quarta-feira, 31 de março de 2010

O QUE É A IGREJA?

“Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica” – Credo Niceno-Constantinopolitano (Concílio de Nicéia, 325 d.C., revisado no Concílio de Constantinopla, 381 d.C.)

ATÉ HOJE, e até mesmo aos olhos das criaturas mais reles e indoutas, ainda experimentamos ou sofremos em nossa própria pele situações vexatórias, desconfortáveis e constrangedoras por conta de quem que, se utilizando dos seus postos dentro da Igreja, comete absurdos e escândalos, não só naquilo que diz respeito à transgressão da Palavra propriamente dita, como também na sua conduta pessoal, infiltrando-se na multidão daqueles que se postam como crentes ou líderes diante da sua comunidade, ou mesmo na sua maneira esdrúxula de gerir as coisas do Reino, posto que, na verdade, estas coisas não vão além dos próprios interesses do SENHOR nosso Deus que lhes outorgou tal administração, assim como nos concede a cada um de nós este ofício no âmbito da medida dos nossos melhores dons, na certeza de que prestaremos conta quando bem Lhe aprouver. E tudo isso sem nos esquecermos da tão acirrada perseguição dos ímpios e de outras tantas heresias apregoadas por este mundo afora, além dos danos, muitas vezes irreparáveis, que possam causar ao rebanho.

Se, como instituição e igualmente como corpo visível com suas atuações no tempo dos homens e, portanto, constituída por estes mesmos homens, a Igreja nunca foi um modelo de perfeição exatamente por causa de nossas arrogâncias e ambições, e de todas as nossas deficiências herdadas de nossos próprios pecados, como corpo invisível, no entanto, a Igreja sempre existiu desde os mais remotos tempos, e, como organismo vivo, ela só ainda sobrevive vitoriosamente porque é conduzida pelo poder de Deus. Assim, não podemos estar receosos pelo futuro da Igreja, mesmo nas ocasiões em que ela ainda é perseguida, porém, esperançosos, à medida que percebemos a sua indestrutibilidade desde os tempos passados, já que quanto mais perseguida, aí é que ela mais cresce, mesmo nos dias de hoje, qual o ensino da parábola do grão de mostarda proposto pelo Senhor Jesus cuja semente é a menor de todas, mas que, ao ser semeada, torna-se uma das maiores plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos.

Apesar dos pesares, e das nossas lamentáveis atitudes e ingratidões, assim como de muitos falsos crentes que se dizem cristãos tentarem desdizer os planos de Deus com relação a Seus eleitos, ou seja, a verdadeira Igreja de Cristo, confundindo as pessoas com suas falsas doutrinas e pregações egocêntricas, desde os tempos do ministério terrestre do Senhor Jesus, Ele já antecipava o desenvolvimento da Sua Igreja como poder universal - o que se cumpriu em plena Idade Média -, e ainda alertava sobre a figura do maligno no quadro da Igreja visível em sua apostasia, mas que, por fim, exalavam otimismo e confiança no triunfo da Palavra de Deus. Se as parábolas do grão de mostarda e do fermento são relacionadas com a presente manifestação do Reino de Deus no mundo na pessoa do Senhor Jesus, a Igreja representa o novo Israel hoje. Os especialistas assinalam que assim como a semente pequenina da mostarda, depois de semeada, transforma-se numa das maiores plantas, assim também as coisas de Deus podem parecer pequeninas aos nossos olhos e ao mundo, no entanto, produzem grandes resultados, posto que Deus revela a grandeza de Seu poder ao demonstrar que as coisas consideradas insignificantes para o mundo podem ser Seus recursos mais poderosos e preciosos numa clara demonstração de que não valemos nada diante de Sua divina magnificência. Porém, antes de qualquer coisa, Deus tem misericórdia de todos os que arrependidamente admitem a sua pecaminosidade.

É na Igreja que os cristãos podem enriquecer-se espiritualmente. Consequentemente, devem unir-se com os outros crentes para poderem participar da vida de uma congregação local, prestando culto a Deus em espírito e em verdade, aceitando um alimento espiritual que lhes seja saudável até para sua vida natural, assim como a disciplina e, igualmente, participando do seu ministério e testemunho, posto que a Igreja é a única comunidade que presta culto a Deus, permanentemente reunida no verdadeiro santuário - a Jerusalém celestial e o lugar da presença de Deus -, conforme acentuam os especialistas, lembrando ainda que, embora a Igreja seja uma só, ela é constituída de pessoas que ainda estão na terra, que formam a Igreja militante, e daquelas que já morreram e estão na glória. Estas últimas formam a Igreja triunfante. À parte os trocadilhos de mau gosto, e quaisquer outras usurpações, a Igreja é a comunhão dos santos em todo tempo e lugar, agora e sempre. Não é à toa que o apóstolo Paulo lembra que a única Igreja universal é o Corpo de Cristo de quem somos seus membros em particular, mas que também, e por isso mesmo, o é cada congregação local. E como ensina o Novo Testamento, a Igreja é o cumprimento das esperanças e disposições do Antigo Testamento realizado pelo Senhor Jesus. É a família e o rebanho de Deus; o Seu Israel; o corpo e a noiva de Cristo; o santuário do Espírito Santo.

Os estudiosos também afirmam que, como uma realidade distintiva do Novo Testamento, a Igreja existe em Cristo e através de Cristo, ao mesmo tempo em que ela é uma continuidade de Israel, a semente de Abraão e o povo da aliança de Deus. Assim, a nova aliança sob a qual a Igreja vive é uma nova forma do relacionamento em que Deus diz à Sua comunidade escolhida: “Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo”.

Refletir sobre a Igreja e sua história é meditar sobre a trajetória do povo de Deus em todos os tempos e lugares, de um povo privilegiado, escolhido e separado para adorá-Lo em espírito e em verdade; de uma história apoteótica, vitoriosa e edificante; e de um Deus que não divide a Sua glória com ninguém, posto que somente Ele é digno de toda honra e toda glória para todo o sempre. E este povo é a Igreja de Cristo a qual é o Seu corpo, a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos, posto que este mesmo Senhor Jesus Cristo é a cabeça deste corpo, ou seja, da Igreja, que foi comprada por Seu próprio sangue para que não nos tornássemos escravos de homens, mas filhos de Deus pelos méritos deste mesmo Senhor Jesus Cristo que é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.

Corpo de Cristo, casa de Deus, comunhão dos santos, assembléia pública, assembléia do povo de Deus são alguns termos que se incluem à palavra “Igreja”, envolvendo até mesmo um grupo de pessoas que se reúnem em nome de Cristo. Mas nunca um grupo qualquer, um corpo qualquer, porém, uma definição que designa e tem como expressão a Igreja Cristã, tanto local quanto universal. Ou seja, o termo engloba aqueles que são verdadeiros crentes em Cristo, ou ainda um grupo particular de crentes que se reúnem em um lugar. Em português, o vocábulo “Igreja” deriva-se do latim ecclesia, que, por sua vez, no Novo Testamento, traduz a palavra grega ekklesia. No grego secular, ekklesia designava uma assembléia pública, e este significado ainda foi mantido no Novo Testamento. Já, no Antigo Testamento hebraico, a palavra qãhãl designa a assembléia do povo de Deus, e a Septuaginta, na tradução grega do Antigo Testamento, traduziu esta palavra por ekklesia e synagoge, igualmente. Até mesmo no Novo Testamento ekklesia pode significar a assembléia dos israelitas, mas, à parte destas exceções, a palavra ekklesia, no Novo Testamento, designa a Igreja Cristã, local e universalmente falando, jamais um edifício, e, sim, um corpo vivo do qual Cristo é a cabeça e todos os batizados são seus membros.

Desde o Concílio de Constantinopla, em 381, com reafirmações em Éfeso, em 431, e Calcedônia, em 451, a Igreja tem afirmado ser “una, santa, católica e apostólica”. A Igreja é “una” porque é um corpo sob uma Cabeça, ou seja, Cristo, apesar do grande número de denominações e congregações locais. Ainda que muitas Igrejas estejam divididas, mesmo assim, elas reconhecem Jesus Cristo como Senhor e Salvador; e creem que podem ser uma só. Apesar das divergências, somos uma família. Paulo declara que, em Cristo, todos somos um, sem distinção de raça, condição social ou sexo. A Igreja é “santa”, não porque sejam perfeitos os seus membros, mas porque o Espírito Santo nela opera. Ou seja, a Igreja é separada daquilo que é profano. Assim como a Igreja é consagrada a Deus comunitariamente, assim também o é cada cristão individualmente. Os cristãos são santos no sentido de terem sido separados para se dedicarem ao serviço de Deus e consagrados por Ele, o que não significa que estejam livres do pecado. A Igreja é “católica” porque é universal, ou seja, existe no mundo inteiro, guardando sempre a fé para todas as épocas e todos os povos, incluindo crentes de gerações passadas e crentes de todas as culturas e sociedades. Originada do grego, katholikos, e do latim, catholicus, a palavra “católico” significa “geral”, “por tudo”, “universal”, ortodoxo”, embora grupos de cristãos tenham dado-lhe diferentes significados. E, por fim, a Igreja ainda é “apostólica” porque está fundada no ensino apostólico, e comissionada a ir pelo mundo guardando o ensino e a irmandade dos apóstolos. Ou seja, a Igreja é enviada a pregar o Evangelho, reconhecendo esta mensagem e missão dos apóstolos, e, conforme são mediadas através das Sagradas Escrituras, devem ser as de toda a Igreja.Os eruditos destacam que a Igreja só pode ser “una”, “santa” e “católica” se for uma Igreja “apostólica”.

É nesta Igreja que seus membros atuam com sua diversidade de dons, de ministérios e de operações, assistidos pelo mesmo Espírito, pelo mesmo Senhor e pelo mesmo Deus que opera tudo em todos, cuja manifestação deste mesmo Espírito é dada a cada um para o que for útil. Ou seja, para ser um instrumento usado por Deus para dar progresso espiritual ao Seu povo, nos dizeres de John MacArthur, Jr., que também revela sua gratidão a Deus por isso, além de considerar-se honrado por ser um canal pelo qual a graça de Deus, o amor do Senhor Jesus Cristo e a consolação do Espírito Santo possam tornar-se mais reais às pessoas. Porém, MacArthur destaca que esse privilégio também traz a responsabilidade mais pesada que alguém pode assumir, já que o cumprimento desse privilégio e o desencargo dessa responsabilidade exigem que a compreensão da Igreja e de seus ministérios seja correta e de acordo com a Palavra de Deus.

Assim, alista 10 pontos definidos por ele como algumas verdades básicas para melhor entendermos as questões ligadas à igreja e estabelecer tal compreensão como um fundamento para o ministério: A Igreja é a única instituição que nosso Senhor prometeu edificar e abençoar - Mateus 16:18. A Igreja é o lugar de reunião dos verdadeiros adoradores - Filipenses 3:3. A Igreja é a assembléia mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com Seu próprio sangue - Atos 20:28; 1Coríntios 6:19; Efésios 5:25; Colossenses 1:20; 1Pedro 1:18; Apocalipse 1:5. A Igreja é a expressão terrena da realidade celestial - Mateus 6:10; 18:18. A Igreja, por fim, triunfará, tanto no âmbito universal como no local - Mateus 16:18; Filipenses 1:6. A Igreja é a esfera de comunhão espiritual - Hebreus 10:22-25; 1joão 1:3,6,7. A Igreja é quem proclama e protege a Verdade divina - 1Timóteo 3:15; Tito 2:1,15. A Igreja é o lugar principal de edificação e crescimento espiritual - Atos 20:32; Efésios 4:11-16; 2Timóteo 3:16,17; 1Pedro 2:1,2; 2Pedro 3:18. A Igreja é a plataforma de lançamento para a evangelização do mundo - Marcos 16:15; Tito 2:11. A Igreja é o ambiente em que se desenvolve e amadurece uma liderança espiritual forte -2Timóteo 2:2.

É esta Igreja o reflexo de todos os cristãos, a continuidade entre o Israel do Antigo Testamento e a Igreja do Novo Testamento, posto que Israel e a Igreja são representados como o único povo de Deus. E estes mesmos cristãos são a casa espiritual edificada em Cristo, contrastando nitidamente o destino dos incrédulos e a posição dos eleitos que são chamados para anunciar as virtudes dAquele que os resgatou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Antes, nós também não éramos povo, e não tínhamos alcançado misericórdia, mas agora somos povo de Deus que alcançamos misericórdia por uma escolha soberana deste mesmo nosso Deus. Não por nenhum mérito nosso. Assim, do mesmo modo os especialistas concordam que somos eleitos e chamados não somente para a salvação, mas também para o serviço, posto que todos nós como crentes em Cristo somos chamados a dar testemunho dos atos salvíficos de Deus, principalmente diante de uma sociedade tão degenerada em que vivemos.

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[1] LIMA, ROGÉRIO. História da Igreja 1. Apostila do curso de bacharel em teologia. Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil - SPFB, Limeira, SP: 2010p.4; Mateus 13:31,32
[2] Mateus 13:19; Ezequiel 17:23; 31:5,6; Salmo 104:12; Daniel 4:12,21; Marcos 4:30,32; Lucas 13:18,19; SWIFT GRAHAM, C. E. O Evangelho Segundo São Marcos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 996, 997. Reimpressão; ATIKINSON BASIL F. C. O Evangelho Segundo São Mateus: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 966. Reimpressão; Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1120,1153,1347;1Coríntios 1:26; Marcos 2:17;João 9:39-41
[3] Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1403; Hebreus 10:25; Mateus 18:15-20; Gálatas 6:1; 4:26; Hebreus 12:22-24; 1Coríntios 12:12-27; Efésios 1:22,23; 3:6; 4:4; João 10:16; Efésios 2:18; 3:15; 4:6; 1Pedro 5:2-4; Gálatas 6:16; Efésios 5:23-32; Apocalipse 19:7; 21:2,9-27; 1Coríntios 3:16; Efésios 2:19-22
[4] 1Coríntios 11:25; Hebreus 8:7-13; Jeremias 7:23; 31:33; Ex 6:7; Isaías 43:1; 45:3
[5] João 4:24; Isaías 42:8; Efésios 1:23; Colossenses 1:18; Atos 20:28; 1Coríntios 6:20; 7:23
[6] Efésios 1:23; 4:15,16; 5:30; Colossenses 1:18; 1Coríntios 12:27; 2Samuel 7:5; Salmo 65:4; 84:4; 118:26; Malaquias 3:10; Mateus 18:17,20; Atos 15:41;Romanos 16:16; 1Coríntios 4:17;7:17; 14:33; Colossenses 4:15; Mateus 16:15-19; Atos 20:2;1Coríntios 12:28; 15:9; Efésios 1:22; Atos 19:32,39,41; Deuteronômio 10:4; 23:2,3; 32:30; Salmo 22:23; Atos 7:38; Hebreus 2:12
[7] Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell (editor).Trad. por Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1990. vol. 2. p.286-290; Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri:Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.notas.p.1403;1Coríntios 1:10-30; Romanos 12:3-8; João 17:20-26; Atos 2:42; 4:32; Efésios 4:1-6; Gálatas 3:27,28; Filipenses 3:12a; 2Tessalonicenses 2:13; Colossenses 3:12ss; Efésios 2:19-22
[8] 1Coríntios 12:4-7
[9] Adaptado de John MacArthur, Jr., “Wanted: A Few Good Shepherds”, Masterpiece (novembro-dezembro, 1989), 2-3, e MarcArthur, Then Reasons ! Am a Pastor”, Masterpiece (novembro-dezembro, 1990), 2-3.
[10] 1Pedro 2:8-10; Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1497; PINK, A. W. Deus é Soberano. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1997, 2002, 2008. p. 6. 2ª ed. Reimpressão