terça-feira, 1 de dezembro de 2009

QUE NÃO NOS ENCONTREMOS DESPREVENIDOS

“Naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra” – Jeremias 33:15

QUEM É QUE esteja passando por sérias e marcantes dificuldades, derrotas, ou calamidades em sua vida não se sinta desanimado, sem perspectivas, desamparado, sem alternativas, frustrado ou mesmo desesperado? Quem é que esteja ou mesmo ainda depois de ter passado por tais experiências não permaneça vulnerável em todos os sentidos, com os nervos à flor da pele, e com aquela sensação de que tudo e todos estejam jogando contra, do outro lado, e não se posiciona com desconfiança e preventivamente como quem tenta se desviar de corpos estranhos procedentes do espaço sideral que supostamente se arremessam em sua direção e que possam esmagar-lhe justamente a própria cabeça? Mesmo achando que é preciso ir à luta, dispondo de todas as suas garras, quem é que esteja passando por estas provações na sua própria pele não se coloca com aquela postura de gato escaldado que tem medo até de água fria? Quem é que por algum momento na vida, e por uma razão qualquer, já não passou por alguma situação de ser escaldado ou mesmo já não foi até fritado por adversários ou inimigos ou mesmo por aqueles que descaradamente se dizem seus amigos? Em toda a nossa vida somos corriqueiramente provados para sermos um dia aprovados. Mas que estas provas venham da parte de Quem tem autoridade para tal, para o nosso crescimento, seja natural ou espiritual – já que estas provações só nos fortalecem para lutarmos até o dia da vitória final –, não da parte de quem faz isso apenas por pura maldade ou vingança pessoal qual num filme de terror onde naquela cena o vilão investido de todo o seu lado mal maquiavelicamente faz os outros sofrerem horrores a seu bel-prazer apenas e tão somente para satisfazer a seu impulso propenso a malícias. Isso já é tentação; coisas do maligno. Até que ponto resistiremos a tais provações? Até que ponto estaremos expostos às mazelas de tanta astúcia como joguetes nas mãos de espertos? Até quando estaremos cegos diante de tanta opressão e outros tipos de escravidão desta geração? Provas e provações, tentativas e tentações, ou mesmo opressões, à parte, o próprio Senhor Jesus sofreu, foi tentado, Ele que é o Filho de Deus, o Cordeiro que foi imolado a nosso favor, para que pudéssemos mirar nEle e seguirmos em frente na certeza de que neste mundo todos temos aflições, só que estas não duram para sempre. Daí, ser o Senhor Jesus o nosso alvo, e somente em Cristo é que está a nossa salvação. Ele é o nosso leme, o nosso lume nestes nossos dias de escuridão. Ele é o nosso caminho, a verdade que nos liberta da escravidão deste mundo tão alienado. Se crermos em Cristo, temos vida, a vida eterna, e em abundância; não a morte eterna. Não há nada neste mundo que dure para sempre. Isto é certo. É o próprio Senhor Jesus que nos adverte: “Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o Mundo”. É o próprio Senhor Jesus que diz isso. Precisamos mais de outras garantias? A nossa paz está em Cristo, não nas coisas efêmeras deste mundo que logo se apodrecem – e nem deixam rastros –, se nós não nos alicerçarmos em solo firme e fértil, se não plantarmos uma boa semente que dê bons frutos, posto que “cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto”.

Embora nada aconteça sem a devida e soberana permissão divina, todos estamos sujeitos a sermos provados ou mesmo tentados, e as nossas provações têm lá os seus benefícios. Não que Deus tente alguém, muito menos pode ser tentado pelo mal; nós é que, devido às nossas fraquezas e enlevados por nossas cobiças, caímos nas lábias do maligno, e, mergulhando num beco sem saída, cavamos a nossa própria cova, se não formos alcançados pelo amor e a justiça deste Deus que é tardio em irar-Se, mas que está sempre pronto para nos perdoar, sem guardar nenhum rancor, já que Ele não tem nenhum prazer em ver ninguém sofrendo, muito menos em nos ver pecando e, consequentemente, não faz ninguém sofrer. Longe de ser Deus a origem das tentações, Ele é o autor e doador de todos os bens, confirmam os especialistas, destacando que, entre os conceitos de ser provado e ser tentado, há grandes diferenças. Deus prova o Seu povo, como um pai a seus filhos, e até com admoestações os corrige, mas nunca os tenta no sentido de estimular neles o pecado. As provações para a nossa fé podem dar ocasião para virem as tentações, contudo, as tentações não têm Deus como o seu autor. Ao destacar a importância de lidarmos com as nossas aflições do ponto de vista da nossa fé, Tiago, apóstolo e irmão do Senhor, em sua epístola, assinala as bem-aventuranças reservadas àquele que suporta a tentação, pois, quando for aprovado, receberá a coroa da vida, ou seja, a recompensa. Segundo os especialistas, passada a tentação, se o crente suportou a prova e ficou firme até o fim, recebe a coroa de vencedor, a coroa da vida – um prêmio especial oferecido aos que perseveraram na fidelidade, que não deve ser confundido com a vida eterna, que é dom gratuito de Deus àqueles que creem no Senhor Jesus Cristo na qualidade de Messias, como o seu único intercessor, e, portanto, seu único Salvador. Líder na Igreja de Jerusalém, e que também presidiu o Concílio de Jerusalém, Tiago assumiu uma posição de autoridade na Igreja; juntamente com Pedro e João, era um dos seus pilares, convertido quando se tornou uma testemunha ocular da ressurreição do Senhor Jesus, mas que foi barbaramente martirizado em razão da sua fé. Eusébio afirma que bateram nele com uma clava até a morte depois de ter sido atirado do parapeito do templo. Personalidade notável na historiografia do povo cristão, “o irmão do Senhor” escreveu sua carta entre o começo da perseguição que se difundiu na Diáspora e o ano de sua morte, tempo em que os crentes cristãos sofriam castigos e eram vítimas de opressão; estavam sendo provados – passavam por testes e sofrimentos por causa da fé. Escrita para encorajar e consolar estes crentes, o autor exorta-os mansamente e reconhece-lhes os sofrimentos morais por que passavam. Tiago começa assim a sua epístola: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações” – uma exortação para apreciar o sofrimento da perspectiva de confiança na soberania de Deus, como prova de filhos, e de ser a fé uma realidade. E termina assim: “Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima” – numa clara dedução de que os santos precisam de paciência enquanto aguardam a prometida vindicação que Deus tem para o Seu povo. Dizem os estudiosos que Deus promete justiça para corrigir as formas prevalecentes da injustiça neste mundo, e que as provações podem ser recebidas como uma alegria singular quando existe o conhecimento de que elas são permitidas por Deus para um determinado propósito. “São provações na fé, dadas para que a perseverança seja desenvolvida. E, por recompensa, a perseverança produz maturidade no caráter cristão”, afirmam.

Dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor. Ou será que não é mesmo o próprio Deus o nosso exclusivo cobertor quando nos sentimos desamparados, relegados ao relento em meio a uma flagrante apostasia no decorrer dos tempos? De implacável perseguidor de cristãos – e miraculosamente convertido – a exímio plantador de Igrejas, o apóstolo Paulo também foi martirizado por conta do seu importante e indiscutível trabalho missionário na promoção do Evangelho de Cristo. Assim como tantos outros, também resistiu às tentações, provou sua fé, e perseverou até o fim. Não foi à toa que sofreu perseguições e, depois de sua segunda prisão em Roma, foi decapitado. Com toda a sua experiência de quem combateu o bom combate, e guardou a fé, Paulo igualmente revestiu-se de toda a autoridade para advertir quem pensa estar em pé e que não se cuida para não cair, já que as tentações sempre querem nos forçar para que possamos nos afastar do modo correto de vida, acovardando-nos. Porém, Deus sempre guarda os Seus escolhidos neste particular, e se eles se apoiarem em Deus, encontrarão um meio para poder escapar, meio este que é mostrado pelo próprio Deus. “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” Se a história do povo cristão retrata a mesma história de homens destemidos que vão à luta em defesa daquilo que creem, destemidamente e até o fim, também ratifica a trajetória da Igreja de Cristo – uma Igreja militante, mas gloriosa; composta por homens e mulheres, mas sem mácula nem rugas; santa e irrepreensível. Uma Igreja feita por homens e mulheres, sim, mas que foram chamados por Deus para comporem o corpo de Cristo, desde os tempos bíblicos até os dias de hoje; um povo escolhido que, por mais sofredor que seja, e em qualquer lugar que esteja, lá também está o seu Redentor, a seu lado, como uma nuvem que o acompanha; como um farol que ilumina em todos os seus caminhos, mesmo que se for preciso passar por corretivos, mas lá está o seu Senhor que um dia o livrará. A esperança dos cristãos jamais será em vão. O Senhor jamais os trairá; jamais os confundirá. As Suas misericórdias e as Suas benignidades, que são desde a eternidade, serão sempre lembradas e postas em prática; nunca engavetadas. “Na verdade, não serão confundidos os que esperam em Ti; confundidos serão os que transgridem sem causa.” Diz o salmista, plenamente confiante na sua oração. Ainda hoje devemos seguir os passos dos líderes e mártires, os passos daqueles que não se amofinaram, mas perseveraram até o fim em nome de uma fé que remove montanhas, mesmo sob os mais diversos infortúnios, sofrimentos, provações ou privações, e até mesmo tentações, posto que nada por que passamos é por mera casualidade. O profeta Jeremias, considerado como o profeta dos infortúnios, e das ameaças, foi chamado para anunciar o julgamento de um povo idólatra que insistentemente era exortado a arrepender-se para evitar o castigo de Deus. Assim, é anunciado que o tempo de arrependimento havia cessado, já que o julgamento contra os israelitas estava decidido e é compreendido como a invocação da maldição final da aliança, e que o povo escolhido seria exilado para a Babilônia por não ter obedecido a seu Deus. De volta do exílio, este povo de Deus encontra-se em situação periclitante, desanimado, e até desesperado por ter perdido tudo e precisava reconstruir uma nova vida. Reconstruir a própria nação. Exigia-se vencer todas as dificuldades e mandar toda esta tristeza e desânimo para bem longe depois de serem golpeados por calamidades tão marcantes. É quando Deus aparece mais uma vez com Sua maravilhosa intervenção. Surpreendentemente, o profeta Jeremias traz boas notícias com previsões alegres: “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa Palavra que falei à casa de Israel e à casa de Judá; naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” São promessas de paz e prosperidade; a repetição da restauração e futura felicidade de um povo que, até então, tudo havia perdido por conta da sua arrogância, teimosia e desobediência. Mas a compaixão de Iavé pelo Seu povo castigado e aflito apagará a mancha da rejeição lançada pelos que o observavam e pelo seu inimigo. A linhagem davídica será restaurada, e o Filho de Davi dominará com justiça, tal como outrora, a ponto de Jerusalém passar a ser chamada “O SENHOR é a nossa justiça”. E esta promessa foi cumprida num sentido espiritual, e muito mais amplo, não num sentido nacionalista estrito. E quem é esta raiz e esta geração de Davi? Os especialistas não têm dúvida: é o Senhor Jesus Cristo, posto que somente a Jesus Cristo é que se pode aplicar este título: “O Senhor justiça nossa”. Somente o Senhor Jesus pode estabelecer a paz e a justiça na terra, e estão chegando os dias nos quais Deus cumprirá todas as Suas promessas para o bem do Seu povo. Ainda hoje também passamos por situações semelhantes às que passaram os israelitas que voltaram recentemente da Babilônia. Ainda hoje deparamo-nos com injustiças, intolerâncias, escravidões das mais diversas modalidades, vícios, opressões, desencantos, fraquezas, desilusões, opressões, destruições, guerras, até mesmo dentro da nossa própria família, enfim, o maligno está deitando e rolando em nossa frente, e nós não fazemos nada, estamos desprevenidos, porque não acreditamos mais em nada; perdemos a nossa fé. E o que faremos diante de tudo isso? Onde está a nossa força, a nossa fé, a nossa coragem de irmos em frente e derrotar o inimigo? O nosso Deus é maior que tudo isso, basta crermos e fazermos a nossa parte que o Senhor Jesus virá em nosso socorro. Devemos praticar a nossa fé, e ter uma experiência com Deus, só assim tudo poderá mudar em nossa vida, posto que foi com Jesus de Nazaré, que resplandeceu a nossa estrela nas manhãs de nossa vida ou as nossas manhãs se resplandeceram com a luz de um novo dia; de um novo mundo dentro de nós. Ou seja, o Reino da Paz, o Reino de Deus, devolvendo-nos toda a nossa esperança numa mensagem de alegria diante de um mundo tão desesperançado, diante das forças do mal; daqueles que nos querem ver derrotados. A Igreja hoje, ao se alegrar com a primeira vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, antecipa, com esperança, festejando a Sua segunda vinda em poder e glória, pondo por terra todos os sistemas nacionais e grandes impérios, assim como o império do mal, estabelecendo a ordem das coisas neste universo caótico. Será o surgimento de um mundo novo, que já teve início com Jesus de Nazaré, o Renovo que vem brotando dia após dia em nossos corações. Que o Espírito de Deus faça brotar em cada um de nós este Renovo, despertando a nossa vigilância com o poder da oração, assim como os nossos sentimentos de amor para com o nosso próximo sem qualquer distinção. Que não nos encontremos desprevenidos, então. Guia-nos na Tua Verdade, e ensina-nos, pois Tu és o Deus da nossa salvação; por Ti estamos esperando todo dia. Amém.

REFLEXÃO DE HOJE
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa Palavra que falei à casa de Israel e à casa de Judá; naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e Ele fará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” – Jeremias 33:14-16

LEITURAS DE HOJE
Salmo 25; Jeremias 33:14-16
1Tessalonicenses 3:9-13; Lucas 21:25-36

NOTAS
[1] Gênesis 22:1-19; Hebreus 11:17,36;Tiago 1:2-4,12; Salmo 11:5-7; Apocalipse 2:10; Lucas 4:1-13; João 1:29,36; 1Coríntios 5:7; Apocalipse 5:6,12; 7:10; João 14:1,6; 16:33; Lucas 6:43-45
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p.1357, 1485, 1486, 1491
[2] Tiago 1:12-15; Gálatas 1:19; 1Coríntios 15:7; Atos 15; 12; Tiago 1:2; 5:8; Hebreus 12:5-8; Salmo 94:12; Romanos 5:3-6
MCNAB, ANDREW. A Epístola Geral de Tiago: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p.1388-1390. Reimpressão
[3] Atos 21:23ss; 1Coríntios 16:3ss; 2Coríntios 9; Romanos 15:25ss; 2Timóteo 4:7ss; 1Coríntios 10:12,13; Romanos 11:20; 1Coríntios 1:9; Salmo 125:3; 25:3,6; Jeremias 7:1-15; 19:10,11; Levítico 26:31-33;Deuteronômio 28:49-68; 24:4-7;Jeremias 33:14-16; Apocalipse 22:16; Isaías 13:10; Ezequiel 32:7; Salmo 25:5
PROCTOR, W. C. G. As Epístolas aos Coríntios – 1Coríntios.: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1206. Reimpressão
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano C. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 14-21
CAWLEY, F. Jeremias: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 766. Reimpressão
KEVAN, E. F. O Evangelho Segundo São Lucas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo:Vida Nova, 1963, 1990. p. 1053. Reimpressão