como já dizia certo âncora de um antigo noticiário de televisão ante casos parecidos e veiculados por estas bandas: “Isso é uma vergonha!” É isso mesmo, é uma vergonha para quem preza a honestidade, a humildade, a ética, a sinceridade, a moral, o respeito e, principalmente, o temor a Deus. Ao Deus vivo e verdadeiro, bem entendido. Estes são até ironizados, achincalhados acintosamente, como animais em extinção, espécime rara de uma geração que tomou corpo depois que o pecado entrou no mundo.

Regra de fé e prática para os crentes cristãos e fonte inesgotável de ensinamento em que até os que não professam esta mesma fé dela se utilizam, seguindo outras e particulares intenções, a Bíblia, como a revelação da própria Palavra de Deus, e inspirada por Ele, nos alerta que o temor do SENHOR é o princípio do conhecimento e os loucos desprezam esta sabedoria e instrução. O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria porque é Ele Quem nos dá esta sabedoria; da Sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento. E mais: Deus reserva a verdadeira sabedoria para os retos. A sabedoria é o escudo para os que caminham na sinceridade. Mas, por ambição, e dominados pelo desejo de poder e autoridade deste mundo, extrapolamos e confundimo-nos, dada a nossa incapacidade de entendermos as coisas do alto, muitas vezes, colocando tudo a perder. No Evangelho de Marcos, a Bíblia narra a história de um ousado e ambicioso pedido dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, na frente de todos os outros discípulos, fizeram a Jesus uma proposta, no mínimo, indecente, se considerarmos as sérias reflexões anteriores que o Mestre lhes havia anunciado pela terceira vez a respeito de Sua morte e ressurreição, posto que seria insultado, condenado, flagelado e levado à morte. Por sua vez, o Evangelho de Mateus conta que foi a mãe de Tiago e João que tomou a iniciativa, formulando tal pedido com palavras mais amenas. O nome dela era Salomé, e parece que era irmã da mãe do Senhor Jesus. Neste caso, Tiago e João eram primos de Jesus. Considerada pelos especialistas como a primeira intriga eclesiástica para obter posições destacadas na Igreja, originada de uma maquinação da família Zebedeu contra Pedro – o terceiro membro do trio privilegiado –,estes primos do Senhor exigiram dEle os primeiros lugares na Sua glória, com um deles assentando-se à direita e outro à esquerda de Jesus, como se o Reino Messiânico fosse um reino deste mundo, onde se faz o que bem se entende ou por acordos entre as partes segundo as nossas benesses, desconsiderando, assim, o ensino de Jesus sobre grandeza, o que nos leva a crer que eles ainda tinham muito o que mudar em suas atitudes. O mesmo pode acontecer também com cada um de nós ainda hoje nestes nossos tempos tão atribulados pelas ambições de honrarias e privilégios dos primeiros lugares em tudo, e a quaisquer custos, ou pela nossa ignorância a respeito de Quem outorga o tão cobiçado lugar que não é agraciado por nenhum favoritismo pessoal de ninguém, mas “para aqueles a quem está reservado”, e até mesmo nestes nossos tempos de cegueira espiritual, mesmo que nós tenhamos ouvido e lido, discutido e interpretado corriqueiramente os textos que falam sobre o Servo Fiel, desde como Deus avalia a vida deste Servo, até Este próprio Servo Se apresentar, encarnando-Se feito homem, tomando sobre Si os nossos pecados, e nos dando uma tremenda chacoalhada deste nosso sono estranho como fez com os discípulos por meio de Seus reiterados ensinos, sendo Ele mesmo esta encarnação da Sua própria ética e prática desta Sua própria pregação. O Senhor Jesus não foi de nenhum modo condescendente com a postura dos filhos de Zebedeu e da mãe deles, convencendo-lhes que eles nem tinham noção do que estavam pedindo. E, usando de símbolos poéticos do cálice e do batismo tirados dos tempos passados para representar sofrimento e aflição que o Justo deve suportar para o resgate de muitos, o Senhor Jesus procura revelar-lhes o significado da Sua glória e a realização dos desejos deles. Ainda sem entender, eles preferem embalar-se na ilusão, nos dizeres dos especialistas, de que o cálice a ser participado com Jesus seja delicioso; esperam que seja um sinal de participação à Sua vitória e se declaram dispostos a sorvê-lo. O Senhor Jesus respeita a lentidão deles nesta compreensão dos desígnios de Deus, e anuncia-lhes que um dia eles também participarão com Ele destes Seus sofrimentos e morte, tomando do Seu mesmo cálice, e darão a própria vida em razão da fé deles. Somente muitos anos depois é que eles compreenderam e sentiram o significado de tudo isso em suas próprias peles. Até então, Jesus insistia na Sua severidade, sendo até duro com eles, contra qualquer tipo de ambição para que não se pusesse em risco os fundamentos da Sua doutrina. Ao dar-lhes uma ordem taxativa, o Senhor Jesus não quer deixar dúvidas, incertezas ou perplexidades, confirmam os estudiosos, sobre este assunto. “Sabeis que os que são considerados governadores das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas; mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; e qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos.”

Não parece um paradoxo para os nossos dias tais propostas? Até que ponto estamos preparados para levarmos tudo isso a sério na nossa comunidade, nas nossas lideranças, no nosso dia a dia, principalmente nós que sabemos, lemos, ouvimos e discutimos tais ensinos? Como é que consideramos isso dentro e fora da Igreja? Ou isso também não vale para a nossa prática secular? Devemos não esquecer que o que quebrou os corações de pedra dos discípulos de Jesus foi o exemplo que Ele mesmo dá como líder. Qual tem sido o nosso exemplo com relação a essa quebra de paradigmas em meio aos desafios destes nossos dias? Também devemos não esquecer que Aquele que é conhecido como o Filho do Homem, e que herdará domínio e glória, assim como também o Reino, veio humildemente como servo, conforme anunciado desde os mais remotos tempos, para cumprir o projeto de salvação do SENHOR nosso Deus, e nos dar o exemplo que, apesar das dificuldades deste mundo, nós também podemos vencer todas as tribulações e crescer conforme os exemplos do próprio Senhor. É pela fé que somos salvos, e pela fé seremos alcançados pela Palavra por meio deste mesmo Senhor que foi tentado pelo demônio, mas que Se livrou dele por esta mesma Palavra, ou seja, pela Palavra de Deus. Não podemos esmorecer nunca, se é que queremos nos libertar destas ansiedades e ganância por um poder passageiro, por um poder que já nasceu falido, o poder dos homens quando gerado pelo próprio homem. Este mesmo Jesus passou por todas as dificuldades que nós também temos que passar ou já passamos ou estamos passando. Ele conhece os nossos corações e todas estas nossas dificuldades. Ele sabe como é difícil seguir fielmente a Deus, mas que é possível, se nos apegarmos firmemente, e sem desanimar, a Ele, que não teve nenhum pecado, especialmente quando somos provados pelo sofrimento, já que Ele também passou por tudo isso, e venceu. Somente a Palavra de Deus nos liberta. Somente o Senhor Jesus tem autoridade para entender todas as nossas fraquezas. Sempre é tempo para recorrermos a Ele, e o nosso tempo é hoje, para revermos todos os nossos conceitos, posto que somente a Ele “foi-Lhe dado o domínio, e a honra, e o Reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem; o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o Seu Reino tal, que não será destruído”. Só que este Seu Reino não é deste mundo. Somente a este Senhor é que devemos servir, não a outro, já que os diversos dons e aptidões nos foram dados por Deus, não para provocarmos divisões entre os homens e nações, ou famílias, mas para a nossa melhor comunhão entre todos nós, juntamente com Ele na cabeça, com vistas à harmonia deste Seu Reino, desde já, e aqui neste mundo que, segundo os Seus planos, ser grande é ser servo, o servo de todos; é ser sempre o último, e não o primeiro, para a dignidade de todos, longe das guerras, das confusões todas que tão bem estamos vivenciando nestes nossos tempos em que as pessoas estão digladiando entre si por qualquer banalidade, e se autodestruindo, não somente a si mesmas ou as suas próprias famílias, mas também o seu próprio ambiente terrestre, o seu próprio meio de vida, ou seja, a própria natureza em que vivemos, assim como a sua própria natureza como ser humano filho de Deus, esquecendo que tudo isso nos foi presenteado pelo divino Criador para que possamos gozar com Ele na Sua glória, que não se restringe à glória somente deste mundo, mas também futura. A glória eterna. Que possamos ter esse ânimo e intenso esforço para continuarmos nesta caminhada, desfrutando a possessão desta bênção a nós reservada – que é atual e futura. Que tenhamos a grandeza daquela humildade tão reiteradamente exercida e ensinada pelo Servo Fiel, e que também possamos ser privilegiados por esta divina graça de fazermos parte deste rol daqueles que zelam pela fidelidade àquele Servo que veio, não para ser servido, mas para nos servir, doando-Se a Si mesmo como inenarrável prova de amor por nós em cumprimento à própria Palavra de Deus no tocante a Seu plano de redenção, dando a Sua própria vida em nosso lugar neste memorável resgate. A Ele, pois, todo o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

REFLEXÃO DE HOJE
“Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dEle; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com Quem temos de tratar. Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.” – Hebreus 4:12-16

LEITURAS DE HOJE
Salmo 91; Isaías 53:10-12
Hebreus 4:9-16; Marcos 10:35-45

NOTAS
[1] 1Coríntios 12:4-6; Efésios 4:7,8,11-16; Romanos 12:1-8; 1Pedro 4:8-13
[2] Provérbios 1:7; 2:6,7; 9:10; Marcos 1:19; 3:17; 10:35-45;15:40; Mateus 20:20-28; 27:56; João 19:25; Marcos 9:34,35; Isaías 53:2,3,10-12; Atos 12:2; Apocalipse 1:9; Marcos 10:42-45
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1010, 1011. Reimpressão
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 439-445
Bíblia Sagrada – Nova Versão Internacional. Trad. pela Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2000. p. 808
[3] Marcos 10:45; Isaías 53:11,12; 52:13-53-12; Lucas 22:27; João 13:13-15; Filipenses 2:6-8; 2Coríntios 8:9; Daniel 7:14; João 3:16,17; Mateus 6:13
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1166
FITCH, W. Isaías: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.732. Reimpressão
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1356. Reimpressão

domingo, 18 de outubro de 2009

SEM DESCULPAS EVASIVAS

“Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-Me” – Marcos 10:21b

NOSSA VIDA é feita de escolhas. Pode até ser que terceiros venham nos influenciar, mas, no final, na hora de bater o martelo, somos nós mesmos que temos que escolher qual caminho seguir, seja em termos de ideais ou definição de toda uma vida que vale, em geral, para sempre. E isso nos trará sérias repercussões que podem deixar rastros dos mais variados possíveis para o resto da nossa vida. Amargos ou não, são rastros que absorvem as marcas de uma decisão definitiva que somente a nós pertence, já que temos que fazer a nossa parte por mais difícil que seja tomar tão extremada iniciativa. Muitas vezes isso se torna em grande e complicado dilema, uma incógnita que nos perguntamos se realmente vai valer a pena. Porém, a resposta só a teremos quando mergulharmos de cabeça, e irmos até o fundo, às vezes à custa de muitas lágrimas, posto que nada daquilo que seja sério nesta nossa vida seja adquirido, assim, como se diz, de mão beijada, subitamente. Ou seja, com facilidades. Sem contar que certas tomadas de decisão ainda podem respingar sequelas em quem estiver por perto ou ligado a nós, ou de um jeito ou de outro, interferindo em suas decisões e destino. É como se fôssemos postos à prova a todo instante num teste de resistência para podermos contar mais tarde, não se sabe para quem ou como se fosse um ótimo ensejo para uma reflexão, depois, que sirva talvez para nossos filhos ou para os outros de uma possível e futura consangüinidade ou mesmo para contarmos numa roda de amigos como experiência de vida. Ou ainda que sirva de pauta na mídia como um belo exemplo a ser especulado diante dos infortúnios do nosso tão atribulado dia a dia em que vivemos até mesmo atordoados diante de tantos conflitos e contrassensos. Só que muitas vezes muitas águas vão rolar, muitos corações vão sangrar, vão verter nossas seivas corpos adentro, e ardentes, dilacerando uma vida inteira que só continua graças ao incomensurável amor dAquele que sabe todas as coisas, como sempre, o SENHOR nosso Deus, depois de um rio que foi passando aos trancos e barrancos rasgando e deixando feridas neste desafio constante de querer seguir em frente. De querer seguir até o fim. De querer ser gente, não qualquer coisa à toa fincada na proa desta embarcação que voa de vento em popa sem pedir passagem nem medir esforços até aquele inevitável dia. Ou seja, a nossa vida tem que continuar, já que todos temos as nossas responsabilidades, posto que também vivemos de propósitos e de propostas que nos incumbiu o divino Criador antes mesmo da fundação do mundo. Antes mesmo de sermos criados, tendo em vista a onipresença e a onipotência deste nosso poderoso Deus que nos sonda e nos conhece desde os nossos próprios pensamentos, assim como todos os nossos próprios caminhos. Daí, a importância de sabermos discernir as vias e vielas, portas e janelas, assim como as veredas e entranhas destas nossas escolhas, por onde elas vão seguir, em que vão dar e nos levar depois, aonde e quando elas vão chegar, e se elas vêm mesmo de Quem no-las outorgou.

É certo que no roteiro desta nossa viagem muitas coisas nos chamam atenção e nos atraem. Muitas não passam de lisonjeiras tentações. É certo também que não conseguimos alcançar todas elas, nem tudo o que queremos, nesta vida, mas escolher uma significa renunciar à outra ou a muitas outras. Veja a história de Salomão. Ele não pediu os desejos comuns de um monarca qualquer, ou seja, vida longa, riquezas ou a morte de seus inimigos, mas, preferiu a sabedoria e o conhecimento a todos os outros bens deste mundo. A escolha de Salomão foi tão considerada por Deus e marcante no seu reinado que lhe foram dados tantas riquezas, bens e honra os quais não teve nenhum outro rei antes dele, e nem depois dele haverá, ratifica a Bíblia, cujos especialistas identificam este esplendor e poder do reinado de Salomão como o resultado da sabedoria divinamente conferida a ele. No decorrer de toda a nossa vida temos que fazer, desfazer ou refazer as nossas próprias escolhas, todos os dias, e sobrevivermos a todos estes procedimentos, superando obstáculos, dimensionando o tamanho dos nossos sonhos, das nossas metas e de como encararmos o nosso porvir, individualmente ou em nossa comunidade, seja como instituição pública ou privada, laica ou religiosa, ou como liderança em cada uma delas, e mesmo como pais dentro da nossa própria família, tendo em vista um projeto de vida criativo, que produza resultados positivos, que sirva de lenitivo e preencha possíveis deficiências ou quaisquer outras lacunas, e que contribua para o bem-estar e qualidade da nossa própria sobrevivência, e também dos outros, o que nos leva a refletir sobre qual o formato deste projeto que idealizamos para hoje e para os próximos anos de toda a nossa vida. Como andam as nossas escolhas para alcançarmos tais objetivos? Quais as personagens deste plano? Temos colocado estas escolhas diante de Deus? Qual é o plano de Deus na dimensão destes nossos planos e escolhas ou vice-versa?

Dizem os especialistas que, em sua sabedoria, Salomão prefigurou a nosso Senhor Jesus Cristo, que, por meio do Seu Reino próspero e pacífico, representa uma nova liderança da dinastia de Davi por ser também a sabedoria e o poder do Deus encarnado e em Quem estão ocultos todos os tesouros desta sabedoria e desta ciência. Consideram ainda que esta sabedoria e poder de Deus não são forças abstratas, mas, sim, qualidades pessoais que se manifestam plenamente na vida, nos ensinos, na morte e na ressurreição do Senhor Jesus. Como Filho de Deus, este mesmo Senhor, em Cristo, foi escolhido pelo Pai para resgatar um povo que este mesmo Deus escolheu para ser Seu. Moisés também foi escolhido por Deus para livrar o povo hebreu da escravidão egípcia, e levá-lo a uma terra fértil, boa e larga que mana leite e mel. Moisés e Cristo são comparados quanto à fidelidade e contrastados quanto à honra. Mediador humano do antigo pacto, Moisés foi chamado apenas para ser servo, embora um servo especial, e sem paralelo, do SENHOR. Tinha o privilégio de falar face a face com Deus e ver a Sua forma. Os israelitas traçavam até ele seu senso de posição e chamada como povo consagrado de Deus. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar”, diz a Bíblia. Porém, como agente da criação, Cristo merece a honra como o construtor divino de todas as coisas e, “como Filho, sobre a Sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim”, confirmam os estudiosos, assim como as próprias Escrituras, concluindo que, semelhantemente aos israelitas, os crentes são dedicados e chamados por intermédio do Senhor Jesus, o Mediador do novo pacto, “porque, assim, o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos.” Moisés e Cristo, ambos escolhidos e, obedientes a um chamado, também tiveram o privilégio de escolher, abraçando um mandado do SENHOR nosso Deus e Pai quanto à realidade da esperança e a confiança de um mundo melhor; de um povo regenerado, assim como a herança da vida eterna, longe das armadilhas do pecado. Herança esta que ainda hoje nos leva a refletir sobre as influências das nossas próprias escolhas em nossa vida presente e futura. A Palavra de Deus, segundo os Evangelhos sinóticos, narra o episódio de um jovem rico a quem o Senhor Jesus propõe uma decisiva escolha, quando este jovem Lhe pergunta o que faria para herdar a vida eterna, a que Jesus respondeu: ou segui-Lo, renunciando a todos os bens que possuía, vendendo-os todos, ou dando-os aos pobres por conta de um tesouro no céu; ou ficar com tudo, e não segui-Lo. Diante desta resposta do Senhor, a Bíblia diz que o jovem “pesaroso desta Palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades”. Então, Jesus disse a Seus discípulos: “Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus!”, enquanto Seus discípulos admiravam-nO ainda mais, e perguntavam entre si: “Quem poderá, pois, salvar-se?” Jesus, porém, olhando para eles, disse: “Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis”. É certo que a Palavra de Deus não está de brincadeira para com nenhum de nós, posto que ela trata da nossa própria salvação, de uma situação que, em especial, consta nos planos e propostas de Deus para cada um de nós. Deus nos deu a liberdade de escolha, sim, porque Ele não é nenhum impostor, nenhum déspota, mas também nos deu a responsabilidade para podermos fazer tais escolhas e arcarmos com as consequências das nossas decisões, conforme aquilo que Ele tem traçado para o bem de cada um de nós desde os mais remotos tempos, posto que Ele é pura benignidade. O Senhor não nos quer para o mal, e nem nos faz mal algum, nós é que nos entrincheiramos por caminhos estranhos e adversos, iludidos por falsos poderes, afastando-nos daquilo que Ele tem para nos oferecer. O salmista diz que a lei de Deus é uma delícia para ele, e ainda: “As Tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me inteligência para entender os Teus mandamentos”. Por piores que possamos estar em qualquer situação, por mais que as consideremos intransponíveis diante das dificuldades, devemos sempre ter fé e encarar tudo de frente porque aquilo que pensamos ser impossível para nós, para Deus tudo é possível, já que é o Deus da nossa salvação. O SENHOR é a nossa luz, a nossa salvação, a força da nossa vida. A quem temeremos? De quem nos recearemos? A Palavra de Deus é exigente, sim, porque ela é poderosa para nos salvar de qualquer caminho errado em que nos infiltremos ou por ignorância ou por arrogância nossa ou soberba própria dos homens. Nós só temos é que obedecer. Por tudo isso é que temos que tomar decisões radicais em nossa vida, pois se nos é dada a chance de escolher, também temos o privilégio de sermos escolhidos, e quando Deus nos escolhe, não há outro jeito, é segui-Lo, sem desculpas evasivas, e ponto final. Dos céus, o SENHOR nos chama, convocando-nos a sermos perseverantes na fé, a irmos em frente, se as nossas escolhas são realmente verdadeiras, ou seja, do agrado dEle. Ele também nos chama para os céus, uma pátria superior e eterna herança daqueles que são chamados, já que esta é uma herança e, se assim o é, não se ganha, não se conquista como prêmio, como recompensa por nossas boas obras, mas é dada gratuitamente, é dom de Deus, porque pela graça somos salvos, por meio da fé; não vem de nós nem das nossas obras, para que ninguém se glorie. A nossa salvação vem apenas do SENHOR nosso Deus por meio da soberana iniciativa divina, e não por esforços humanos. Nós só temos é que cumprir as nossas obrigações, fazer a nossa lição de casa; o resto é com o nosso Salvador, pelo Seu imenso amor intermediado pelos méritos do Senhor Jesus, não pelos nossos, pois não temos mérito nenhum que possa nos levar a sermos salvos por nós mesmos. Que o Espírito de Deus nos oriente neste sentido, hoje e sempre, diante de todas as nossas escolhas.

REFLEXÃO DE HOJE
“Então Jesus, olhando em redor, disse aos Seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas Suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus. E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.” – Marcos 10:23-27

LEITURAS DE HOJE
Salmo 119:73-80; Amós 5:6-8
Hebreus 3:1-6; Marcos 10:17-31

NOTAS
[1] Salmo 119:73; 139:1-24
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano B. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 432-438
[2] 1Reis 3:3-15; 2Crônicas 1:7-12; 1Reis 10:14-29
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 394, 395, 499
ELLISON, H. L. 1 e 2Crônicas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.417. Reimpressão
ELLISON, H. L. 1 e 2Reis: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p.354. Reimpressão
[3] Isaías 11:1,2; Mateus 1:1; Colossenses 2:3; 1Coríntios 1:24,30; Romanos 1:4,16; Jeremias 2:7; Êxodo 3:8; Hebreus 1:2,10; 3:1-6; Números 12:5-8; Hebreus 2:11; Mateus 19:16-30; Marcos 10:17-31; Lucas 18:18-30; Salmo 119:73,77; 27:1-3; Hebreus 9:15; 11:16; 12:25; Salmo 3:8; 68:19,20; Efésios 2:8,9
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 804, 1466
STIBBS, A. M. A Epístola aos Hebreus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1353, 1354. Reimpressão
SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1009, 1010. Reimpressão