sábado, 30 de janeiro de 2010

ATÉ O FUNDO

“Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente” – 1Coríntios 12:27,31

SE QUISERMOS empreender alguma tarefa que se destina a uma ampla e fidedigna exposição de acordo com os eventos acontecidos, e que sejam igualmente postos ao domínio público por tempo indeterminado, temos que ir até o fundo nas indagações, nas fontes, até as raízes dos fatos, às suas origens, falando com as pessoas ou manuseando os documentos diretamente envolvidos, e até mesmo considerar as testemunhas oculares, para, depois de acurada investigação, estarmos prontos para finalizarmos e divulgarmos o tão planejado empreendimento. Ou seja, temos que ser ousados, além de estarmos munidos de todos os dados e, diretamente da fonte, discorrermos com plena autoridade e persuasão. Todos temos as nossas responsabilidades por tudo aquilo que nos dispomos a empreender. Ninguém vive neste mundo isoladamente, apenas e tão somente por viver, como se as repercussões de nossos atos, quaisquer que sejam, não respingassem em quem está a nosso lado, não importam as distâncias; como se caíssemos de paraquedas, e estivéssemos perdidos em algum lugar deste planeta, falando coisas sem sentido, inventando histórias, e, gananciosamnete, enganando os outros por causa de dinheiro ou outros fins estranhos, fantásticos ou mirabolantes. Em qualquer segmento da nossa sociedade, político, religioso ou não, dentre outros, sempre existem aqueles que se julgam espertos, e acham que devem levar vantagem em tudo, e em cima de todos, com suas teorias esdrúxulas ou até mesmo tacanhas, levianas e inconsistentes, sem ética e sem nenhum fundamento que se preze. Agem sem nenhum zelo por aquilo que se lhe incumbiu desempenhar. O importante é que ainda restam algumas pessoas que não caem em conversa fiada, que não pactuam com estelionatários, e que não são tão simplórias assim, para se deixarem ser enganadas, e levarem gato por lebre. Temos que estar atentos, e inquirirmos, indo até a fonte para não sermos ludibriados, inclusive quando se trata dos ensinos cristãos, do ouvir e da ministração da Palavra de Deus, posto que muitos dedicaram totalmente a sua própria vida por esta Verdade para que ela seja fielmente anunciada conforme aquilo que eles viram e ouviram.E o que eles viram e ouviram - e até sofreram na própria pele as consequências desta opção de fé - não foram vãs filosofias, sonhos, revelações misteriosas, nenhuma história banal, falaciosa, sem sentido, como as que se ouvem nos botequins por aí, aos pés do balcão desta vida - e, muitas vezes, nos púlpitos e palanques públicos -, mas fatos que ainda se cumprem, a realidade de uma genuína Mensagem que nos faz nascer de novo para uma vida inteiramente transformada, voltada para o bem, sem transgressões. Ou seja, todo um gozo que nos satisfaz por meio de um irreversível sabor operado por uma ação das boas-novas da salvação, já que a Palavra de Deus é a espada do Espírito, o capacete da salvação, o escudo da fé capaz de livrar-nos de todas as setas do Maligno. Ou seja, a armadura espiritual do cristão. “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Como crentes cristãos, mesmo reconhecendo que dentro da nossa própria comunidade possa haver um perverso coração de incredulidade, de insensatez ou de imperícia, devemos guardar, não apenas a nossa própria perseverança nesta nossa opção de fé, mas igualmente devemos encorajar uns aos outros para que sigamos em frente sem nenhum desvio de conduta, posto que Cristo pode salvar totalmente os que por Ele se cheguem a Deus. “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos para que o vosso gozo se cumpra.”

Diferentemente de Lucas que, dentre os evangelistas, é o único que afirma expressamente que não pertence ao rol daqueles que conheceram pessoalmente a nosso Senhor Jesus, mas que se informou de tudo desde o princípio para que possamos conhecer a certeza das coisas do Seu ministério, o apóstolo João é uma das testemunhas escolhidas que viram, ouviram e tocaram nAquele que existe desde o princípio - o Filho de Deus, cuja eterna comunhão com o Pai agora é estendida a outros por meio da proclamação apostólica, contra quaisquer outras especulações ou tergiversações. Duas práticas, dois testemunhos que miram num mesmo alvo que se estende até nós e nos possibilita o livre acesso à Palavra com vistas a dar-nos bases sólidas à nossa fé, já que esta não se baseia em nenhum compêndio técnico de provas irrefutáveis que demonstram que Jesus é o Senhor nem pode ser trocada por crendices, fanatismos e outros shows mirabolantes ou similares, como numa banca de negócios, tampouco poderá ser uma simples opção assumida por indoutos que não têm nenhum zelo pelas coisas do alto e que agem bem longe dos reais motivos que fundamentam a sua adesão a Cristo sem antes terem-se envolvidos de uma maneira toda especial por uma confiança e aceitação completa da Pessoa e obra de Cristo como base de um relacionamento íntimo com Deus numa eficaz operação do Santo Espírito. São dois perfis de um trabalho divinamente inspirado e dois belos exemplares de como a revelação da Palavra pode alcançar-nos, pelo menos àqueles que creem, posto que a fé, que deve vir pelo ouvir perseverantemente esta Palavra revelada, também implica em considerarmos a devida paciência para podermos mergulhar atentamente nas promessas que Deus tem para cada um de nós, porém, ainda não concedidas, já que, para o presente, somente a fé pode enxergar o futuro, na medida em que ela se alimenta destas promessas de Deus. Se no testemunho do profeta Habacuque o justo viverá por sua fé, esta não pode separar-se da paciência mais do que poderia separar-se de si mesma, nos dizeres de Calvino, que, segundo ele, a paciência sempre está relacionada com a fé, e, literalmente, diz que jamais alcançaremos a meta da salvação, a menos que nos munamos de paciência, posto que a fé nos conduz para as coisas distantes que ainda não alcançamos. Daí, completa, faz-se necessário que a fé inclua a paciência. Portanto, devemos planejar os nossos objetivos, preparar-nos para alcançá-los, e, ao mesmo tempo em que o que se espera não se vê, a fé não deixa de ser a substância, o arrimo ou o fundamento sobre o qual firmamos nossos pés, ainda segundo Calvino, que nos ensina igualmente que não devemos exercer fé em Deus com base nas coisas presentes, mas, sim, com base na expectativa de coisas ainda vindouras. Falando sobre provas e tentações, Tiago também ressalta que a prova da nossa fé é a paciência que, por sua vez, na opinião do apóstolo Paulo, produz a experiência e, esta, a esperança que não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado; e que nos gloriemos na esperança da glória de Deus porque em esperança fomos salvos. “Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” E os especialistas ainda complementam este pensamento do apóstolo, e afirmam que esta esperança é a certeza de que receberemos algo que ainda não está sendo plenamente experimentado, o que é diferente da incerteza, assim como também esta esperança não será frustrada; ela é garantida aqui e gora pelo amor de Deus que o Santo Espírito derrama em nossos corações, se é que cremos nisso. Igualmente, esta experiência confirma a nossa confiança de que a glória pela qual esperamos nos pertencerá algum dia.

Assim como os discípulos de Jesus não deixavam de falar daquilo que tinham visto e ouvido - eles não transgrediam sua fé nem sob quaisquer ameaças que em geral não paravam apenas nas ameaças, mas na perda da própria vida -, ainda hoje todos nós que também nos identificamos como crentes em Cristo igualmente deveríamos mirar-nos nestes mesmos exemplos de fé e não agirmos muitas vezes como incrédulos, debandando-nos por qualquer coisa ou recaída, lamentando por aí, sem o devido temor a Deus quando as coisas desta vida não acontecem do jeito que a gente quer ou por não entendermos qualquer outra derrocada que possa incidir sobre nossas cabeças, esquecendo-nos de que o comando de tudo está nas mãos dEle que é o Soberano Senhor absoluto sobre tudo o que existe acima e abaixo de nossos pés; nos céus e na terra, encima e embaixo deles. A Palavra de Deus diz que o temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e que somente os loucos é que desprezam esta sabedoria e o ensino, assim como bom entendimento têm os que cumprem os Seus mandamentos, já que o Seu louvor permanece para sempre. Os estudiosos nos lembram que a falta de temor a Deus é a raiz de todos os males, como identifica o próprio salmista, e que este temor de Deus, que se origina na fé, é uma resposta especial às revelações divinas, o respeito reverente que reconhece total dependência dEle. Ainda comentam que, na ausência desta reverência, surge um tipo diferente de temor do SENHOR, que é o pavor. O salmista Davi ao falar da benignidade de Deus, em contraste, apresenta o quadro de uma pessoa perversa, e ora pedindo o seu livramento, na certeza, mediante a fé, da queda destes perversos. “Quão preciosa é, ó Deus, a Tua benignidade, pelo que os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas. Eles se fartarão da gordura da Tua casa, e os farás beber da corrente das Tuas delícias; porque em Ti está o manancial da vida; na Tua luz veremos a luz. Não venha sobre mim o pé dos soberbos, e não me mova a mão dos ímpios. Ali caem os que praticam a iniquidade; cairão, e não se poderão levantar.” Que, sinceramente, possamos distinguir estes contrastes diante de tanta malícia e arrogância dos ímpios, e vermos que Deus realmente salva os retos e quebrantados de coração ainda hoje em nossos dias. Quando o Senhor Jesus deu início à Sua vida pública, pregando em Nazaré, Sua cidadezinha natal, num sábado - como era de costume -, Ele já realizava um intensivo trabalho, e Sua fama já corria por todas as terras em derredor. Ele ensinava em Suas sinagogas, e por todos era louvado. Nesse dia, em Nazaré, quando, pela virtude do Espírito, voltou para a Galiléia, Jesus leu um trecho do livro do profeta Isaías, anunciando o programa do Seu ministério, que dizia: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.” E, fechando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-Se. A Bíblia diz que os olhos de todos na sinagoga estavam voltados para Jesus. Os historiadores dizem que, naquele tempo, quem se sentava para instruir os outros era considerado um mestre. Aplicando esta profecia para Si mesmo, o Senhor Jesus explicou, assim, a Sua mudança de vida desde quando havia deixado Sua casa para receber o batismo de João, para espanto da parte daqueles que eram Seus próprios conterrâneos. Jesus havia sido criado entre eles. E hoje, para cada um de nós, quem é este Jesus que nos foi enviado para trazer as boas-novas aos pobres, para curar os corações quebrantados, para dar liberdade aos presos, e oprimidos, para restaurar a vista dos cegos? Quem é este Jesus para mim? Quem é este Jesus para você? Quem é este Jesus para todas as nações deste mundo espiritualmente cego, doente e escravizado por suas próprias mesquinharias? Será que este Jesus ainda é motivo de espanto, de pavor, de escárnio ou rejeição quando entre nós é mencionado o Seu nome? Até que ponto tem-nos despertado o cuidado de uns para com os outros, como membros de um mesmo corpo, no sentido de que devemos anunciar que todos somos um neste mesmo Jesus que, segundo a própria Palavra de Deus, tornou-Se o nosso Mestre, e que é para Ele que os nossos olhos devem estar voltados, e não para nenhum outro? É mesmo neste Jesus que está a nossa liberdade, a nossa vitória, a nossa esperança, e expectativas de uma nova vida transformada por meio deste mesmo Espírito que esteve sobre este mesmo Jesus, e que em cada um de nós também pode operar maravilhas, porquanto ainda hoje se cumprem estas mesmas Escrituras? Até que ponto temos a sensibilidade de vermos que em cada ato deste mesmo Jesus há sempre oportunidades de aprendermos alguma coisa? Que os ensinos deste nosso Mestre nos sirvam de reflexão para uma possível revisão de vida, de atitudes e de conceitos dentro de nós, e assim como Ele cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens, que nós, que nos consideramos crentes em Cristo, também possamos crescer em desenvolvimento intelectual, social e espiritual, e oferecer-Lhe os nossos melhores dons, ou seja, o nosso amor fraternal, para o benefício do Seu povo que, do mesmo modo, deve crescer como um corpo íntegro, são e santo para louvor, honra e glória do Seu nome e, assim, pela graça, podermos constatar a realidade da Sua salvação dia após dia dentro de nós.

REFLEXÃO DE HOJE
“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra. Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela; para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijem com ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente.” – 1Coríntios 12:12-14,18-27,31

LEITURAS DE HOJE
Salmo 36; Amós 3:1-8
1Coríntios 12:12-31; Lucas 4:14-21

NOTAS
[1] Lucas 1:1-4; Efésios 6:15-17; Hebreus 4:12; 12:15-17; 7:25; 10:24,25; 13:22; 1João 1:1-4; João 1:1; Gênesis 1:1
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1466, 1509
[2] Hebreus 11:1,2,6; Habacuque 2:4; Tiago 1:3; Romanos 5:3-5; 8:17-25
ARMELLINI, Fernando. Celebrando a Palavra. Ano C. Trad. por Comercindo B. Dalla Costa. São Paulo: AM Edições, 1996. p. 231-236
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 1477, 1325
CALVINO, JOÃO. Comentário à Sagrada Escritura. Exposição de Hebreus. 1ª ed. em português. Trad. por Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições Paracletos,1997. p. 295-308
[3] Atos 4:20; Amós 3:3,8; Salmo 36:1; Provérbios 1:7; 9:10; Salmo 111:10; Salmo 36:5,7-9,10, 1-4,12; Lucas 4:14-21; Isaías 61:1,2; 58:6;Lucas 1:51-53; Salmo 9:18; Lucas 2:52
Bíblia de Estudo de Genebra. Trad. por João Ferreira de Almeida. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. notas. p. 637, 1187, 1185
M´CAW, Leslie S. Os Salmos: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 1. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 529.Reimpressão
MACLEOD, A. J. O Evangelho Segundo São Lucas: Introdução e Comentário. In: O Novo Comentário da Bíblia, vol. 2. (editor em português R. P. Shedd). São Paulo: Vida Nova, 1963, 1990. p. 1034. Reimpressão